Em maio de 2018 o tema que mais preenchia as capas de jornais era a eutanásia, responsável por causar debate não só entre o governo português como também entre os cidadãos. No entanto, apesar dos meses terem passado, é um assunto bomba-relógio que a qualquer altura pode detonar outra vez. É uma questão que embora não esteja continuadamente em discussão nunca perde a sua atualidade, dado haver sempre doentes cuja expectativa de recuperação é nula, na qual a única esperança para acabar com o seu sofrimento é que alguém o faça por eles.
O caráter polémico desta ideia originou diversas manifestações que rapidamente se tornaram virais. A imagem de um desses manifestos que mais me marcou foi a de uma jovem rapariga que segurava um cartaz onde se podia ler “por favor não matem os velhinhos”. Algo que me chocou não só pela falta de informação acerca do que significa este conceito, mas também pela idade da menina, que à partida deveria ter mais instrução que aquela que ali apresentava.
Aquilo que mais me choca e custa entender sobre o tema em questão é o facto de as pessoas quererem decidir a todo o custo algo que simplesmente não lhes diz respeito. É-me difícil perceber como é que alguém se acha no direito de determinar um aspeto crucial sobre a vida de outra pessoa, ao ponto de ir para as ruas lutar pelo seu ponto de vista, quando muitas vezes não o faz por outros assuntos que realmente afetam o seu dia-a-dia. Pessoas contra a eutanásia deveriam entrar em contacto com quem quer optar por essa saída, perceber aquilo que lhes vai na cabeça, as condições em que vivem e que os levam a querer seguir esse destino. Talvez somente aí conseguissem entender os seus motivos e serem simpatizantes com esta “causa”. Aliás, nem era preciso chegar a esse ponto. Bastava porem-se no lugar dos outros, imaginarem-se, por exemplo, tetraplégicos, imaginarem precisar de cuidados de outros seres humanos vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Viverem dependentes de alguém para sempre! Precisar de auxílio para realizar necessidades humanas básicas como comer, necessidades fisiológicas, higiene pessoal. Não conseguirem andar, pegar num livro, mudar o canal da televisão, coçarem-se, ajeitar a almofada para adormecer. Verem a vida a passar diante dos seus olhos e não a conseguirem viver. Pelo menos da maneira que queriam. E é claro que muito provavelmente há quem seja tetraplégico e lide bem com isso, mas é nos que não lidam que temos de pensar. Naqueles que não querem ficar mais aqui, mas que são obrigados. Ou então em doentes em estado terminal, que já só esperam a morte, mas que, no entanto, esperam-na com dores agoniantes dia após dia.
Acredito fielmente que o motivo da maioria dos cidadãos serem anti eutanásia – para além da religião – se deva à falta de conhecimento sobre a questão, tal como o exemplo que referi em cima. Legalizar a eutanásia não seria matar toda a gente que queira morrer, nem certamente seria “matar os velhinhos” só porque já estão na última fase das suas vidas. Não seria acabar com a vida de pessoas que estão numa depressão, por exemplo, e que veem o suicídio como única saída. Não!
É extremamente importante compreender que legalizar a eutanásia seria dar uma oportunidade a indivíduos que já não têm qualquer controlo sobre as suas vidas de poder decidir algo por si mesmos. Pessoas que obviamente teriam de ser avaliadas psicologicamente para perceber até que ponto é que têm a certeza daquilo que querem fazer. Seria dar uma voz a quem sente que esta lhe foi tirada há muito tempo.
Os portugueses precisam de abrir mentalidades, de não terem medo da mudança, de procurarem melhorar e progredir enquanto seres humanos.
Rita Magalhães