Costuma-se dizer que avós são pais duas vezes e eu não podia concordar mais. São tantas as recordações, carregadas de amor, partilha e cumplicidade, que vivemos do lado deles, que se tornam os momentos mais importantes e marcantes na nossa infância.
Quando nascemos, debruçamo-nos no peito materno, durante uns meses, mas, quando esse tempo termina, é o colo dos avós que procuramos, já que os pais não têm a mesma disponibilidade e paciência. Além dessas virtudes, não é aos avós que cabe a função mais chata da paternidade: educar, por isso, a frase “não podes fazer isso” nunca foi muito comum sob o teto deles. Já eles não podem dizer o mesmo da frase “Não digas nada à mãe”, frase que lhes proferia com toda a confiabilidade, para ter proteção, caso fosse descoberta.
Lembro-me, como se fosse ontem, que quando frequentava o ensino básico e perdia o autocarro, corria para o trabalho do meu avô, à espera de que o meu pai me fosse buscar no final do dia. Hoje, o meu avô não está, mas eu dava tudo para perder mais um autocarro e ter a última tarde mágica dentro do armazém, a brincar no escritório com o carimbo ou até a fazer contas na máquina só para ver os números impressos no papel.
Felizmente, a cada dia que passa, consigo “renovar” memórias com os meus outros três avós. Gosto de passar tardes com a minha avó Eva a falar, nem que seja conversa fiada e quando era mais nova, gostava quando me lia histórias antes de adormecer, mas hoje, acordo para ouvir histórias reais da sua vida, carregadas de experiência, vivências e muito ensinamento. Gosto de conduzir com o meu avô Inácio, afinal foi ele que teve a coragem e a persistência de me ensinar a fazê-lo e como agradecimento, hoje, ensino-o a mexer no telemóvel, para poder diminuir a nossa distância. Gosto de ir à casa da minha avó Inês e ouvi-la a falar das histórias de amor que viveu com o meu avô Francisco, quanto mais tempo ouço, mais acredito que já não existem amores assim.
Como é que é possível haver uma gigantesca diferença etária, mas, ao mesmo tempo, nos completarmos tanto e tão bem? Felizes são as crianças que conseguem crescer perto dos seus avós, rodeados de um amor que nenhum outro ente familiar consegue proporcionar. Avós são amor. Avós são tudo.
Obrigada por tanto e por tudo
avó Eva, avô Inácio, avó Inês e avô Francisco
Carolina Castro