Onde vamos viver amanhã?

Estamos numa pequena cidade. Temos vários caminhos, desde os que podem levar-nos às mais belas maravilhas da natureza, até aos que nos transportam à obra humana. Temos a possibilidade e o privilégio de decidir por qual pretendemos seguir e, no entanto, encontramo–nos a caminhar para o beco sem saída. Este beco é onde o nosso planeta está neste momento.

O ano que fica para trás não foi dos mais favoráveis para a mãe Natureza e o ano que ainda agora começou continua com os velhos hábitos.

Em Portugal, 2017 foi um ano que deu o maior abre olhos para as alterações climáticas. A vaga de calor que se iniciou em junho e apenas terminou em outubro prolongou um verão que começou e terminou com incêndios. Vidas humanas, animais, espécies vegetais e bens materiais perderam-se devido ao típico procrastinar português em relação ao tratamento e limpeza das florestas. Foi esta mesma vaga de calor que resultou num período de seca extrema em todo o território, que atrasou as produções agrícolas nacionais e que causou um agravamento da qualidade do ar. Em matéria de incêndios, o resto do mundo não foi poupado e também se viu atingido pelo inferno das chamas: Espanha que viu juntar às altas temperaturas as cinzas dos incêndios portugueses que resultou numa conjugação incendiária e o incêndio “Thomas” na Califórnia torna-se o maior da história do estado norte-americano.

Depois do frio equatorial veio o calor soviético: os Estados Unidos vêem-se atingidos por uma vaga de frio, com temperaturas a atingirem os 30 graus negativos, que circunscreve milhões de americanos às suas casas e cai neve no deserto mais quente do mundo. Não há um meio termo e aqui temos a prova viva de que estamos já a viver com apenas 2 estações do ano, o verão e o inverno.

E é quando o planeta treme que nós tememos. Os tremores de terra são fenómenos que têm vindo a tornar-se cada vez mais frequentes e que estão cada vez mais dispersos por todo o globo. Em território nacional, os especialistas prevêem a ocorrência de sismos idênticos ao de Lisboa de 1755 na região Centro, deixando rastos de destruição e prejuízos humanos e materiais. Foi ainda esta semana que se evacuou o Estádio António Coimbra Mota no intervalo do jogo FC Porto – Estoril, devido a fissuras na bancada que podem estar ligadas ao sismo de Arraiolos que aconteceu na manhã do mesmo dia.

As tempestades são cada vez mais agrestes e até já exigem uma designação própria, como se de pessoas se tratassem e agora estão a chamar à atenção dos governos para a sua atuação e preparação de medidas preventivas antes que cheguem aos seus territórios. A política nunca encarou de tão perto a causa ambiental como agora e até há quem tenha ‘colocado uns óculos’ em matéria de acordos sobre alterações climáticas, sendo caso para dizer “Never say never, Mr. Trump”.

Neste beco sem saída em que nos encontramos, devemos olhar para o todo com detalhe: a poluição, o aquecimento global, a exploração desmesurada dos recursos naturais, a extinção das espécies e a superpopulação são tudo ocorrências que se sucederam a partir da ação humana sobre a Natureza. São as consequências da ambição desmedida e da insatisfação insaciável do Homem em relação ao que tem à sua disposição. No entanto, há que parar e refletir sobre o futuro e para onde nos estamos a dirigir. Questionarmo-nos sobre as nossas ações para com o planeta em que vivemos, pois por enquanto é o único que temos à nossa disposição para o devir. E que tudo o que fica para trás sirva de lição para o futuro. Estamos a caminhar para um beco sem saída, mas sempre podemos dar meia volta e optar por enveredar pelo caminho que nos leve onde vamos viver amanhã.

Daniela Tomás