Para onde vamos?

Para onde vamos?

 Para onde vamos quando perdemos o nosso propósito?

  Se alguma vez tive um, não me consigo lembrar, mas lembro-me de uma determinação em mim, de uma paixão tão viva a arder em mim. Para onde foram? Para onde fui?

  Quero fazer as malas e despedir-me desta parte de mim que nunca conheci. Será que valeria a pena conhecer? Para cá vim à procura de um sonho, como não o encontrei, inventei, mas não o apontei e já me esqueci qual era.

  Até que ponto os nossos sonhos nos pertencem?

  Não pretendo ser sombria, mas as palavras cavam em mim dessa forma. Nunca tive medo do escuro, isto é, nunca tive medo do que a escuridão tivesse reservado para mim; a única coisa que me assusta no escuro, é que deixo de saber onde estou. Onde estou? Para onde fui?

  Sem propósito, mas continuo. Tenho de continuar. O mundo abre-se no meu coração sem expectativas, sem grandes entusiasmos. De que me valeriam agora? Tanto lutei em vão, tantas insónias que nem poesia me trouxeram, tantas gargalhadas que deixei para depois. A que custo?

  Gostava de partilhar palavras esperançosas, mas a verdade é que já as esgotei. Não quero, contudo, que ao acabarem esta leitura, se sintam melancólicos, não creio que haja motivos para tal. Talvez isto seja apenas uma pequena análise do que o que me vai no espírito e, com certeza, em alguns dos vossos espíritos também.

  Não existe nenhuma bússola que nos possa levar a porto seguro, nem uma bóia que nos permita descansar. Estamos por nossa conta. Nunca se tratou de ser um por todos e todos por um. A realidade é dura e bate em mim, todos os dias, como uma pedra.

  Digam-me: quando todas as portas se fecham, quando o nosso propósito se esquece de nós, para onde vamos?

Irene Silva