Querido Diário, perdi a conta dos anos que já não escrevo aqui. Talvez seja porque cresci, amadureci e mudei ao longo do tempo. Mas não te preocupes, nunca te esqueci.
Tenho tanto para te contar, mas não sabia se ainda terias paciência e tempo para me ouvir, visto que muitas outras pessoas te escrevem, neste momento. Talvez te lembres do que eu te contava, há muito tempo, sobre cada detalhe do meu dia. Levava-te comigo sempre, mas, ainda assim, chegava a casa e não me cansava da tua companhia. Eras o meu refúgio. Em cada folha, encontrava um novo e bonito pormenor, por mais pequeno que fosse.
Na tua ausência, pensei como seria chegar a casa e ter-te. Nem que fosse por um bocadinho. Olhar para ti, folhear-te, escrever-te e até desenhar-te, quando me faltassem as palavras. Costumava dizer que tudo era um mar de rosas porque nada me faltava. Tinha tudo o que poderia encontrar num simples caderno com folhas simples que se iam tornando complexas à medida que ia escrevendo. Tinha um toque especial a cada dia. Talvez porque todos os dias eram distintos e isso fazia toda a diferença na nossa relação. Desculpa, história!
A verdade é que nem tudo é como queríamos que fosse. Pensamos que podemos ter o Mundo nas mãos e controlá-lo, mas acaba por ser sempre ele a fazê-lo. Estou numa fase estável, onde a única coisa que me preenche é sentir paz onde quer que esteja. Sentir paz em casa. Sentir paz no trabalho. Sentir paz quando saio e não sei a que horas volto. Sentir paz em ser eu e saber que tudo o que fiz até agora, teve um propósito. Encontrei-te, perdido numa das minhas gavetas, e já não te consigo arrumar. Não só por teres em ti todas as minhas memórias mais bonitas, mas porque me deste a paz que eu procuro agora.
Inês Silva