Queria começar este texto pela pergunta que espero conseguir responder no final de mais uma reflexão fastidiosa: Seremos nós educadores ou educandos da sociedade?
Aproveitando esta onda de propaganda e confusão com o dia da mulher, o dia de luto contra a violência doméstica, e que “devia haver também o dia do homem”, “é isto a igualdade género?” e patati patatá, vou fazer um esforço de deixar as minhas ideias feministas de lado e concentrar-me no mais importante. Há dias que anda a passar uma publicidade da MEO sobre as vítimas da violência doméstica e para ajudar basta mandar uma mensagem gratuita com um dos nomes que lá aparece (referindo que senti pessoalmente o anúncio por um dos nomes ser Francisca) e ficamos com o waiting ring de um discurso de denúncia de um dos inúmeros destes casos. Esta “Francisca” e esta “Ângela” causaram uma troca de ideias acesa entre mim e os meus superiores (completamente dispensável o desfecho) que me levaram á conclusão de que, atualmente, as nossas ideias são tão dispares das pessoas que nos educaram, que será que deixamos de ser educados por eles e passamos a ser educados pela sociedade? Sociedade esta que insistimos em dizer que também ela precisa de educação, que não está correta, que é “antiga” e ao mesmo tempo tão “moderna”.
Vivemos num Jardim de Infância de novo, onde temos de reaprender as coisas básicas, neste caso, da vida atual, a diferença é que em vez de termos um educador, somos nós que na maior parte das vezes temos de educar. Não foi sozinhos que aprendemos a respeitar a comunidade LGTB, nem a odiar o Trump ou o Bolsonaro, nem a pensar em agir de imediato quando presenciamos algum tipo de violência. Somos educandos da sociedade, a nossa opinião forma-se consoante o que ouvimos, vemos, lemos. Cada opinião é mais vincada quanto maior e mais pessoalmente confiante for a fonte. Mas somos educadores quando temos de ensinar aos mais velhos que os tempos são outros, e que o amor não tem género, que um ditador e um racista não são superiores a uma mulher só por serem do “sexo mais forte”, que entre marido e mulher (e irmãos, primos, namorados, o que seja) mete-se a colher e o faqueiro inteiro se for preciso. Já dizia José Saramago “Estabeleceu-se e orientou-se uma tendência para a preguiça intelectual e nessa tendência os meios de comunicação têm uma responsabilidade.” Os meios de comunicação são a sociedade, as redes sociais são a sociedade, os amigos são sociedade. Tudo é sociedade. Somos e pensamos aquilo que querem que pensemos, por muito que lutemos contra isso. O diferente agora é banal, o impensável agora é provável.
Aprendemos e ensinamos. Somos professores e alunos. Idade e vivência já não querem, indiscutivelmente, dizer sabedoria total. “Para termos uma noção do pouco que valemos, basta subtrair ao que somos o que aprendemos, o que lemos, o que vivemos com os outros. É só ver o que fica. Coisa pouca. Sozinho quase ninguém é quase nada. É somente juntos que podemos ser alguma coisa.” (Miguel Esteves Cardoso).
Com isto, quero apenas poder responder que sou educanda e educadora, e que sempre assim será, até ao fim dos tempos. Não nos deixemos limitar pela opinião alheia, e não tenhamos medo de afirmar que somos inspirados a pensar de determinado modo, tudo é errado e nada é certo.
Francisca Graça