O Barco da Apropriação

O Barco da Apropriação

A recente polémica da camisola poveira apropriada por uma estilista norte-americana Tory Burch, tem feito correr muita água debaixo da ponte, o que acabou por trazer à baila a expressão de apropriação cultural. Apanhando o barco deste acontecimento, aproveito para refletir se a globalização não deveria ser um ponto de equilíbrio para que a apropriação cultural não venha a ser considerada um movimento radical/extremista.

A apropriação cultural traduz-se na adoção de elementos de uma cultura – ideias, símbolos, artefactos, imagens, sons, objetos, formas ou aspetos comportamentais – por membros de outra cultura, sem respeito pela sua origem e que, por sua vez removidos dos seus contextos culturais, podem assumir significados distintos.

Esta temática tem-se destacado nos últimos anos e a prova disso é que se realizarmos uma pesquisa rápida sobre o tema, surgem vários casos de acusações relacionados com o mesmo. Alguns desses casos incluem celebridades como a cantora Adele ao usar o penteado Bantu knots, penteado usado por mulheres africanas ou de ascendência africana, Rita Pereira ao usar um traje indiano, Kendall Jenner e kim kardashian, ambas por usar tranças e Madonna ao usar roupas e joias características do povo berbere. A verdade é que estaria aqui até amanhã só para conseguir enumerar a quantidade de acusações deste caráter, feitas tanto a celebridades como a empresas, mas como se costuma dizer, tempo é dinheiro.

Achas que usar penteados de outra cultura por questões estéticas é apropriação cultural? Achas que se as peças de roupa não envolvessem dinheiro deixariam de ser consideradas apropriação cultural?

De certo modo parece-me que esta visão de cultura se tornou um pouco restrita e está a limitar a globalização, bem como a partilha de culturas que esta acarreta, pelo que na minha ótica, estaremos a remar para um possível retrocesso.  Uma pessoa que use tranças ou um acessório de outra cultura é imediatamente acusada de apropriação cultural e muitas vezes nem sequer é refletido se a pessoa em causa está a desrespeitar a sua cultura. Numa visão mais restrita, as roupas, penteados, joias, etc, só poderiam ser consumidos pelo seu país de origem, por exemplo, em Portugal não seria possível ouvir-se funk, porque seriamos acusados de apropriação cultural.

Ainda em relação ao assunto da comercialização de uma peça de vestuário por parte da marca norte-americana Tory Burch, muito semelhante à típica camisola da Póvoa do Varzim. A verdade é que as opiniões se dividem entre uma possível apropriação de propriedade intelectual e uma apropriação cultural. Não sei quanto a vocês, mas eu cá vou ficar-me pela apropriação abusiva, que neste caso consiste em adotar um elemento sem o conhecimento do criador e posteriormente não lhe dar os louros pelo seu trabalho.

E tu quantas vezes usaste adereços de outra cultura sem saber o seu significado histórico?

É necessário respeitar cada elemento da cultura do próximo. Isto é, saber respeitar e ter consciência sobre o valor agregado daquele objeto, é um grande passo para a humanidade, pois por de trás de um objeto, existe uma bagagem histórica e cultural gigantesca, na qual pessoas lutaram e sofreram para levar aquele símbolo para a sua cultura.

Carla Castro