Porque choramos? Nós explicamos!

Porque choramos? Nós explicamos!

Porque choramos? Uma pergunta aparentemente simples, mas no fundo tão complexa (Collier, 2024). Na verdade, por trás desse comportamento humano, tão básico, existe uma grande interseção entre a biologia, a psicologia e a cultura (Collier, 2024). Porque choramos? Nós explicamos.

Sabe-se que o choro é um comportamento catártico, isto é, tem como funcionalidade aliviar a angústia e diminuir a excitação sentida (Rottenberg et al., 2008). Além disso, este comportamento é exclusivo aos humanos (Vingerhoets & Bylsma, 2016), estando presente desde o início da vida até à fase adulta, onde pode marcar tanto os momentos mais importantes como os mais simples (Rottenberg et al., 2008). Apesar disto, ao longo da vida, o choro sofre algumas alterações, na forma como é expressado e manifestado (Vingerhoets & Bylsma, 2016). Tendencialmente, a frequência diminui com o aumento da idade (até à adolescência), aumenta a importância relativamente à sua vocalização, altera-se os antecedentes e dá-se o desenvolvimento nas diferenças de género (Vingerhoets & Bylsma, 2016).

Mas será que, por detrás deste ato tão associado à vulnerabilidade e fraqueza, reside algum benefício? A resposta é sim. Segundo Rottenberg et al. (2008), o choro tem uma grande importância para o bem-estar de cada indivíduo. Por norma, as pessoas sentem-se melhor após este ato, independentemente do sexo, apesar de as regras culturais serem mais favoráveis ao choro feminino do que ao masculino. Seguindo a mesma linha de ideias, também as teorias psicodinâmicas e as bioquímicas defendem isso (Cornélio, 2001, as cited in Rottenberg et al., 2008). As primeiras, pelo facto de percecionarem a repressão das lágrimas como algo que provoca danos psicológicos, e as segundas, através da visão que têm das lágrimas como uma forma de libertar o corpo de toxinas prejudiciais (Cornélio, 2001, as cited in Rottenberg et al., 2008).

Inúmeras são as razões que levam alguém a chorar. De acordo com Vingerhoets e Bylsma (2016), adultos, quando questionados acerca das razões que têm maior probabilidade de os fazer chorar, relataram perdas, reuniões familiares, fins de relações, filmes tristes e ainda dores físicas. Não obstante, o facto de que a maioria destes acontecimentos são raros de acontecer ou, pelo menos, não acontecem diariamente, faz com que, na maioria das vezes, as pessoas chorem, por razões mais idiossincráticas, mundanas, comuns e frequentes (Vingerhoets & Bylsma, 2016). Assim, entre as razões mais comuns que, na prática, conduzem ao choro, estão, por exemplo, conflitos, fracassos pessoais, críticas e a rejeição (Vingerhoets & Bylsma, 2016). Além disso, por norma, estão presentes um combinado de diferentes emoções, como a tristeza, a raiva e a impotência, fazendo com que as lágrimas, por vezes, possam exteriorizar sentimentos que não são capazes de serem expressados de outras formas (Vingerhoets & Bylsma, 2016). Todavia, apesar das listas universais que se possam criar, relacionadas a possíveis situações que provocam o choro, no fundo, tudo vai depender e ser influenciado pelas próprias características de cada um, como o género, a idade, a cultura, entre outros (Vingerhoets & Bylsma, 2016). 

Alguma vez te perguntaste o porquê de alguém conseguir chorar de alegria? Num estudo, cerca de 68% dos participantes relataram ter chorado face a um acontecimento feliz ou positivo (Marter, 2023). Na verdade, existem razões psicológicas e fisiológicas que explicam o motivo pelo qual é possível chorar de felicidade quando se sente alegria (Marter, 2023). Para alguns, o choro feliz pode trazer benefícios, como, por exemplo: alívio, apreço ou conexão. No entanto, para outros, também pode sinalizar um problema que requer atenção profissional (Marter, 2023). Chorar quando se está contente pode parecer “contra-intuitivo”, quando, na verdade, é uma reação normal ao sentir uma alegria avassaladora (Marter, 2023).  

Sabes quando estás a ver o Got Talent, alguém recebe o botão dourado e vêm-te as lágrimas aos olhos? A pesquisa demonstrou que pessoas altamente empáticas são mais propensas a chorar de alegria. (Denckla et al., 2014, as cited in Marter, 2023). Este tipo de choro pode ajudar na criação e desenvolvimento da intimidade emocional perante as relações, ajudando a aprofundar a conexão das mesmas (Marter, 2023). Pode, ainda, ajudar na regulação das emoções ou, por outro lado, avisar que estamos emocionalmente fora de controlo (Marter, 2023). Chorar de alegria significa que estamos vulneráveis, podendo demonstrar a nossa força e resiliência (Marter, 2023).  

Como já foi referido, as lágrimas fazem parte daquilo que é ser-se humano (Marter, 2023). Chora-se quando se está triste, quando se está com raiva, com receio, medo e, ainda, quando se está emotivo (Marter, 2023). De facto, é o cérebro humano que tem o principal papel neste processo, visto que neste se encontra a amígdala – o centro das emoções, responsável pela motivação e pelos comportamentos emocionais (Marter, 2023). Além desta, o hipotálamo, também é importante no choro, uma vez que tem a função de gerir as emoções (Marter, 2023). Mas na prática, quais são as razões biológicas para chorar? Libertar-se as emoções, por meio do choro, expulsa hormonas, como é o caso da oxitocina e das endorfinas (Marter, 2023).

Ao longo dos anos, desenvolveram-se investigações voltadas para os processos fisiológicos subjacentes ao choro e os seus substratos neurais que desencadeiam a sua produção (Bylsma et al., 2019). Sabe-se que o ser humano produz três tipos de lágrimas: as emotivas, as reflexas e as basais (Bylsma et al., 2019). Estes três tipos de lágrimas são semelhantes, tanto na sua composição química (sal, gorduras e água) como também na sua produção uma vez que, nas três, são as glândulas lacrimais que se encarregam de produzir estes diferentes tipos de choro (Bylsma et al., 2019). Abordando o lacrimejo emotivo ou psíquico, ele é desencadeado através de vocalizações de socorro (Rosa, 2024). Estes momentos de apelo, estimulam o processamento de transmissores cerebrais, como a noradrenalina e a serotonina, bem como os nervos sensoriais da córnea, no qual levam o sistema nervoso autónomo a contrair a glândula lacrimal, desencadeando a liberação de lágrimas (Rosa, 2024).

Considera-se que o choro funciona como uma libertação/descarga das tensões internas (Rosa, 2024). Trata-se de uma afirmação verdadeira visto que, através das lágrimas expulsamos o magnésio (mineral que afeta o humor), a adrenocortical (hormona que auxilia na redução do stress) e a leucina-encefalina (hormona responsável pelo sentimento de dor) (Rosa, 2024). Acrescenta-se que, quando ocorrem respirações profundas durante os momentos de choro, reduzimos o nível de cortisol no organismo (Rosa, 2024). Em seguimento, não poderíamos deixar de referir que, embora a produção de lágrimas seja o aspeto mais visível e característico deste fenómeno natural, a ativação de diversos músculos faciais é recorrente quando um indivíduo chora (Bylsma et al., 2019).

Em relação ao lacrimejo reflexo, este ocorre quando as terminações nervosas sensoriais na superfície ocular respondem a alterações no ambiente, como irritação nos olhos devido à exposição de agentes irritantes (Bylsma et al., 2019). Estes tipos de lágrimas contêm substâncias químicas que ajudam a lubrificar e proteger a superfície dos olhos (Bylsma et al., 2019). A rápida secreção do fluido pela glândula lacrimal produz lágrimas que neutralizam e lavam a película lacrimal (Bylsma et al., 2019). Por fim, o lacrimejo basal é apenas um líquido antibacteriano rico em proteínas que mantém os olhos lubrificados e livres de partículas que possam irritar o globo ocular (Rosa, 2024).

Afinal, isso de chorar traz benefícios? A verdade é que traz! O choro pode ajudar a reduzir o stress, melhorar o sono e o sistema imunológico (Marter, 2023). É uma forma de autocuidado e um mecanismo “auto-calmante”, pois liberta hormonas, como a oxitocina e endorfinas (relacionadas ao bem-estar) (Marter, 2023).

Concluindo, o choro é uma resposta natural e indispensável na vida do ser humano. Ainda que seja um comportamento que está associado à fragilidade e à vulnerabilidade, o choro é, na verdade, uma demonstração de valentia e autenticidade emocional. Trata-se de um comportamento real e comum, portanto quem não o aparenta fazer é porque o está a impedir. Por outras palavras, o choro é como se fosse um grito à vida, mas em silêncio! Por isso, chora à vontade!

Referências bibliográficas

Bylsma, L. M., Gračanin, A., & Vingerhoets, A. J. J. M. (2019). The neurobiology of human crying. Clinical Autonomic Research, 29(1), 63-73. https://doi.org/10.1007/s10286-018-0526-y

Collier, L. (2024). Por que choramos. Monitor de Psicologia, 45(2), 47. https://www.apa.org/monitor/2014/02/cry 

Marter, J. (2023, March 5). Happy crying: What tears of happiness may mean. Choosing Therapy.https://www.choosingtherapy.com/happy-crying/

Rosa, A. (2024, 24 de Fevereiro). A ciência explica: porque choramos? Lusiadas. https://www.lusiadas.pt/blog/prevencao-estilo-vida/bem-estar/ciencia-explica-porque-choramos

Rottenberg, J., Bylsma, L. M., & Vingerhoets, A. J. J. M. (2008). Is crying beneficial? Sage Journals, 17(6), 400-404. https://doi.org/10.1111/j.1467-8721.2008.00614.x

Vingerhoets, A. J. J. M. & Bylsma, L. M. (2016). The riddle of human emotional crying: A challenge for emotion researchers. Sage Journals, 8(3), 207-217. https://doi.org/10.1177/1754073915586226

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Imagem: Inês Moura