Review | De olhos postos no novo álbum dos The Smile

Review | De olhos postos no novo álbum dos The Smile

Foi no início do ano que os The Smile lançaram o disco “Wall of Eyes”, um dos mais aguardados pelo público. Para alguns, o nome da banda pode parecer, à primeira vista, desconhecido, mas é quando vemos os seus membros que tudo muda. Thom Yorke, Jonny Greenwood e o produtor Nigel Godrich fazem parte dos Radiohead, a revolucionária banda britânica que deflagrou nos anos 90, sendo o baterista Tom Skinner o único outsider.

The Smile – Wall of Eyes (2024)

A pausa feita nos Radiohead foi, talvez, a forma que os integrantes da banda arranjaram para ter um pouco mais de liberdade criativa e encontrarem novos sons para explorar, visto que o nome da antiga banda carrega um legado e um público muito grande para não existir qualquer tipo de pressão sobre os artistas. Foi então em 2022 que os The Smile lançaram o seu álbum de estreia, “A Light for Attracting Attencion”, que por si só, apresentou uma sonoridade diferente à que pode ser ouvida em “A Moon Shaped Pool”.

Tal como temos sido habituados, a produção neste projeto é completamente imaculada, cada música tem várias camadas de detalhes que não vão ser percetíveis na primeira audição. Ao longo do disco é notório o esquema não linear que as músicas apresentam, sendo um projeto de Art Rock e Post-Rock é normal a estrutura das faixas serem pouco convencionais.

É com a faixa de abertura, Wall of Eyes, que dá o tom ao resto do álbum. A guitarra acústica é o elemento que mais se destaca e que é acompanhada por uma composição de orquestra feita por Jonny Greenwood, e é assim criado um ambiente que projeta uma ideia de espaço na nossa mente. Ainda durante a mesma música, são ouvidos alguns sons pouco ortodoxos que fazem lembrar o álbum “Kid A”, em que somos projetados para um ambiente sombrio; mesmo assim, é uma faixa que fica aquém das expectativas.

Para além do instrumental, é importante salientar a importância estilística que a voz de Thom Yorke tem no projeto. Os falsetes do cantor e o reverb utilizado nas vocalizações do mesmo, têm uma enorme importância quanto à estética das músicas, transparecendo uma sonoridade ampla e mais psicadélica. Teleharmonic, é um exemplo destas escolhas estilísticas que destacam a densidade musical e as camadas de sons que se podem encontrar numa faixa, sendo fácil perdemo-nos no instrumental.

Nesta secção do projeto são apresentadas músicas mais energéticas, com uma maior proeminência da guitarra elétrica, sintetizadores e progressões de acordes estranhos. É assim estabelecida uma ligação com o estilo psych rock com as músicas “Read The Room” e “Under The Pillow”.

É já na segunda parte do álbum que, os The Smile, nos apanham de surpresa com a poderosa balada: “Friend of a Friend”. Apesar de o piano estar muito presente ao longo da música, a secção de cordas não permite que esta faixa perca a sua teatralidade. A música “I Quit” segue também a mesma linha de pensamento mas, ao mesmo tempo, contribui muito para a viagem até este ponto do projeto.

Ao longo de 2023, a banda foi mostrando alguns teasers daquilo que seria o álbum. Foi então com o primeiro single, “Bending Hectic”, que todo o entusiasmo sobre o álbum surgiu. É muito difícil transcrever para palavras este que, pessoalmente foi o melhor single do ano passado, significa para a música. A banda conseguiu extrapolar todos os limites e ideias preconcebidas que a música rock tem nos sido apresentada nos últimos anos. “Bending Hectic” inicia-se com arpeggios de uma guitarra que aparenta estar a ser afinada constantemente, complementando com a voz subtil de Thom Yorke. A faixa continua progressivamente a crescer e a ser criada uma tensão cada vez mais forte através dos violinos, até que culmina numa explosão eufórica onde todos os instrumentos se unem em distorção, criando assim, o ponto mais épico do disco.

Este é, sem qualquer tipo de dúvidas, um projeto que se vai destacar este ano, apesar de ter alguns momentos em que se dispersou um bocado. Comparativamente ao último álbum, houve uma visível evolução em termos sonoros e é brilhante a forma como o grupo está constantemente a reinventar-se.

É importante lembrar que os The Smile vão estar em Portugal durante a sua tour pela Europa, na última semana de agosto, no festival MEO Kalorama.

Rating – 9/10

Texto: Tiago Nogueira

Imagem: Direitos Reservados