A palavra. Uma única palavra. O poder que ela tem de arma destrutiva ou de um tiro de carinho e amor. O abraço mais reconfortante de quem está longe ou o distanciamento frio nas situações de crise, raiva e ira.
A palavra que nesta altura é uma chave importante para o pequeno reconforto que procuramos. As palavras que nos ordenam e comandam, as palavras de alegria ou tristeza noticiadas, as que nos ajudam e que lutam por nós, as que nos aconselham e recebem.
A palavra: a meu ver, é a maior arma que o Homem tem escondido no seu bolso. Aquela palavra cuspida num momento de dor, disparada para acertar e remexer o psicológico de qualquer um, a picada sentida no coração que acaba por imobilizar e gelar todo o nosso corpo quando é lida ou ouvida da maneira mais sufocante que conseguimos conhecer. Sendo que quem ganha é sempre aquele que usufrui da habilidade de saber jogar com palavras marcantes nos momentos fatais, acabando por fundir um desequilíbrio do nosso corpo, fazendo-nos cair num precipício sem fim com uma queda lenta e dolorosa. De saber louvar as palavras marcadas pela conexão de uma paixão louca e fervorosa que nos acelera o batimento cardíaco e uma respiração explosiva, que insere um fogo de artifício interior e uma espécie das tais borboletas na barriga, que nos aquece as bochechas vermelhas e nos oferece um sorriso carinhoso e envergonhado.
São estas tais, todas elas, de todo o tipo, ditas de todas as formas, que nos tornam quem somos, que nos obrigam a expressar através delas (de si?) e a acreditar nelas mesmas. É através destes vocábulos que expomos os nossos sentimentos de todas as maneiras. Que transpomos a dor sentida quando perdemos uma pétala da nossa alma, quando choramos as nossas perdas e os nossos objetivos incansavelmente inalcançáveis, que absorvemos as maiores mágoas e acumulamos uma raiva louca que discorda e rejeita totalmente o que se recebeu nos ouvidos. É através destas que ditamos um passado traumático, que contamos paixões, aventuras, momentos vividos e sonhos sonhados. É a partir destas que recitamos a boa educação ou as palavras grandes más explosivas, que falamos de um amor sentido e vivido tão calorosamente enorme que sentimos as nossas veias imóveis e aos saltos de compaixão e reciprocidade.
Sim, tão bom que é, sentir o suspiro de um sussurro acolhedor a entrar pelo nosso corpo e oferecer um arrepio na espinha, deixando-nos quietos e parados, a sonhar que essa sensação nunca disperse. Tão bom que é podermos expelir as palavras feridas, zangadas, rancorosas e guardadas, acumuladas e maldosas quando essa sensação tem de ir embora e parte, deixando um vazio esquisito e solitário em nós. Tão bom que é quando sai o grito interior que nos estrangulava e nos fornecia pontadas no coração, o grito de destruição, o grito da libertação de um peso, é o grito da libertação de um peso através das palavras.
Então é isto, é assim e sempre será o poder infinito das palavras, aquele que usufruímos e utilizamos sem pensar, que nunca demos valor ou atenção, aquele que recebemos como flechas projetadas sem raciocinar, aquele que nunca demos valor mas que se pensarmos por um pouco iremos descobrir e agradecer pelo papel essencial que estas têm. As palavras reviram o nosso mundo, são a chave para a mudança e a porta de conhecimento. São fortes, fazem-nos fortes, mudam-nos, amadurecem-nos. Escrevam, falem, exponham. Nunca silêncio, ele é doloroso, mas isso já fica para próxima vez.
Maria Faria