Um paraíso sem fala

Um paraíso sem fala

A Tailândia, conhecida pelas suas paisagens, está cada vez mais em declínio, uma vez que as questões políticas estão muito mal resolvidas. Desde 1932, que na Tailândia, o poder absoluto da monarquia foi abolido, mas não quer dizer que este deixou de existir, aliás, existe até aos dias de hoje, como em vários outros países.

Em 2014 tudo piorou. A Tailândia sofreu um golpe de Estado e, consequentemente, o poder militar aumentou, levando a um agravamento das ações do protesto. A situação ficou tão grave que o general Prayuth, primeiro-ministro desde 2014, ganhou mais poderes e agora com apenas a indicação de “manutenção da ordem pública”, consegue reprimir os opositores e os que têm ideias opostas. Este país, está tão envolvido nesta ditadura que as pessoas não têm liberdade de expressão. Quem critica a monarquia pode apanhar de 3 a 15 anos de prisão e quem pensa em ter uma atividade política, nem que seja na universidade, tem logo essa ideia descartada, pois é proibido.  

No ano passado, em 2019, houve reeleições, muito contestadas, que finalizaram com a vitória do general Prayuth, mantendo assim o seu cargo. Os jovens estão descontentes e querem um novo Parlamento para o povo. “O nosso sonho é ter uma monarquia que esteja, de facto, sobre a Constituição”.

Já este ano ocorreram inúmeras manifestações realizadas, maioritariamente, por estudantes. No entanto, em agosto, o número de pessoas a irem à manifestação aumentou consideravelmente. Os estudantes comandam este protesto e reclamam que há gente a ser perseguida, onde pelo menos, nove deles estão desaparecidos e dois tinham sido mortos. Um advogado de 34 anos, presente numa das manifestações, afirma que falam sobre este tema, mas não pretendem derrubar a monarquia, no entanto, querem corrigi-la transformando-a numa monarquia constitucional democrática.

Os artistas também não ficaram calados. Alguns atores como, por exemplo, Earth Katsamonnat Namwirote, Vachirawit Chivaaree, mais conhecido por Bright, e Watchara Sukchum, mais conhecida por Jennie, falaram sobre a situação do país em que estão a viver. Earth postou um “storie” no seu Instagram que dizia “A polícia está protegida com coletes e está a utilizar caminhões com canhões de água vs os protestantes que estão com as mãos vazias e com um guarda-chuva. Isto é o que se está a passar na Tailândia.”  Bright refere que estar livre da violência é um direito humano e ainda apela para que todos fiquem bem. À semelhança de Earth e Bright, Jennie critica o sistema político tailandês, através do seu Twitter, indicando “A intenção é, claramente, usar a violência contra o povo”. Posso ainda referir o ator e cantor Copter Panuwat Kerdthongtavee, que durante uma apresentação com o seu grupo mudou o rap para falar sobre ideologias como justiça e liberdade, e ainda levantou os 3 dedos para o ar, símbolo dos protestantes pela democracia. No dia seguinte, este foi obrigado a voltar ao seu rap antigo para que não falasse “do que não devia”. Quando chegou a sua altura de cantar, simplesmente tapou a boca com a mão durante um minuto, em forma de protesto.

É inacreditável que algo tão grave nos esteja a passar tão despercebido. Como é possível que o nosso país não receba informação de algo tão relevante.  É porque eles não têm tanta influência? Isto é de extrema importância ser revelado! Gostam de ver outros países a viverem no século XXI, com um regime idêntico àquele que vivíamos há mais de 40 anos, o regime salazarista? O facto de não termos liberdade para expressar algo banal como política é inaceitável! Como seres humanos devíamo-nos impor sobre estes temas, mas não, a maioria de nós prefere continuar na ignorância.

Tiago Ribeiro