Vamos fazer um pequeno jogo: pensa na última vez em que te riste e quais foram
os motivos para tal. Será que te riste devido a uma situação engraçada ou por causa de
uma piada? Riste-te como forma de cumprimentar alguém ou durante uma conversa? O
que será que desencadeia uma resposta fisiológica tão simples, mas tão envolvente e
complexa?
Além disso, sabias que no nosso quotidiano nos rimos várias vezes, nas mais
diversas situações, sem termos consciência disso? Neste seguimento, torna-se
interessante e necessário explorar e aprofundar esta temática.
O riso é definido como uma reação espontânea que está presente no conjunto de
respostas de qualquer pessoa e é desencadeada pelo aparecimento de construções mentais
ou psíquicas, variando consoante os diversos contextos em que a pessoa está envolvida
(Jesus, 2021). Trata-se, então, de uma expressão facial universal que manifesta uma força
mental direcionada a um objeto com uma determinada finalidade, tendo sido, ao longo do
tempo, explorada e referenciada por váries filósofes (Jesus, 2021). Além disso, é possível
observar a sua presença em obras literárias, esculturas e fotografias ao longo das décadas
(Jesus, 2021).
Enquanto expressão, o riso manifesta todo o envolvimento psicológico entre o ser
humano e o respetivo ambiente social (Jesus, 2021). Váries foram es teóriques e
investigadories que, mesmo antes do surgimento da Psicologia, se esforçaram por
compreender este conceito (Jesus, 2021). No entanto, a ascensão da Psicologia e o
desenvolvimento de outras ciências permitiram a clarificação dos termos e a dinamização
do entendimento do riso como a expressão de funções psicológicas, considerando o
envolvimento psíquico que é originado e serve de base para o riso (Jesus, 2021).
Desta forma, a presença do riso no nosso dia-a-dia é bastante evidente, dada a sua
expressão em diversas ocasiões (Jesus, 2021). A construção do riso, de uma forma geral,
deve-se à presença de fatores que facilitam a ocorrência do fenómeno, nomeadamente o
contexto social (Jesus, 2021). Estudos observacionais revelaram que o riso provém
maioritariamente de conversas, estando mais ligado a declarações e comentários, e não
tanto a piadas (Scott, 2015). De acordo com o neurobiologista Robert Provine, 80 % do
nosso riso não está relacionado com o humor, uma vez que rimos predominantemente em
ambientes sociais, em ocasiões de felicidade, prazer e brincadeiras (Scott, 2015).
É necessária a compreensão de que o riso não acontece exclusivamente em
situações de maior descontração, podendo ser desencadeado em momentos de pressão,
tensão, nervosismo e até em momentos menos apropriados (e.g. funerais) (Jesus, 2021).
Mais uma vez, a importância de compreender o fenómeno do riso está diretamente
relacionada ao contexto social, no qual se verificam as trocas de conhecimento, valores e
informações (Jesus, 2021).
Existem alguns fundamentos neurobiológicos que permitem afirmar que o riso
tem duas raízes distintas: o involuntário e o voluntário (Scott, 2015). O involuntário é o
mais antigo, sendo caracterizado como incontrolável, verdadeiro e agudo, tendo uma
duração mais longa (Scott, 2015). Por outro lado, o riso voluntário é considerado forçado
e menos longo (Scott, 2015).
Um riso ou uma gargalhada tem como função a comunicação, na qual, em certos
casos, pode substituir outras formas de expressão (e.g. um elogio, um insulto) (Jesus,
2021). Ademais, aquilo que é engraçado para uma determinada pessoa, pode não ser
engraçado para todes (Jesus, 2021). As pessoas têm diferentes gostos e diversas formas
de percecionar as coisas, e é de esperar que tenham limiares de sensibilidade diferentes,
consoante o acontecimento em questão (Jesus, 2021).
De acordo com uma revisão publicada numa revista científica intitulada como
New Ideas in Psychology, durante a evolução da espécie, o riso foi conservado pela
seleção natural, com o intuito de auxiliar a sobrevivência do ser humano (Saraiva, 2022).
Além disso, o riso pode corresponder a um indicador usado há milhões de anos, como
forma de alertar que uma possível ameaça já terminou, não havendo a necessidade de luta
ou fuga, estando a segurança restabelecida (Saraiva, 2022).
Assim sendo, o riso diminui a possibilidade de agressão e conflitos, em momentos
de inquietação com estranhos, ou mesmo quando precisamos de negar algo a alguém
(Jesus, 2021). A título de exemplo, na maioria das vezes em que nos desculpamos, rimonos, visto que permite acalmar as outras pessoas, permitindo um comportamento
amigável perante a situação delicada (Jesus, 2021).
Vários estudos revelam que indivídues socialmente dominantes (e.g. chefes,
patrões) utilizam o riso como forma de controlar es sues funcionáries (Jesus, 2021). Por
exemplo, quando une patroe se ri, es sues funcionáries tendem a rir-se da mesma forma
(Jesus, 2021).
Segundo várias investigações, para além de ser reconhecido no ser humano, o riso
foi igualmente encontrado noutros mamíferos, como em macacos e ratos (Scott, 2015). A
diferença mais evidente é que, enquanto que os animais se riem por estarem a brincar ou
a receber cócegas (facto que também acontece na nossa espécie), as pessoas riem-se
principalmente em contexto social (e.g. conversa) (Scott, 2015).
Robert Provine, tendo em conta as suas inúmeras pesquisas, afirma que temos 30
vezes mais tendência a rir se estivermos acompanhades, ao invés de estarmos sozinhes
(Scott, 2015). Quando rimos em convivência com as pessoas, raramente é apenas
derivado a piadas, mas essencialmente para demonstrar que as entendemos e que
partilhamos a mesma opinião (Scott, 2015). Em relações próximas, o riso acontece
sobretudo em momentos de contágio, ou seja, quando alguém próximo a ti se começa a
rir exuberantemente, a probabilidade de te rires da mesma forma é maior (Scott, 2015).
Rir é o melhor remédio? Uma curiosidade é que o riso tem sido utilizado como
uma ferramenta em investigações científicas, uma vez que uma pequena percentagem do
mesmo se correlaciona ao bom humor (Nogueira, 2020). Verificou-se a existência de
contribuições significativas, possibilitando a diminuição de hormonas envolvidas no
estado fisiológico do stress, o que permite reduzir a dor, aprimorar a imunidade e ainda
diminuir a pressão sanguínea (Nogueira, 2020). Deste modo, rir pode ser considerado
uma terapia no tratamento de várias doenças, demonstrando ser uma condição
preponderante na saúde da pessoa, uma vez que tem como finalidade providenciar bem-estar físico e emocional em alturas de maior sofrimento, através da indução do riso
(Nogueira, 2020).
Várias foram as curiosidades e os factos aqui descritos, que nos permitem afirmar
com clareza que o simples ato de rir acarreta importantes fenómenos fisiológicos e
psicológicos, podendo ser utilizado como ferramenta em diversos momentos da vida do
indivíduo. É essencial aprimorar o conhecimento acerca do riso e valorizar a sua função
enquanto expressão, troca de conhecimento, comunicação, adaptação ao contexto social
e promoção de bem-estar. Em jeito de conclusão, rir pode ser, efetivamente, o melhor
remédio.
Referências
Jesus, I. O. G. D. (2021). Por que rimos: Os fundamentos do riso no contexto social. Revista de
Psicologia da Unesp, 20(2), 203-227. https://www.revpsicounesp.org/index.php/revista/article/view/437/374
Nogueira, M. L. (2020). Rir é o melhor remédio: Terapia do riso na atenção a pacientes em
unidade de terapia intensiva. Temas em saúde, 20(5), 119-147.
http://dx.doi.org/10.29327/213319.20.5-7
Saraiva, J. (2022, 1 de outubro). Porque rimos? Estudo revela que é uma estratégia de
sobrevivência. Metrópoles. https://www.metropoles.com/mundo/ciencia-e-tecnologiaint/por-que-rimos-estudo-revela-que-e-uma-estrategia-de-sobrevivencia
Scott, S. (2015, março). Porque é que nos rimos [apresentação na conferência]. TED
Conferences 2015. https://www.ted.com/talks/sophie_scott_why_we_laugh?language=pt
Núcleo de Estudantes de Psicologia
Imagem: Joaquim Duarte