Avós

Avós

Não há amor igual ao dos avós. É aquele sentimento único e especial de alguém que está na tua vida e que tem como único papel certificar-se que não te falta nada, desde um teto e uma educação, caso alguém te falhe, à terceira fatia de bolo de chocolate que está em cima da mesa de jantar, pois tens de trabalhar ou estudar e precisas de força.

São pessoas que se levantam cedo, que comem cedo, que se deitam cedo, pessoas demasiado queridas para praticarem os horários dos malandros. 

Servem para mimar, proteger do pai e da mãe que eles mesmos  criaram, servem para dar aquela nota de 20 euros escondida para um gelado, para comprar aquele doce que tu da última vez que estiveste na casa deles falaste e que eles durante a semana compraram de prepósito para ti no supermercado,  para convidar para almoçar ou para jantar em qualquer dia da semana, para contar histórias de tempos que parecem irreais, tempos de precariedade, tempos de guerra e com essas histórias dar-nos lições de moral. 

Servem para avisar daquele amigo com quem eles não simpatizaram porque eles percebem de energias e sabem que aquilo não é bom para ti. E no fim têm sempre razão!

Os avós já estão na fase nirvana da vida, em que muito pouca coisa os chateia, trabalharam tudo o que tinham para trabalhar, criaram tudo o que tinham para criar e agora estão só a viver a vida, horinha por horinha, desde ver televisão sem pressa de ir descansar, ir ao cabeleireiro só porque sim, ir até ao centro da cidade ver montras e comprar coisas para os netinhos, fazer ginástica com as amigas e marcar almoços com amigos da tropa. 

São pessoas tranquilas que passam tranquilidade, são os pilares da casa e assumem esse papel como se não lhes trouxesse peso nenhum, que traz de certeza, mas eles não o demonstram, são sábios o suficiente para não perderem tempo a tentarem salvar-nos de pequenos problemas, pelo contrário, ficam a ver e deixam-nos passar por tudo o que é suposto e depois estão prontos para nos dar porto seguro com um leite achocolatado e um abraço como se não soubessem de nada.

São pessoas puras, que nos dão a experiência de um vínculo insubstituível, daqueles que percebes que são mesmo especiais, porque quem não os tem demonstra uma mágoa e um vazio no olhar sempre que esse assunto vem a tema. Porque é triste, é triste não ter uma avó que diga que passou o dia a rezar por ti, é triste não ter um avô que foi contigo ao futebol e acima de tudo é triste pensar que qualquer dia todos nós vamos ser esta pessoa porque eles não duram para sempre.

O amor da relação netos e avós, é um amor simples, natural, confortável, quentinho, não custa nada senti-lo porque não magoa.

Nós, netos, muitas vezes não valorizamos este privilégio e damo-los como garantidos, e se há coisa que neste momento me arrependo é de naquele dia em que dei um abraço não ter dado dois, naquele dia em que não dei nenhum devia ter dado três ou quatro. Penso muito nos meus avós e em como eles são a base de quase todas as minhas memórias de infância. Penso muito nos meus avós e só consigo pensar em sorrisos, em ver aqueles dois jovens (velhinhos) agarrados um ao outro de tanto rir. Penso nos meus avós como exemplo de um amor que quero para mim, exemplo de força e garra na vida que espero um dia conseguir ter metade. 

Paula Pacheco