Falso moralista? Quem? Eu?!

Esta crónica foi redigida com o propósito de fazer com que todos os leitores parem para pensar: “Serei eu falso moralista?”. Se uma em cada 100 pessoas que o são se aperceberem disso e mudarem comportamentos, ficarei feliz

Para começar, nada melhor do que definir este termo que pode parecer estranho para tanta gente. Falso moralista está descrito no dicionário como uma pessoa que prega a moral e os bons costumes, mas no seu dia-a-dia não pratica a moral que defende ou julga correta. É, portanto, aquela pessoa que nos irrita profundamente pela sua incoerência e hipocrisia. Se fosse preciso dar um exemplo, agora que está no ar a situação da Queima das Fitas do Porto, eu diria: “Elas mostraram o peito por um shot!”, diz a puritana enquanto partilha uma foto em bikini no Instragam para ter uns likes. Outro exemplo, muito comum, é o daquele senhor que critica quem doa dinheiro para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame e não ajuda as pessoas mais pobres, mas chega ao hipermercado de Porsche e não consegue dar um pacote de arroz quando há campanhas do Banco Alimentar.

Introduções e explicações à parte, parece-me certo que todos temos uma destas criaturas nas nossas vidas. Ou é a pessoa que não se consegue ver à frente, ou alguém que está no nosso grupo de amigos. Talvez seja alguém que está, neste momento, a ler este texto. “Se calhar até tu és falsa moralista”, pensará um alguém (ou vários alguéns) que acabe por ter o azar de ler esta crónica. A ti, ou a vocês, tenho a dizer que já fui, em tempos, quando queria que todos me aceitassem e gostassem de mim. Julgava e criticava situações nas quais acabava por me ver metida. Entretanto passou. Se acho estúpido A, critico A e nunca faço A. Se gosto de B, assumo-o e lido com as consequências.

Combater o falso moralismo pode parecer complicado (quase inatingível!). Eu aconselho começar a agir conforme o que se pensa e diz. Eu sei que pode parecer uma ideia absurda para quem passa a vida a tentar mostrar aos outros uma pessoa que, na verdade, não é.

Falsos moralistas há em todo o lado. Podemos encontrá-los no senhor de 30 anos que critica os jovens que não cedem o lugar a um idoso, enquanto permanece sentado no banco. Na senhora que decide intitular a empregada de café de “mal-educada” porque a rapariga lhe respondeu exatamente no mesmo tom. Na menina que afasta os amigos e depois se queixa ao mundo que eles estão afastados. Cabe-nos a nós educar e elucidar essas pessoas, para que entendam o ridículo, ou ignorá-las, porque é o que elas realmente merecem. Há pessoas que não valem a pena o esforço.

Maria Lopes