Tragédia é não sair à rua por estranhos só te verem nua

Tragédia é não sair à rua por estranhos só te verem nua

Segundo a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima): “O assédio sexual é todo o comportamento indesejado de carácter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.”

Se analisarmos o boletim estatístico de igualdade de género de 2017 de Portugal, percebemos que 81,3% das vítimas de abuso sexual menores de idade são mulheres.

Ainda que grande parte das vítimas sejam mulheres, existem, também, homens vítimas de assédio sexual e é preciso ressaltar isso. No entanto, existem grupos sociais bastante mais vulneráveis, como minorias, tal como membros LGBTQIA+, ou membros de minorias étnicas ou “raciais”.

Esta prática começou a ser considerada crime a partir de 2015. No entanto, isto continua a acontecer regularmente, e ultimamente, começaram a expandir as denuncias e casos em Vila Real, muitos destes que nem sequer chegam à polícia judiciaria, mas chegam às redes sociais.

Acontecimentos como este estiveram e estão a ter lugar em sítios frequentados principalmente por estudantes, muitas vezes, em locais que os tornam mais vulneráveis, locais como bares, ruas sem iluminação, ou até mesmo o caminho terrestre que muitos alunos utilizam como atalho, por vezes ao fim da tarde, que não contém qualquer iluminação ou segurança.

Existem igualmente testemunhas que me confessaram a existência de comportamentos deste tipo na praxe académica. A praxe deve obrigatoriamente representar união, confiança e bons momentos. Quando os estudantes deixam de se sentir seguros, a partir de toques que aparentam ser inocentes, palavras doces que diz ser de amigo, ou beijos forçados, deixa de ser um ambiente seguro. Deixa de ser praxe, passa a ser crime.

O assédio sexual pode-se manifestar de variadas formas. Porém, as mais comuns acontecem quase todos os dias às mulheres que aqui residem. Assédio sexual pode consistir em enviar fotos de genitais não requisitadas, perseguição, seja fisicamente, ou nas redes sociais, toques inapropriados, propostas de teor sexual e muito mais.

Estas vítimas mudam. Mudam a sua roupa, de estilo de vida, de hábitos, mudam de percurso. Para estas pessoas, um duche nunca as vai lavar da dor que lhes causaram, do nojo que sentem da sombra dos acontecimentos passados. A sua autoestima desce pelo ralo junto com a água salgada que lhes corre pela face.  A vontade de usar roupas justas, curtas ou com decotes diminui, tal como a vontade de sair da cama, ou acordar de novo amanhã. Ser uma pessoa simpática deixa de ser uma opção, pois não se quer dar uma impressão errada. Desviar o olhar para o lado e para trás vira hábito, assim como usar as chaves entre os dedos sempre que passos se ouvem em marcha incomum.

Os homens que repugnam estas ações, podem também contribuir para um ambiente mais seguro. Acompanhar as suas amigas até casa quando estas não se sentem seguras, ou até mesmo apenas atender o telemóvel sempre que possível, são simples atos que podem evitar a ruína duma alma.

Contudo, não acredito que qualquer mulher se deve vestir de qualquer outra maneira sem ser aquela que a faz sentir melhor ou parar de fazer os seus hobbies preferidos por medo.

Aquele quarto ainda te pertence, naquele bar ainda pairam memórias dos teus passos de dança despreocupados. É necessário não permitir que os agressores tomem rumo da nossa vida. A culpa não é, nem nunca será da vítima.

Mariana Viana