“Como estás?” Todos sabemos o que devemos responder a esta questão que nos colocam diariamente. Mas será que a fazes a ti próprio o suficiente? E quando a fazes, será que tendes a responder da mesma forma automática? É normal…e não devia ser. Eis o porquê.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2001), a saúde mental não é apenas a ausência de doença, mas sim um “estado de completo bem-estar físico, mental e social” no qual o indivíduo consegue enfrentar o stress do dia-a-dia, ser produtivo, perceber e ainda desenvolver as suas competências e contribuir positivamente para a sua comunidade. A saúde mental encontra-se, assim, relacionada com a maneira como as pessoas reagem às adversidades da vida, com as suas ambições, emoções, ideias e capacidades. Deste modo, saúde mental significa estar bem consigo mesmo e com os outros, saber lidar com as emoções, sejam elas positivas ou negativas, conseguir identificar os seus limites e pedir ajuda quando necessário.
A transição para a universidade é exigente! O Ensino Superior destaca-se como um momento em que a presença e o apoio social e familiar sofrem mudanças, a par das múltiplas transformações inerentes à etapa. É considerado um período de confrontação em que são colocados diversos desafios, nomeadamente a separação da família, amigos de infância e, em simultâneo, requer um estabelecimento de novas relações. Todas estas mudanças influenciam a saúde mental. Ao mesmo tempo que começamos a tornar-nos independentes e a assumir mais responsabilidades, as avaliações passam a ser mais complexas, sendo que, tanto as frequências como os trabalhos requerem outro nível de exigência, que, por vezes, acaba por causar ansiedade e exaustão. Toda esta mistura de emoções ainda se agrega à pressão que o futuro, que se aproxima, pode exercer. A incerteza se iremos gostar da área que estudámos, se iremos encontrar um bom emprego, se iremos ser bem remunerados e se todos os esforços serão recompensados. O mais preocupante nesta situação é que, por vezes, quem frequenta o ensino superior sente que não consegue lidar com todas estas mudanças. Ao invés de procurar ajuda, existe uma “romantização da psicopatologia”, ou seja, a normalização e desvalorização de perturbações da saúde mental, fazendo com que os jovens comecem a recorrer a autodiagnósticos e, consequentemente se fechem, o que resulta, muitas vezes, em quadros agravados por falta de resolução do problema.
É importante falar sobre as questões psicológicas que decorrem nas redes sociais. É muito comum ver mensagens motivadores e publicações que abordam o stress, ansiedade e depressão. Como estudantes de psicologia, percebemos que os jovens devem ter em atenção a estas publicações, sobretudo a estas últimas, pois muitas das vezes este tema é abordado de forma benévola e, por vezes, até caricata através dos “memes”. Os estudantes devem fazer destes temas normais e inclusive até brincar sobre, mas devem ter em atenção e não normalizar demasiado esta problemática. A normalização pode levar à não procura de ajuda especializada, que, consequentemente, leva à não solução da problemática. Assim, achamos que é necessário ter em conta o tipo de publicações feitas relativamente a questões psicológicas, pois os estudantes podem achar normal sofrer de ansiedade e não tomar medidas para a solucionar. Aconselhamos ainda a orientarem-se por fontes fidedignas, como o instagram da ordem dos psicólogos portugueses, ou a perceber se a fonte da publicação é segura, quando é abordado temas do foro psicológico.
O nosso cérebro em desenvolvimento, está particularmente sensível a comportamentos relativamente comuns na universidade como o binge drinking, consumo de drogas, alterações nos padrões de sono e a fatores como stressors psicossociais (Chang & Hsu, 2010). Sabemos também que a doença mental surge, maioritariamente, em jovens adultos (Kessler et al., 2007). Tendo em conta todos estes problemas e todos os desafios que enfrentamos, não surpreende que a psicopatologia esteja a aumentar em número e gravidade entre os estudantes universitários (Hunt & Eisenberg, 2010). É preocupante! Ainda para mais, como Hawton (2012) e colaboradores nos dizem, a doença mental não-tratada, ou tratada inapropriadamente encontra-se associada ao abandono escolar, adição e autoagressão.
Infelizmente, a pandemia COVID-19 acarretou também um agravamento da nossa saúde mental, registando-se um aumento dos níveis de stress, ansiedade e depressão nos universitários portugueses, de acordo com Maia e Dias (2020).
Um estudo da British Association For Counselling and Psychoterapy (Impact of Counselling on Academic Outcomes: Students, 2012) mostra que os serviços de psicologia disponibilizados em universidades inglesas tiveram um impacto muito positivo na retenção dos seus alunos, assim como no seu sucesso académico e subsequente empregabilidade! As universidades, sendo instituições que têm como propósito a formação dos indivíduos, devem estar alertas para acolher as questões relativas à saúde mental e trabalhar como uma só unidade, no sentido de reduzir os fatores que contribuem para a precariedade da saúde mental de toda a sua comunidade e, desta forma, criar um ambiente propício para melhorar a experiência universitária para todos os envolvidos.
Neste sentido, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tem disponível no âmbito da saúde e do bem-estar, os Serviços de Ação Social (SAS) da UTAD, que usufruem de uma Unidade de Saúde certificada pela Entidade Reguladora da Saúde, prestadora de serviços de saúde para toda a comunidade que envolve a academia. Nas instalações da Unidade SAS UTAD funcionam as Consultas de: Ginecologia, Enfermagem, Nutrição e Psicologia Clínica. O Gabinete de psicologia oferece serviço de consultas de psicologia clínica e aconselhamento psicológico; apoio à transição para o ensino superior e promoção do suporte social; divulgação de informação, formação e workshops; desenvolvimento de competências pessoais e sociais e desenvolvimento de competências académicas. Estas consultas estão disponíveis de 2.ª a 6.º feira das 09h00 às 16:30h.
Na nossa opinião, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro poderia melhorar em vários aspetos tendo em atenção a saúde mental dos estudantes e a promoção da mesma. Primeiramente, a sobrecarga dos estudantes, principalmente em alturas como as que acabamos de vivenciar (janeiro, fim de semestre), onde podiam ter mais em atenção ao que exigem aos estudantes e facilitar a questão dos prazos de trabalhos, por exemplo. Além disso, a UTAD poderia oferecer mais recursos para as consultas de Psicologia, bem como dinamizar a informação da existência de uma Unidade de Serviços Especializados de Psicologia (USEP). Por último, podemos ainda destacar a dinamização de palestras no âmbito da saúde mental, com o intuito de ajudar os estudantes a perceber a importância da mesma e a procurarem ajuda assim que necessitem.
Este é o espaço do Núcleo de Estudantes de Psicologia, que resulta de uma parceria com o teu jornal académico – O Torgador. Se também gostavas de protagonizar o teu espaço no jornal académico sobre temas relevantes para a academia, contacta-nos através de direcao@otorgador.pt.
Este artigo teve como referências bibliográficas:
Chang, Y. Y., & Hsu, W. H. (2018). The best of times, the worst of times: Testing which behavioral biases affect analyst forecasts. International Review of Finance, 18(4), 637–688. https://doi.org/10.1111/irfi.12168
Hawton, K., Saunders, K. E., & O’Connor, R. C. (2012). Self-harm and suicide in adolescents. The Lancet, 379(9834), 2373–2382. https://doi.org/10.1016/s0140- 6736(12)60322-5
Hunt, J., & Eisenberg, D. (2010). Mental health problems and Help-Seeking behavior among college students. Journal of Adolescent Health, 46(1), 3–10. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2009.08.008
Impact of counselling on academic outcomes: Students. (2012). BACP. Retrieved January 18, 2022, from https://www.bacp.co.uk/bacp-journals/university-and-collegecounselling/november-2012/the-impact-of-counselling-on-academic-outcomes/
Kessler, R. C., Amminger, G. P., Aguilar-Gaxiola, S., Alonso, J., Lee, S., & Ustun, T. B. (2007). Age of onset of mental disorders: a review of recent literature. Current Opinion in Psychiatry, 20(4), 359–364. https://doi.org/10.1097/yco.0b013e32816ebc8c
Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: O impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), 37. https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067
Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). (2001). Relatório sobre a saúde do mundo 2001: saúde mental: nova concepção, nova esperança [The World Health Report 2001. Mental Health: New Understanding, New Hop]. https://www.who.int/whr/2001/en/whr01_po.pdf