“Qual é o preço da felicidade?” passamos a vida inteira a ouvir esta pergunta, retórica para muitos e com uma resposta para outros. A felicidade é um conceito ambicionado e simultaneamente diferente para todos. Cada vez mais estamos a interiorizar que este sentimento depende daquilo que já possuímos e da nossa capacidade de compra. Estamos a entrar numa onda de consumismo extremo dissimulado de felicidade.
Compramos todo o tipo de coisas possíveis e imagináveis numa tentativa inútil de preenchermos um vazio interior. Perdemos demasiado tempo a pensar no que queremos comprar, no que ainda não temos e queremos ter, resumindo, em meras futilidades. De que vale termos um armário cheio de roupa, a garagem cheia de carros ou o melhor telemóvel? Estes bens supérfluos podem-nos proporcionar uma certa estabilidade, mas não vão acrescentar em nada ao nosso crescimento interior, apenas trazem uma felicidade efémera.
O sistema capitalista intoxica a nossa capacidade de discernimento, compramos, usamos e deitamos fora, e transportamos inconscientemente este ciclo vicioso para as relações pessoais. Estamos a viver a era do narcisismo onde queremos tudo para ontem e porque sim, procuramos momentos de prazer instantâneos e não olhamos a meios para os alcançar, colocando sempre o outro em segunda lugar.
O problema central é, precisamente, o facto de o ser humano estar a tornar-se num ser fútil. Empurrado por este jogo de consumo, o individuo desvaloriza valores essenciais à vida que o podem levar a um verdadeiro estado de satisfação. Por outro lado, prioriza a imagem social e os objetos, medindo o seu grau de felicidade por meio de comparação social. O ser humano olha para os outros como se estivesse a visualizar um catálogo de seres perfeitos, e vive uma vida de aparências a tentar alcançar incessantemente essa perfeição.
Sermos possuidores de objetos imputa-nos uma falsa sensação de poder, e a situação pandémica atual, veio precisamente comprovar esta falácia. Mesmo com todos os bens matérias disponíveis esta situação deixou-nos frágeis e impotentes. Procuramos convívios, o toque, a liberdade, e rapidamente percebemos que não são os bens materiais que nos concedem este tipo de circunstâncias.
É urgente resistirmos à sedução do consumo, trará benefícios tanto para o ser humano como para o planeta, que tal como nós, está a sofrer as consequências do consumismo. Precisamos de evoluir de uma sociedade do “ter” para uma sociedade do “ser” e conscientizarmo-nos para os riscos do consumo sem critério.
Mariana Fontes