O Torgador sentou-se digitalmente à conversa com Alexandra Monteiro e Gabriel Pinto. A estudante do mestrado em Biologia Clínica Laboratorial e o estudante da licenciatura em Engenharia Agronómica são, respetivamente, presidente e colaborador da associação juvenil egitaniense Guarda a Terra.
A associação faz hoje, dia 18 de abril de 2023, um ano de existência. Com foco de atuação na Guarda, 2022 serviu para realizar quatro atividades: Oficina de Cogumelos, Recolha de Beatas, Alto e Bom Som e ainda Caminhar a Terra. Estabeleceram diversas parcerias para a realização destes eventos e têm oito planeados para este ano, com o webinar “Saber +” sobre gestão financeira a decorrer atualmente e uma atividade de relaxamento com a natureza, “TerraMente”, com inscrições abertas.
O Torgador veio descobrir a missão e os planos da Guarda a Terra e a maneira como esta responsabilidade afeta a vida destes jovens utadinos.
Torgador (T) – Falem-nos um bocado da associação juvenil Guarda a Terra e das vossas funções nela.
Alexandra Monteiro (AM) – A associação foi criada no dia 18 de abril [de 2022], portanto estamos quase a fazer um ano. Foi um projeto longo que começamos a idealizar em 2020, o querer “fazer algo”, querer reunir mais jovens da nossa idade para formar uma associação; isto porque, no âmbito do Covid, começamo-nos a reunir em locais que, infelizmente, se encontravam bastante poluídos. Começámos, então, a fazer alguma limpeza.
Além disto, foi um acumular de coisas. Isto começou com um grupo de amigos e este mesmo grupo foi de Erasmus e nasceu assim um desejo maior de intervir. Começámos a falar cada vez mais entre nós e a pensar “Bem, se calhar há mais pessoas que devem estar a mesma situação que nós”: a querer fazer mais, não só a nível ambiental mas também começamos a pensar noutras problemáticas, nomeadamente, a cultura, a arte, as tradições e também a valorização do interior. Esse é um foco muito especial para nós, queremos manter a Guarda uma casa para jovens. Não queremos que os jovens tenham a necessidade de se deslocar para fora, tal como a maior parte de nós porque a Guarda ainda não está preparada para dar uma vida e satisfazer as necessidades.
Somos dezasseis pessoas divididos por departamentos. Atualmente, desempenho o papel de presidente e faço parte do Departamento de Marketing; temos também o Departamento de Comunicação e Imagem, o Departamento de Voluntariado e Intercâmbio, o Departamento Cultural e Recreativo e o Departamento Pedagógico – também tentamos incidir um pouco no ensino, não só dos jovens mas no que toca a toda a população; quando tentamos mudar ideias, temos de intervir a todos os patamares.
Gabriel Pinto (GP) – Eu estou no departamento cultural e recreativo, somos responsáveis pela organização das atividades. Conheci a Alexandra e o projeto quando estive a fazer Erasmus na Polónia – foi uma sorte sermos todos do mesmo sítio.
T – Consideram que têm tido um efeito positivo na valorização da cidade da Guarda e na proatividade dos seus habitantes? Que as pessoas vos têm apoiado de braços abertos?
GP – Eu acho que sim. Na Recolha de Beatas fomos poucos participantes mas fizemos muito trabalho. Passamos ali duas horas e recolhemos, em pouco espaço, uma quantidade absurda de beatas e algumas pessoas que nos viram na rua ajudaram-nos e estavam lá connosco.
AM – Acho que ainda não estamos a ter o apoio que pretendíamos estar a ter na cidade, ainda é muito cedo. E na atividade que o Gabriel mencionou, sentimos falta de iniciativa por parte dos jovens; essa atividade foi voltada para os adolescentes das escolas secundárias e só conseguimos juntar quatro adolescentes. Tivemos algumas pessoas a abordar-nos na rua, a achar interessante aquilo que nós estávamos a fazer, mas a ajudar foram só duas crianças. Foi algo completamente novo para a cidade, algo que não estão habituados a ver e ficaram surpreendidos.
T – De que maneira a vida académica aqui na UTAD, fora da Guarda, interfere com as responsabilidades e os afazeres na associação?
GP – Eu passo mais tempo a trabalhar do que a estudar e para mim é um bocado complicado, porque também não tenho um horário muito certo. Tento ajudar no que posso e quando posso mas é complicado visto que estamos fora; se estivéssemos presentes, se calhar fazíamos mais atividades e seria outra dinâmica. Da associação, somos poucos os que estão na Guarda e fica complicado, mas estamos a trabalhar bem e a conseguir fazer.
AM – A minha situação é semelhante à do Gabriel. Estou a fazer a dissertação no Porto – já não estou em Vila Real –, estou com horário de trabalhador e torna-se muito, muito apertado conciliar. O tempo livre que que tenho é para dedicar à associação e não somos os únicos na associação que estão nesta situação. Agora que estamos com um plano de atividades muito mais completo é difícil, sim, mas depende sempre de nós, das nossas motivações e da nossa organização pessoal. Se conseguirmos ir, as coisas são possíveis.
T – Alguma vez consideraram a possibilidade de uma parceria com a UTAD ou existem impedimentos significativos?
AM – Com a UTAD em específico, não. Mas fiz parte do NEPA e falei sobre termos ali uma ponta de conexão entre Vila Real e a Guarda através das nossas duas entidades – contudo, nós ainda não temos um ano e ainda não queremos alastrar muito para além do que é a Guarda. O principal foco, com os poucos recursos que temos, é a Guarda e o interior, mais a parte da região Beirã, e só depois olhar para o resto do interior e estabelecer mais pontos de contacto com entidades. Um dos nossos objetivos é uma rede de associativismo a nível nacional, mas é um passo mais para frente.
T – Prestes a fazer um ano, pode-se dizer que a Guarda a Terra começou com os pés bem assentes no chão com cinco eventos e um prémio de cidadania jovem. O que podemos esperar para o resto de 2023?
AM – Muita vontade, acima de tudo, e muito trabalho. O ano passado, sem apoios e sem nada, fizemos quatro atividades. De momento, o nosso plano de atividades duplicou e estamos com muito trabalho em mãos – e ainda não sabemos se temos apoios!
Mas estamos positivos e achamos que é possível; se conseguirmos o ano passado sem saber nada disto, agora a saber um bocadinho mais [risos] e com a nossa motivação, é andar para a frente.
GP – É como a Xana referiu, desde que haja vontade e organização pessoal é possível. Cada um ajuda um bocadinho.
AM – Sim, nós temos as coisas programadas desde o início do ano até dezembro deste ano. Temos as reuniões definidas, temos as datas para cada tarefa e para cada atividade, tudo o que cabe a cada departamento e à direção fazer, assembleias gerais. Portanto, é tentar cumprir.
T – A comunidade estudantil da universidade certamente terá presente várias pessoas da Guarda. A associação tem as portas abertas a egitanienses utadinos que se queiram juntar?
GP – Claro que sim; quanto mais, melhor. Torna-se muito mais fácil e obviamente que se quiserem juntar que recebemos de portas abertas.
AM – De momento, ainda não acrescentamos nenhum novo membro oficialmente porque os pilares estão a ser construídos e para abrirmos as portas também temos de ter os pilares bem consistentes. Acho que já estamos a entrar num caminho em que vamos abrir as portas, já temos três pessoas da Guarda interessadas – uma das quais já tem vindo a fazer trabalho connosco. Temos tido ajuda exterior e vamos tratar das burocracias todas para pôr essas pessoas dentro, portanto, toda a gente que quiser vir nunca é “a mais”, é sempre bom.
T – Como se podem candidatar?
AM – Ainda não abrimos oficialmente as portas, mas se nos quiserem contactar através do nosso e-mail, nós sabemos que essa pessoa está interessada. Nós vamos tratar da papelada neste próximo mês, para formular a inscrição e ter tudo regularizado para podermos aceitar novos membros – mas sim, venham mais, utadinos ou de outro lado qualquer.
T – Alguma palavra final?
AM – Estudantes, caso tenham iniciativas destas, elas são possíveis de se tornarem realidade. Olhem para o associativismo e aproveitam o facto de ter uma proximidade tão grande com os núcleos da academia, não só do curso como outras secções da UTAD, para realmente porem ideias que tenham em prática.
Joaquim Duarte
Imagem: Guarda a Terra