O pelotão do Tour descansa hoje antes da terceira e última semana. Vingegaard (Jumbo) lidera por escassos 10 segundos, Ruben Guerreiro abandonou na etapa 14, quando era 25º na geral individual.
O Tour de France completa nesta edição 110 anos de existência. Depois de ter vivido os seus tempos áureos entre a década de 50 – quando o Tour começou a ser televisionado – e a década de 80, o ciclismo passou por uma altura conturbada, vendo os seus protagonistas envolvidos em graves e intrincados casos de doping. As massas afastaram-se do ciclismo criando-se um gap geracional entre os antigos amantes da modalidade e esta nova leva de entusiastas. O duelo entre Pogacar (UAE) e Vingegaard (Jumbo) tem, comprovadamente, contribuído para o aumento da euforia em torno do ciclismo. Para termos uma ideia, se Pogacar (UAE) e Vingegaard (Jumbo) ficarem nos dois primeiros lugares, será a primeira vez que os mesmos dois protagonistas o fazem em três edições consecutivas do Tour. Em 2021, o esloveno não deu hipótese vencendo com uma margem de 5:20 para o na altura desconhecido Jonas Vingegaard (Jumbo). No ano seguinte, Pogacar (UAE) chegava como grande favorito e Vingegaard (Jumbo) não era sequer visto como elemento principal dentro da Jumbo-Visma. À medida que a prova se foi desenrolando, Roglic (Jumbo), colíder, teve um papel fulcral a desgastar Pogacar (UAE) e o jovem dinamarquês consolidou-se na alta montanha com a ajuda de Wout Van Aert (Jumbo), ganhando pela primeira vez uma Grande Volta. (“Tour de France: Unchained”, documentário sobre o Tour 2022, disponível na Netflix).
Este ano a espectativa era enorme. A edição passada foi unanimemente considerada a melhor da década, mas este ano o nível é ainda maior. Pogacar (UAE) e Vingegaard (Jumbo) bateram recordes de tempo em subidas míticas como o Tourmalet, o Grand Colombier e o Mont Blanc. À entrada para a última semana, apenas 10 segundos separam o líder Vingegaard (Jumbo) de Pogacar (UAE). É preciso recuar a 2010 para vermos uma distância menor. À data, Contador (Astana) liderava com 8 segundos de vantagem para Andy Schleck (Saxo).
O esloveno chegou a querer mostrar que já tinha deixado para trás a lesão no antebraço provocada por uma queda na Liège-Bastogne-Liège e ganhou 11 segundos nas primeiras duas etapas. A Jumbo não se deixou afetar e endureceu a corrida na etapa 5, permitindo que Vingegaard (Jumbo) ganhasse mais de um minuto e assumisse a amarela. A partir daí o campeão esloveno veio em recuperação e no dia seguinte vence a etapa e recupera 28 segundos a Vingegaard (Jumbo), somando mais 16 nas etapas 9 e 13. Finalmente, no estágio 14, Pogacar (UAE) procurava assumir a amarela e contava com a ajuda das bonificações (10 na meta e 8 no sprint intermédio). Depois de ter lançado um ataque a cerca de 500 metros do sprint intermediário, Pogacar (UAE) foi forçado a parar pela imobilidade das motas que seguiam à sua frente. Vingegaard acabou por vencer o sprint intermédio e a etapa escapou para Carlos Rodriguez (INEOS), que se aproveitou da marcação cerrada entre o esloveno e o dinamarquês.
Nota ainda para os portugueses em prova. Rúben Guerreiro (Movistar) já abandonou, mas antes ainda foi nono na etapa 12 e na etapa 6 fechou no quarto lugar, apenas atrás de Tobias Johannessen – jovem da estreante Uno X – Pogacar (UAE) e Vingegaard (Jumbo), os primeiros na classificação geral. Nelson Oliveira (Movistar) serviu como gregário de Rúben na etapa 6 e Rui Costa (Intermarché Wanty) foi ontem destaque na fuga, tentando escapar sozinho a cerca de 50 kms da meta. O ataque foi anulado pelo grupo do atual líder da camisola da montanha.
O Tour de France regressa amanhã para a última semana. Terça-feira há um contrarrelógio de 22 kms, que, devido às distâncias que se verificam de momento, pode ser decisivo. Espaço ainda para a etapa rainha desta edição do Tour, um estágio com 165 kms, duas primeiras categorias e uma categoria especial no Col de la Loze (28 kms com pendente média de 6% a 2304 metros de elevação). No sábado os ciclistas enfrentam nova etapa de montanha na antecâmara do estágio final, o habitual “passeio” de consagração dos sprinters nos Champs-Élysées.
Texto & Grafismo: Tiago Santos
Imagem: Tour de France