A sociedade sempre foi perseguida por um fantasma invisível designado por pressão social. De uma forma muito discreta, esta pressão condiciona os nossos comportamentos e torna-nos escravos dos pensamentos que nos rodeiam. Apesar de a juventude ser uma fase da vida beneficiada por algumas facilidades, a verdade é que somos nós, jovens, que temos as maiores expetativas de vida e é sobre nós, que se coloca a pressão ao mais alto nível.
Esta pressão surge cedo, ainda estamos na flor da idade, prontos para seguir caminho para o secundário e já somos obrigados a optar por um curso. É uma época em que muitos de nós já têm objetivos bem definidos, mas a realidade é que a maioria ainda não está preparado para essa decisão, nem mesmo têm a sua identidade pessoal consolidada. É uma decisão tomada precocemente, que pode mais tarde, limitar as escolhas para uma decisão ainda mais difícil, o ensino superior.
Terminado este ciclo chega o momento do veredito final, é a altura em que todos os olhares se focam em nós. Temos que ingressar no ensino superior, se não somos uns fracassados, e como se não bastasse, existe um preconceito à volta de determinados cursos. Devemos escolher algo que, aos olhos da sociedade, nos dê uma boa perspetiva de futuro e que tenha credibilidade, porque é considerado impensável seguirmos um curso que nos leve a concretizar objetivos pessoais. E o pior, é que súbditos desta pressão, regemos as nossas ações de forma a encontrarmos aprovação social e deixamos de lado as nossas ambições.
No entanto, não são apenas os “outros” que colocam pressão na camada jovem. A irrealidade em que os jovens estão a mergulhar através das redes sociais é absurda. Deixamo-nos cair numa vida intangível, corremos pelos likes, pelos comentários, ou por pequenas futilidades que ultrapassam a nossa perceção, somos pressionados por uma utopia atrás de um ecrã. Temos tanta informação ao nosso alcance e possuímos conhecimentos tão generalizados que se torna contraditório deixarmo-nos pressionar por nós próprios.
Mas apesar das nossas falhas somos nós o futuro da sociedade, é sobre nós que toda a responsabilidade recai. Somos jovens, que dia após dia, vêm a sua independência a reduzir e a emancipação a adiar, seja pelo desemprego, pela falta de oportunidades, seja pelos baixos salários no início da vida profissional. Ainda assim não desistimos e tentamos ser uma geração pró-ativa e empreendedora, que se deixa envolver pelos problemas do mundo.
É preciso naturalizar o facto de que cada um tem os seus objetivos pessoais, e que cada um tem definições próprias de satisfação pessoal. Todos nós vislumbramos o sucesso através de perceções diferentes, por isso é inútil imporem-nos objetivos ou metas incompatíveis com as nossas. Se querem ter futuros adultos bem-sucedidos, deixem-nos ter autonomia para fazer as nossas próprias escolhas e para traçar o nosso percurso.
As mudanças sociais são processos lentos e progressivos que atravessam décadas ou até mesmo séculos, contudo é essencial tomar iniciativa para combater este inimigo encoberto, a pressão social. O mundo não é um paraíso nem nunca será, mas compete-nos a nós melhorá-lo. Temos de nos tornar protagonistas da nossa própria vida e simultaneamente evitar a pressão sobre os outros. Simples atitudes como empatia e compreensão pelo próximo podem fazer toda a diferença.
Mariana Fontes