O melhor de Baba Yaga estava guardado para o final

O melhor de Baba Yaga estava guardado para o final

Na indústria do cinema, já velha é a lengalenga de que uma produção póstuma a uma trilogia de sucesso pode incorrer no risco de manchar a imagem de toda uma franquia. John Wick – Capítulo 4 chegou às salas de cinema e mostrou-nos o porquê dessa história já não ser assim tão linear e factual nos dias de hoje.

A quarta aparição de Baba Yaga na grande tela, estruturalmente, não foge ao que Chad Stahelski, o diretor da franquia, já nos apresentou nos três capítulos anteriores. Em jeito de contexto, Jonathan Wick foi excomungado pela The High Table (conselho que controla as organizações criminosas e os seus respetivos assassinos), e, com a cabeça a prémio, procura obter a sua liberdade.

Fiel à essência da saga, sem medo do exagero e da natureza repetitiva do desenvolver da trama, que leva sempre a um desembrulhar de núcleos de ação convergentes em certos pontos da história, o quarto e… (SPOILER!)… último capítulo da história, pelo menos Baba Yaga, expande-se numa perspetiva mais intimista. O trilho que leva John Wick a recorrer e a enfrentar velhos amigos, reatar e construir novos laços, mostra-nos esse lado mais invisível do assassino.

Passados nove anos depois de ser criado, o universo de John Wick torna-se muito mais rico. A adição de veteranos em cinema de artes marciais como Hiroyuki Sanada (Shimazu), e, principalmente, Donnie Yen (Caine), traz, para além da óbvia qualidade, uma maior validação e aproximação da franquia e do género às culturas orientais. Nota também para Rina Sawayma (Akira), que se apresenta e convence na sua estreia nos cinemas. Shamier Anderson (o ninguém) é também um dos novos talentos que entra, com certeza para ficar, neste universo cinematográfico.

Mas falar de talento e não mencionar Bill Skarsgard tornaria toda a crítica inconsequente. O ator, conhecido por interpretar o palhaço do IT, veste a pele de Marquês de Gramont, o principal antagonista da longa, e dá uma lição de como ser um “vilão de (des)respeito”. A tensão, a ansiedade e o ódio de estimação que gera no espectador sempre que aparece em cena são notáveis e é, por isso, facilmente, o maior vilão de toda a franquia John Wick.

O filme, de quase três horas de tela, é marcado pela adrenalina em forma de experiência audiovisual que, através das lutas e sequência de tiroteio memoráveis, não deixa o filme arrastar e vai ativando sempre a atenção de quem vê. Cada cena de ação é meticulosamente criada e executada. Sente-se o capricho do diretor em todos os momentos, o que faz com que nenhuma cena de luta ou tiroteio seja igual. Stahelski dá a conhecer a sua versatilidade e habilidades e, através da escolha dos posicionamentos e movimentos da câmara, torna muitas sequências de ação inesquecíveis.

A técnica usada para gravar planos sequência procura sempre filmar o trabalho dos atores e duplos da forma mais limpa possível, e chuta para canto aquela câmara tremida sem sal que desde os anos 2000 faz parte da “to do list” da maior parte dos blockbusters.

John Wick – Capítulo 4 fica marcado também por ser o último trabalho que Lance Reddick viu finalizado em vida. O ator faleceu dia 17 de março, uma semana antes desta longa estrear internacionalmente. Para a história fica o seu talento, e as atuações na série The Wire e na franquia John Wick, os dois trabalhos que o tornaram mais conhecido mundialmente, durante a sua atividade.

O maior vencedor deste filme é Keanu Reeves. Conhecido pelo seu carisma ímpar, o ator, de 58 anos, dá-se para viver o papel de John Wick de uma maneira única, atuando verdadeiramente em 90% das cenas do filme, deixando apenas 10% para os duplos. Para além do centro do universo, é também ele a principal razão do sucesso do mesmo, pois só Keanu é capaz de trazer humanidade a um personagem sobre-humano como Baba Yaga.

Em jeito de conclusão e já com mais palavras ditas que Keanu Reeves em todo o filme (380), John Wick – Capítulo 4 é o pico do género de ação. Com uma produção excelente a nível de design de som e de cinematografia, Stahelski entrega-nos uma obra de arte de ação que promete servir de base para os futuros filmes do género.     Donnie Yen abre espaço para um spin-off sobre o assassino invisual Caine, e Keanu, que até notícias em contrário, fecha o ciclo como John Wick, pelo menos em nome próprio, uma vez que, a presença de Baba Yaga já está marcada no spin-off da franquia Ballerina que será protagonizado por Ana de Armas.

Teremos mais um cheirinho de Baba Yaga, teremos mais ação!

Diogo Azevedo