Por nós e para nós

Acordei. Vou para a cozinha tomar o pequeno-almoço e enquanto estou a beber o meu café olho à volta e reparo nas montanhas que, outrora verdes, agora estão brancas. Pelos vistos nevou! Este ritual já virou parte da minha rotina, não há nada que me possa surpreender. Aposto que não sou a única com este sentimento de indiferença, muitas pessoas devem fazer as mesmas coisas todos os dias e, possivelmente, gostam disso. Bem, eu não gosto. Não gosto do facto de sentir que já nada me incomoda, que as mudanças nunca cá chegam, esta passividade aborrece-me.

Sempre me disseram que a inspiração vem de onde menos esperamos e a minha chegou quando o autocarro, um dos poucos existentes, estava já atrasado. Morar numa aldeia que ganhou o estatuto de vila por um motivo que muitos habitantes ainda não compreenderam parece não ter mudado muita coisa por estes lados. Nascida e criada numa aldeia com cerca de 2 mil habitantes, população maioritariamente idosa, não há nada que ninguém saiba, não há como guardar segredos. Morar num sítio como estes é pedir para ser reconhecida na rua, não podes ser diferente e, se isso acontecer, acredita, a tua reputação é arrastada para a lama. Nunca ouviram dizer que quem conta um conto acrescenta um ponto?

Por isso, quando alguém que morou numa pequena vila como eu transita para a grande cidade sente as diferenças e apercebemo-nos como o interior é deixado de lado. Os transportes em vez de passarem a cada 3 horas passam quase de minuto em minuto, já para não falar da concentração de lojas. Há comércio em todo o lado, podes comprar o que quiseres, até os produtos mais escassos. A paisagem verdejante, cheia de serras e árvores dá lugar aos enormes arranha-céus, que parecem crescer cada vez mais. A saudação simpática das pessoas que passam por nós já não existe, nas grandes cidades tu és apenas mais um ser insignificante que está ali para poder ganhar a vida. Conhecer os nossos vizinhos e falar com eles sobre as últimas novidades é impossível, se tu conheceres os teus vizinhos já é uma sorte.

Muitas vezes pensei que a agitação da cidade iria acabar com o meu sentimento de passividade, mas percebi que o problema não era o local onde morava, mas sim meu. Podes morar na maior cidade do país ou na aldeia mais esquecida de Portugal, o sentimento de indiferença que tens não irá mudar, para isso ser possível, tens de agir, mudar o teu mundo. Tanto as grandes zonas metropolitanas ou as zonas do interior têm as suas desvantagens e vantagens, mas se queremos que estas clivagens deixem de existir temos de lutar por isso. É hora de as pessoas serem ouvidas, é a altura do interior mostrar as suas qualidades e dizer que não quer ser mais esquecido.

Com ou sem sentimento de passividade temos de mostrar, quer sejamos do Norte ou do Sul, que ninguém pode ser esquecido, que há mudanças que têm se ser feitas, não apenas por e para nós, mas para as gerações futuras. Não podemos deixar que tudo se mantenha igual. O ser humano está sempre a evoluir e as nossas localidades têm de evoluir connosco.

Andreia Coutinho