Redes sociais e objetificação feminina de mãos dadas

Redes sociais e objetificação feminina de mãos dadas

As redes sociais são um assunto que provoca regularmente divergências de opiniões, uns prezam pelos benefícios, e outros advertem para os malefícios, contudo hoje o tema não é propriamente este, mas sim a falta de noção das pessoas que interagem neste tipo de redes virtuais. 

Quantos de nós não publicamos fotos diariamente no Instagram, ou no Facebook, ou em qualquer outra rede social? Por vezes, até postamos fotografias de tronco nu, no caso dos rapazes ou então em biquíni no caso das raparigas, e à partida não existe qualquer tipo de problema nessa ação. O problema passa a existir quando pessoas ignorantes e sem qualquer tipo de consciência utilizam essas fotografias com o intuito de objetificar corpos para proveito próprio. 

Um exemplo desta situação aconteceu recentemente quando uma jovem publicou uma fotografia em biquíni no Instagram e mais tarde foi informada, de que essa mesma fotografia terá sido editada de forma a parecer que a rapariga estaria nua, e que foi divulgada num grupo de Telegram com milhares de pessoas. Aparentemente, o grupo referido divulga conteúdos de caráter sexual e casos como o desta jovem são recorrentes. Foram ainda divulgados prints do grupo, onde é possível percecionar a falta de humanidade das pessoas em questão. Apesar de parecer um caso isolado, é importante referir que este grupo contava no momento da postagem com cerca de 40 mil membros, um número impressionantemente repugnante de pessoas que compactam com este género de acontecimentos e que refletem a forma de pensar da sociedade atual. 

Pergunto-me como este tipo de situações ainda são tão comuns? Como é que com tanta informação ao nosso dispor ainda existem mentalidades repletas de preconceitos sobre o corpo da mulher? O sexo feminino tem lutado há séculos por direitos, pela igualdade e sobretudo por respeito, seja respeito pelo nosso trabalho, pela nossa posição na sociedade, seja pelo nosso corpo e a falta de respeito parece dissimulada em atitudes cruéis como esta. A ideia pré-concebida da supremacia masculina está longe de terminar e torna-se ainda mais difícil quando setores de entretenimento e a comunicação social continuam a produzir conteúdo que banaliza o corpo da mulher. 

Estes comportamentos são nocivos para o sexo feminino, e para além de causarem transtornos à jovem, colocam igualmente a sua integridade em causa, tal como podem afetar relações e comportamentos. Ocorrências destas desencadeiam muitas vezes problemáticas mais graves como, por exemplo, a violência contra a mulher e abusos sexuais. Apesar de ser injusto afirmar isto, tendo em conta que a solução está na mão de quem pratica estes atos e não de quem os sofre. A denuncia é crucial para que casos como este tenham fim, dar voz a estas histórias e apoiar quem as quer expor são uma forma eficaz de as disseminar.

É fundamental que se comecem a instruir os jovens no sentido de perceberem que a objetificação e o preconceito não são aceitáveis. A inércia não pode continuar a perpetuar-se e a educação é uma oportunidade para alterar as mentalidades que, infelizmente, continuam a naturalizar o machismo. É a nossa geração que tem efetivamente a responsabilidade de se posicionar e evitar que as gerações futuras continuem presas a preconceitos e a estas formas gratuitas de violência!

Mariana Fontes