Quando éramos crianças, o mundo parecia maior, mas ao mesmo tempo muito mais simples, tudo tinha um encanto próprio e cada coisa tinha um pequeno toque de magia que fazia-nos sonhar acordados.
Antoine de Saint- Exupéry no livro “O Principezinho” disse: “Todas as pessoas grandes um dia foram crianças. Mas poucas se lembram disso “, esta frase acaba por trazer uma verdade bastante dolorosa, pois à medida que vamos crescendo, esquecemos a pureza e a inocência que nos fazia acreditar em coisas impossíveis, como o Pai Natal que trazia presentes no dia de Natal e a fada dos dentes que trocava dentes caídos por moedas.
Na infância os problemas dos adultos não nos tocavam, as únicas preocupações que tínhamos era ao que iríamos brincar e com quem, sendo os nossos dias marcados por brincadeiras, risos e sonhos. Tudo o que é considerado simples por um adulto tem um significado enorme para uma criança: um abraço, uma história contada pelos pais antes de dormir, um copo de leite para nos aquecer durante a noite e sobretudo um pouco de atenção é tudo o que se deseja quando se é pequeno.
A inocência faz com que as crianças não percebam o mal que existe no mundo, mas também não é só atribuída a acreditar em fantasias ou esperar que o mundo seja sempre justo, mas também na capacidade de ver o melhor nas pessoas, de confiar sem medo e de sentir tudo em dobro. Infelizmente, esta perceção acaba quando crescemos e quando percebemos que nem todas as pessoas são boas, que o mundo nem sempre é justo e que por vezes esconder as emoções é o mais fácil para não se ser magoado.
Já ouvi muitas pessoas a dizer que se arrependem de pedir para crescer quando eram crianças e de certa forma até eu mesma me arrependo, porque é nessa inocência que se encontra a maior pureza e genuinidade, onde conseguimos ser nós mesmos sem reservas e medo e acredito que toda a gente gostaria de voltar a essa época, onde não existe emoções manipuladas, falsas amizades e onde acreditávamos em fantasias que de certo modo nos afastavam do mundo real.
Todos nós ainda possuímos a nossa criança interior, por exemplo, quando ficamos entusiasmados com algo, ou até felizes com um pequeno gesto ou ação, isso mostra que apesar de já não acharmos o mundo tão simples como antes ainda acreditamos que existe uma salvação para ele, isto leva-nos a um sentimento de nostalgia que nos faz ter a oportunidade de reconectar com a simplicidade e a pureza perdida. Através disto, lembrámo-nos das pequenas maravilhas, do brilho no olhar ao ver um presente embrulhado, da felicidade de brincarmos com a nossa família, da euforia de conhecermos novos amigos, mas também das experiências mais assustadoras, como entrar numa escola nova, de acreditar que existia um monstro debaixo da cama e chamar o nosso pai para o afugentar e até o simples facto não termos ninguém para brincar connosco.
A inocência de uma criança não é apenas uma fase, é uma forma de olhar para a vida com confiança e amor e ainda que a vida adulta nos ensine a ser cautelosos e realistas, nunca devemos deixar de olhar para o mundo com aquele brilho nos olhos que nos faz lembrar que fomos e sempre seremos crianças em algum canto do nosso coração.
E talvez a maior magia da infância, seja mesmo essa capacidade de se deslumbrar com o mundo, de encontrar encanto nas coisas mais simples, por exemplo, um livro, uma pedra, uma estrela no céu ou apenas o som da chuva a cair podem transformar-se em aventuras inesquecíveis. Essa inocência ensinava-nos a criar universos inteiros com a imaginação, acreditando que tudo era possível e que o impossível era algo que ainda não conhecíamos.
Mariana Borges