Nódoas Negras, até quando?

Nódoas Negras, até quando?

Sangue a escorrer pela boca, os braços e as pernas repletos de nódoas negras e áudios explicitamente reveladores de abuso sexual. Foi assim que a modelo Harriet Robson chocou as redes socias quando revelou tudo no seu Instagram. Mais um entre muitos casos de violência doméstica, só que com algumas peculiaridades pelo meio, a vítima teve a coragem que muitas vezes falta, a coragem de expor o agressor. Neste caso o alegado agressor é alguém célebre no mundo do futebol, trata-se de Mason Greenwood, um futebolista de 20 anos que jogava no Manchester United.

Vou começar por abordar um dos aspetos que me deixa mais perplexa neste caso, estamos a falar de um jovem com precisamente 20 anos, e eu questiono-me o que pode levar alguém com esta idade a ter atitudes tão repugnantes com a namorada? Como é que este ódio fermenta até tal ponto para culminar em agressões e discursos como aqueles que foram revelados? Muitas vezes a violência no namoro começa disfarçada de pequenos supostos atos de amor ou de demonstração de afeto, mas os termos “proibir”, “pressionar” e “obrigar” não entram, de todo, no vocabulário de uma relação saudável. A realidade é que cada vez mais, desde muito cedo, assistimos a relações conturbadas e deve ser desesperante escolher ficar com alguém, confiar nessa pessoa e no final perceber quem realmente ela é de uma forma tão impetuosa.

Dando continuidade a aspetos revoltantes, temos a comunicação social que não pode deixar escapar um título sensacionalista. É possível ler uma inúmera quantidade de manchetes onde diz que o jogador arruinou a sua carreira devido à denuncia, mas ninguém para para pensar na vida da vítima? Isto não é um jogo, é a vida real! Deixa-me incrédula a falta de consideração que os meios de comunicação têm pela vítima quando é ela a prejudicada desta situação e é ela que vai ficar com sequelas psicológicas para o resto da vida. Os hematomas passam, mas podem ficar sequelas como depressão, distúrbios de ansiedade, fraca memória entre muitas outras consequências que afetam drasticamente o seu dia a dia.

Considero pertinente deixar aqui um trecho daquilo que podemos ouvir no áudio gravado pela jovem para que se encare a gravidade da situação: “Abre as pernas, abre as pernas, Harriet!(…) Não quero saber se queres ter sexo comigo, ouviste? Pedi-te com modos e não quiseste. O que é que queres que eu faça mais? Empurra-me mais uma vez e vais ver o que te acontece.” Fico arrepiada com estas palavras, “Pedi-te com modos” dizia Mason aos berros. Como se o facto de ter pedido com modos justificasse todas as ações posteriores. O conteúdo divulgado mostra a violência física, sexual e emocional que alegadamente a jovem estaria a sofrer, mas que felizmente terminou na denúncia e não em morte, como acontece por vezes.

Esta dura realidade da violência contra a mulher dura há anos e,  neste caso em específico, a justiça está a começar a ser feita. O jogador foi suspenso do Manchester United, a Nike interrompeu o contrato em vigor e foi ainda retirado da base de dados do jogo Fifa 22, afinal, ninguém pode sair ileso, muito menos devido à sua profissão. Mais do que denunciar, a eliminação da violência tem que partir de quem a exerce, chega de ódio, chega de berros, chega de nódoas negras. Se estamos a evoluir como civilização porque é que estes atos bárbaros persistem?

Mariana Fontes