Pensar na democracia é um privilégio

Pensar na democracia é um privilégio

Vestir bandeiras por vestir, carregar mensagens vazias que só servem para encher narrativas. Diria que é como viver numa ilusão que no mundo real não faz o menor sentido. Teorias são mais apelativas quando são apenas teorias e não deixam de ser mensagens bonitas e cheias de arranjos. Se muitos soubessem o poder das palavras, saberiam certamente exercer o poder da democracia. Porém, o que seria exercer devidamente a democracia? A consciência política faz parte da vivência como cidadão ativo na sociedade, é a voz que pode ser ouvida quando o barulho da corrupção é ensurdecedor.

Quando a ignorância é percetível procuramos entender, quando não há meios procuramos as bases na educação, quando o contexto é vertiginoso procuramos ver de fora. Olhos de quem procura a verdade, mas a verdade crua, não a inventada. Se hoje até a própria noção de verdade é relativa, o que é eticamente correto e o que, não é? Tudo não passa de projeções criadas para a subsistência da sociedade de massas. Claro que é fácil adquirir todas estas habilidades tendo todos os privilégios possíveis, o cenário muda se tivermos em conta aqueles que não têm o privilégio de pensar sobre a democracia. E sim, pensar politicamente é um privilégio.

Ter consciência política não é sobre ganhar “discussões” em redes sociais. Ter consciência política é ter a capacidade de distinguir as camadas que constituem o estado, não é sobre certezas, mas sobre dúvidas e questionar todas elas. Porque no final das contas, as bandeiras caem, as palavras são ditas, levam inúmeras pessoas consigo, mas morrem com o tempo. Mas o conhecimento é fértil, são recalcamentos e construídos a partir da dúvida. Por outras palavras, é uma busca sem data de término, apenas acrescenta ao espírito. As nossas ações estão mais associadas aos nossos valores, no entanto, cuidado com os valores! Os valores também devem ser questionados, são traiçoeiros e sugerem caminhos perigosos. Agir com consciência política é repensar, rebater e filtrar, são discussões sem partidos com o fim de elucidar ideias e não torna-las fixas. O propósito está no movimento de opiniões. Estar preso nas dúvidas é melhor que estar preso nas certezas.

Giovanna Querubim