Streets of Fire: uma fábula sem igual

Streets of Fire: uma fábula sem igual

Sabem aquele filme que decidem ver e ficam “que caralho é isto?” mas com um sorriso na cara porque até estão a gostar, não conhecem ninguém que já o tenha visto e passa a ser a vossa recomendação para as próximas semanas? Pronto, Streets of Fire é isso, 10/10, espero que tenham gostado desta crítica.

Não, mas a sério, Streets of Fire é um verdadeiro cult classic: receção mediana quando saiu (justamente), não cresceu em popularidade mainstream (né, Donnie Darko?), ou seja, é mantido vivo pelos fãs – como eu, ficam já a saber – e em retrospetiva não é bom mas é a sua própria cena e não há igual. Mas então, o que é o Streets of Fire? Não é nada mais, nada menos que uma fábula… de Rock ‘n Roll!

Realizado por Walter Hill e escrito pelo próprio e Larry Gross, o filme retrata o resgate da ex-namorada (Diane Lane) do protagonista (Michael Paré) após esta ter sido raptada pelo vilão (Willem Dafoe) e o seu gangue de motoqueiros a meio do concerto que dava. Lançado em 1984, o filme é um neo-noir de ação e crime que não teve sucesso.

Mas conseguem perceber o que aqui está? Temos o príncipe encantado em busca da donzela em perigo – acompanhado ao longo do filme pelo seu fiel escudeiro (Amy Madigan) – , o filme segue minimamente a estrutura da Jornada do Herói, aparenta passar-se nos anos ’50 mas apresenta a mentalidade dos anos ’80, existem casacos de cabedal, motociclos e bravado à barda e o Willem Dafoe é (surpresa, surpresa) a melhor parte do filme, ao nível da excelente/soberba/espetacular/icónica banda sonora atuada por uma banda criada especificamente para este filme – Fire Inc. –, cujo single principal ainda hoje passa na rádio: Nowhere Fast! É daqueles que transpira carisma, que diverte.

O problema é que, efetivamente, o filme não passa disto: um puré mal moído. Ideias, ideias, ideias, mas o guião não é bom, o diálogo é péssimo, notam-se as falhas de montagem, as personagens são feitas de papel e as atuações roçam o aceitável – exceção feita a Dafoe, que eleva a personagem e o filme. Por mais fanfarra que haja à volta do Rock ‘n Roll, o filme em si não é um musical e, sinceramente, ainda bem que não.

Streets of Fire, essencialmente, simplesmente não é grande coisa. Mas isso também faz parte do encanto: existe e ainda bem. De 0 a 5, 3; de 0 a 10, 7 – mas vejam, vale a pena. E para lerem algo melhor que isto, entrem aqui.

Texto: Joaquim Duarte

Imagem: Joaquim Duarte