Marina Machete apresenta-se como a mais recente vencedora do concurso Miss Portugal 2023 e a primeira transgénero a ficar no top 20 do concurso Miss Universo.
A jovem de 28 anos segue a carreira de modelo e exerce a profissão de Assistente de Bordo. Nascida em Palmela, Setúbal, nas suas redes socias dá enfoque ao lema “Abraçar a Equidade”, que levou consigo até El Salvador, quando representou Portugal no concurso “Miss Universo 2023”, no dia 18 de novembro.
Devido a opiniões controversas, com discursos transfóbicos de um lado e aplausos merecedores do outro, urge informar este tema, que se divulga com um formato polémico. No entanto, a nossa crónica realiza-se com o enfoque na Marina, na medida em que, centrar-se-á nesta como figura representativa do poder trans.
Durante muito tempo, os concursos de beleza foram caracterizados pela representação de um único padrão de beleza, muitas vezes inatingível. Isto é, as participantes eram selecionadas com base em critérios estritamente estereotipados nos papéis de género tradicionais. No entanto, essa visão, ínfima e obscena, está a ser cada vez mais desafiada, e a inclusão de pessoas trans revela-se como oportunidade de ampliar a definição de beleza e, ao mesmo tempo, promover a igualdade de oportunidades.
A sociedade está em constante desenvolvimento e com isso surge a necessidade de contestar os padrões estabelecidos. Um dos espaços em que essa mudança se tem demonstrado cada vez mais relevante e imprescindível é nos concursos de beleza. A inclusão de pessoas trans nesses eventos torna-se um passo essencial rumo à aceitação e, principalmente, inclusão da diversidade.
Ao possibilitar que indivíduos trans participem em competições de beleza, estamos a reconhecer a sua existência. Essa integração transforma-se na afirmação de que todas as identidades de género são válidas e merecem do mesmo modo visibilidade. Além disso, manifesta-se tanto uma oportunidade de quebrar os estereótipos como de educar a sociedade a respeito da diversidade.
A sua participação em concursos de beleza demonstra-se igualmente um instrumento de empoderamento. Ao revolucionar as normas pré-estabelecidas, essas pessoas estão a reivindicar o seu espaço e a expor ao mundo que a beleza não está restrita a uma única definição. Portanto, a sua inclusão nestes formatos competitivos torna-se mais do que uma questão de representatividade, compete como uma possibilidade de promover a igualdade e a equidade, ao mesmo tempo que se combate a violência
estrutural. Desta forma, estas competições assumem o poder de questionar os conceitos de beleza e género, ao permitir abraçar a inclusão.
Essa visibilidade e, acima de tudo, reconhecimento promove a aceitação e a tolerância, desconstruindo preconceitos enraizados. Ao ver pessoas trans a competir e a destacarem-se em ambientes tradicionalmente restritos, a sociedade é desafiada a repensar as suas visões e comportamentos, no que diz respeito a identidade de género. Para além disso, consequentemente, um grande número de pessoas irá sentir que não trava esta luta sozinho e que existe, efetivamente, espaço para a humanidade nas distintas esferas da sociedade.
Núcleo de Estudantes de Serviço Social