Não somos 11, somos 11 milhões! #númeronegro

A verdade é uma: ela é dura, ela é crua!
Não vivemos num mundo sensato: vivemos num mundo sem amor, coberto de banalidades, de ciúmes, de ódio e principalmente de injustiças!
Todos os dias somos maltratadas, abusadas, ignoradas, violadas, humilhadas, assediadas, castigadas, torturadas e mortas. Sim, somos nós: AS MULHERES!
Porque é que a nossa vida continua a não valer nada? Caímos no ridículo de sermos mortas por tudo e por nada! Em 2018, foram mortas 28 mulheres por violência doméstica. Estamos em 2019, passaram-se dois meses desde o início do ano e já somos 11… o que nos espera nos restantes dez meses?
Porque é que esta violência ainda continua a acontecer? Porque é que todos os dias ainda somos abordados com estas notícias? Com estas mortes? Como é que a criação de organizações e movimentos de apoio às vítimas não tem travado o aumento de casos por ano? Como é que chegamos a 30 mil queixas na GNR de violência doméstica e não se faz nada? Porque não damos uma resposta e auxílio à vítima? Porque defendemos o agressor? Porque não interferimos na relação de outros, quando é visível o sofrimento da vítima? É assim tão errada essa intervenção? Não será necessária? Urgente? Mas quem somos nós para interferir? Quem somos nós? Não somos ninguém! Mas por vezes, faz falta esse ninguém!
O problema é que essa intervenção de outros, as queixas das vítimas não valerão de nada, enquanto continuarem a existir pessoas como o nosso:

Caro Srº Doutor Juiz, Neto de Moura:
E benevolente fui eu, em chamar-lhe pessoa. Isto é para si! A si me dirijo.
Que tamanha falta de respeito tem você pelas mulheres! Quem é você?
Deixe-me que o apresente devidamente aos meus leitores. É um cobarde! Chamar-lhe juiz, tem mais piada que os seguidores fiéis à corrupção de José Sócrates, aqueles que ainda acreditam que ele está inocente.
E a minha revolta por si, deixe-me arranjar uma forma carinhosa de o tratar, portanto … seu nada?, centra-se num caso que julgou recentemente de violência doméstica. E mais certo é eu ganhar o Euromilhões, sem jogar, do que você ganhar um pouco de noção.
Em causa está uma agressão violenta a uma mulher. O marido agredia-a há mais de cinco anos, violência física e verbal, ameaçando-a inclusive de morte, mesmo quando a vítima estava grávida! Num destes últimos episódios, desferiu-lhe vários socos na cabeça e perfurou-lhe um tímpano com uma bofetada. Em primeira instância, o tribunal aplicou uma pena suspensa de três anos ao agressor, pulseira eletrónica e uma coima de 2.500€. Em estupidez pura, Neto de Moura, retira a pulseira eletrónica e reduz o período de aproximação à vítima, para um ano. E em que ele se baseou? Nas promessas do agressor em deixar a vítima em paz e tratar do seu problema de alcoolismo, admitindo ele ser a verdadeira causa para todos os episódios de violência física e verbal cometidos à ex-mulher. E com isto percebemos, que Neto de Moura, dia 24 de dezembro ainda deixa um copo de leite e umas bolachas, à espera que o Pai Natal o visite e lhe deixe uma prenda por ser um menino bem-comportado!
Mas há mais! Calma … a ignorância já aumentou para outro nível completamente absurdo, agora estamos ao nível de Bruno de Carvalho! Neste mesmo julgamento ainda refere que, o único caso de violência física foi registado apenas uma vez, em abril do ano passado, e que o resto “são apenas ofensas verbais e ameaças”. O resto? Este simples “resto” é o todo! Se não entende isso, por favor, faça um favor a todos nós e simplesmente não julgue mais casos desta natureza.
Você é que é uma ofensa para as Mulheres. Nunca se defende os agressores, defende-se as vítimas! Isto é tão sagrado como o Marcelo Rebelo de Sousa beijar 50 pessoas por dia.  Porque neste momento, esta mulher, esta vítima, encontra-se escondida, com medo de morrer às mãos do ex-marido. E nem as queixas apresentadas, nem o tribunal a defende. E se ela for a vítima número 12 deste ano, terá sangue nas mãos! Correção: Mais sangue nas mãos!
E todas aquelas perguntas, que inicialmente coloquei, afinal são fáceis de responder: estes episódios continuam a acontecer, esta violência continua a existir, porque a lei não nos protege, às vítimas, protege os agressores (afinal espancar uma mulher até à morte deve ser bastante exaustivo). Aliás, qualquer dia estas agressões ainda são patrocinadas pela Prozis, que não tarda em lançar um suplemento para os agressores ganharem mais resistência.
No Euro 2016, a Federação Portuguesa de Futebol, na qual Portugal se sagrou Campeão Europeu, usou uma campanha também ela vencedora de prémios de marketing da UEFA “Kiss Marketing Awards”. Quem não ses lembra do: “Não somos 11, somos 11 milhões”. Mas isso foi sagrado porque falávamos de futebol. Mas talvez agora, fosse também importante voltar a este lema que percorreu o país, lembrem-se que não somos 11, somos 11 milhões. Não foram apenas 11 vítimas …  porque todos nós poderemos ser a vítima, um dia!

Vera Oliveira