Psicologia et Al:  Integração – beber vs não beber

Psicologia et Al: Integração – beber vs não beber

A transição de casa para a universidade constitui uma mudança crítica na vida des jovens, por exigir o desenvolvimento de uma maior independência, autonomia e resiliência por parte des mesmes, estando dependente da qualidade de adaptação aos meios académico e social.

Segundo o modelo de retenção des alunes de Tinto (1975) a integração social está fortemente relacionada com a realização de amizades e com o nível de prazer obtido no espaço universitário (Delgado-Lobete et al., 2020). Assim, torna-se imprescindível a realização de experiências que promovam uma melhor integração des estudantes, isto é, que sejam capazes de fornecerem orientação, conhecimento, segurança e momentos lúdicos, necessários a uma experiência académica menos stressante e mais aprazível, assim como um espaço propício à formação de amizades com ês pares, já que a socialização no contexto universitário ocorre com colegas de turma, mas também com estudantes mais velhes (veteranes) que podem fornecer apoio emocional aês caloires, trazendo-lhes tranquilidade e conforto emocional (Teixeira, 2012).

No que toca à componente mais hedónica que integra a vivência académica, o consumo de álcool ocupa um papel central, uma vez que promove a formação de relações sociais e potencializa a formação de grupos (Delgado-Lobete et al., 2020). No entanto, é importante ter em conta que o consumo de bebidas alcoólicas antes da entrada para a faculdade é o melhor prenunciador de consumo de álcool entre jovens universitáries, simultaneamente com a ansiedade, impulsividade e instabilidade de humor (Soares, 2018). Consequentemente, ês universitáries com ansiedade social encontram-se mais suscetíveis ao consumo de álcool e a futuros problemas resultantes do mesmo (Soares, 2018), que se manifestam tanto a nível da saúde como a nível comportamental, potencializando prejuízos nas funções executivas (nomeadamente, a nível das memórias visual e espacial), assim como a prática de comportamentos violentos, o risco de ocorrência de acidentes e, também, de relações sexuais sem a utilização de métodos contracetivos (Yusuf & Salehumar, 2022). Além disso, problemas na educação e a obtenção de um baixo rendimento académico refletem também consequências negativas do abuso de álcool (Soares, 2018).

O contexto universitário e o desejo de formar relações sociais são em si mesmos fortes
aliciadores ao consumo de álcool e drogas que uma vez associados a comportamentos
irresponsáveis, pouco autocontrole, e a determinados traços de personalidade, podem conduzir ês estudantes a um quadro de dependência alcoólica, que pode ter um cariz ainda mais grave, se porventura, ês jovens já tenham uma pré-disposição para o desenvolvimento de uma determinada perturbação mental e caso os fatores de proteção não tenham uma presença suficientemente forte para diminuir ou neutralizar as consequências. Sobretudo, nestas circunstâncias, o consumo, tanto de álcool como de outras drogas, pode aumentar o risco de ideação suicida e de desenvolvimento de transtornos mentais; se o consumo de álcool for experimentado juntamente com outras drogas, ainda maior é o risco de estes problemas se virem a manifestar (Delgado-Lobete et al., 2020). Inclusive, vários estudos científicos demonstram que fumar tabaco sem o acompanhamento de outras substâncias, é suficiente para a previsão do abuso de álcool e drogas (Delgado-Lobete et al., 2020).

Desta forma, os fatores ambientais e individuais têm um peso importante na probabilidade de ês estudantes desenvolverem comportamentos de risco. Por exemplo, aquelus com maiores dificuldades na adaptação académica, após a saída de casa dos pais podem desenvolver uma maior propensão no que respeita ao abuso de drogas; ês estudantes que vivem longe da família e passam a morar com outres estudantes correm um risco maior de se tornarem fumadories e de consumir álcool de forma excessiva (Delgado-Lobete et al., 2020).

Ês estudantes universitáries encontram-se sobre o foco da comunidade científica, uma vez que a maioria destus estão numa etapa da vida que apresenta múltiplos desafios tanto cognitivos como afetivos e, se estus não adotarem comportamentos adaptativos, podem perder o autocontrole. Perante esta nova realidade muites estudantes afirmam que a utilização e/ou consumo de drogas possibilita olvidar situações do dia-a-dia, combinando a utilização de drogas com o consumo de álcool em prol do aumento dos efeitos pretendidos e da diminuição dos efeitos indesejados.

De facto, esta acessibilidade a locais que comercializam álcool possibilita também o contacto direto com diversos tipos de drogas permitindo esta associação nefasta, seja por influência ambiental ou social, visto que tanto o comportamento des pares como a facilidade de acesso ao álcool permite a conjugação (Zeferino et al., 2015).

Efetivamente, o ingresso na universidade proporciona um enorme crescimento a nível pessoal e profissional, contudo ês jovens enfrentam diversas mudanças no seu quotidiano, como, por exemplo, a saída de casa e o afastamento da família, a criação de novos laços de amizade, maior responsabilidade e independência, novas interações e interesses. Esta nova vivência pode comprometer a saúde dê jovem, uma vez que estes aspetos podem servir como fatores protetores ou de risco para o consumo destas substâncias (Zeferino et al., 2015).

A utilização de drogas, sejam lícitas ou ilícitas, revela ter uma enorme influência social por parte dês pares, tendo em conta que ês amigues, que usam essas substâncias, apresentam um maior consumo. Além disso, alguns estudos percecionam que existe uma influência negativa, relativamente ao consumo destas substâncias, na relação permissiva entre universitáries e consumidories assídues destas substâncias (Zeferino et al., 2015).

Nota: Neste artigo os autores optaram pela utilização de uma linguagem neutra, sobretudo em pronomes.

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Este artigo teve como referências bibliográficas:

Delgado-Lobete, L., Montes-Montes, R., Vila-Paz, A., Cruz-Valiño, J., Gándara-Gafa, B., Talavera-Valverde, M., & Santos-del-Riego, S. (2020). Individual and environmental
factors associated with tobacco smoking, alcohol abuse and illegal drug consumption in
university students: A mediating analysis. International Journal of Environmental
Research and Public Health
, 17(9), 3019. http://doi.org/10.3390/ijerph17093019.

Soares, W. D., Paz, C. J. R., Fagundes, L. C., Freitas, D. A., Jones, K. M., & Barbosa, H. A. (2018). A utilização do álcool como mediador social entre universitários. SMAD, RevistaEletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em Português), 14(4), 257-266. https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.000416.

Teixeira, M., Pereira, A., Castro, A., & Couto, A. P. (2012). Integração acadêmica e integração social nas primeiras semanas na universidade: Percepções de estudantes universitários. Revista Interinstitucional de Psicologia, 5(1), 69-85.

Yusuf, A., & Salehumar. (2022). The impact of drug abuse on society: A review on drug abuse in the context of society. International Journal of Innovative Science and Research Technology, 7(4), 2456-2165.

Zeferino, M. T., Hamilton, H., Brands, B., Wright, M. D. G. M., Cumsille, F., & Khenti, A. (2015). Consumo de drogas entre estudantes universitários: Família, espiritualidade e entretenimento moderando a influência dos pares. Texto & Contexto – Enfermagem, 24, 125-135. https://doi.org/10.1590/010407072015001150014.