Clarice Lispector foi uma escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia. Ao longo da sua vida escreveu contos, ensaios e romances repletos de cenas quotidianas, epifanias e traumas psicológicos.
Tive o privilégio de ler numa aula uma das suas diversas crónicas, intitulada “Literatura e Justiça”.
Neste relato, a cronista começa por falar sobre factos sociais e sentimentos. Diz querer perdoar-se por escrever tantos livros e não ser uma escritora comprometida com as questões sociais.
Toda a crónica anda em volta do poder das palavras e da escrita. A própria lamenta não conseguir escrever acerca da justiça, uma vez que para escrever precisa de se surpreender. Só que a justiça não a surpreende, pois é algo que ela considera normal e óbvio, algo pelo qual todos devemos lutar.
Para Clarice, escrever é “fazer” algo, mas não é o mesmo que tomar uma atitude/proceder a uma ação; para a autora de “Literatura e justiça”, escrever e agir são coisas distintas.
Afirma, ainda, que a justiça sempre foi importante para ela e não se envergonha de escrever, porque essa é a sua arte, reconhecendo que a sua literatura procura outra coisa.
Procedi a esta explicação da crónica de Clarice Lispector para chegar ao assunto que quero falar: o poder das palavras.
Se pensarmos bem, chegamos à conclusão que as palavras têm de facto um “peso” enorme na nossa vida. É através delas que comunicamos, que conseguimos entender o outro, que construímos e mantemos relacionamentos…
A maneira como usamos as palavras diz muito sobre nós. Quando uma pessoa é madura emocionalmente usa adequadamente o vocabulário e isso é muito bom, porque ser cuidadoso com as palavras evita feridas verbais.
O que são as feridas verbais? Todos já passamos por um momento difícil, em que deixamos as nossas emoções levarem o melhor de nós e fizemos um mau uso das palavras magoando o outro.
Por vezes, estas feridas verbais são ainda mais dolorosas e duradouras do que as físicas. Os ferimentos físicos causam uma dor no momento, mas acabam por “cicatrizar” e passado um tempo já nem nos lembramos ao certo da dor, apenas temos uma mera recordação de como foi. Já as feridas verbais ficam presas na nossa mente, algo que vamos sempre lembrar.
Além de nos sabermos expressar é importante saber ouvir. Ouvir o outro é essencial, se soubermos ouvir e escolher as palavras certas, encontraremos, certamente um maior equilíbrio.
“Saber falar é um empenho, saber escutar é uma dádiva, saber ver, ah, isso é uma arte”- Brenon Salvador
Beatriz Gomes