O SC Braga entrou a ganhar na fase de liga da Liga Europa em casa contra o Maccabi Tel Aviv, mas teve de sofrer e muito para somar os três pontos num jogo verdadeiramente emocionante e que teve um final de jogo de loucos. Os visitantes marcaram de penálti na primeira parte e quando tudo parecia encaminhado para uma derrota do Braga, Bruma bisou nos instantes finais.
Antes de falar do jogo propriamente dito, realçar apenas que este encontro assinalou o jogo 800 da carreira de Carlos Carvalhal como treinador. Tudo começou em 1998 no Sp. Espinho. Seguiram-se Freamunde, FC Vizela, Desp. Aves, Leixões SC, V. Setúbal, Belenenses, SC Braga, Beira-Mar, Asteras Tripolis, CS Marítimo, Sporting CP, Besiktas, Basaksehir, Sheffield Wednesday, Swansea, Rio Ave FC, novamente SC Braga, Al Wahda, Celta Vigo, Olympiacos e novamente SC Braga. Até agora, foram 20 clubes ao longo de 26 anos. Um registo verdadeiramente impressionante!
Ora, os minhotos arrancavam a participação europeia num momento difícil de avaliar: nas últimas três jornadas, empataram em Barcelos, com o Gil Vicente FC, perderam em casa com o Vitória SC e ganharam ao CD Nacional, já depois de um play-off muito complicado contra o Rapid Viena. Tudo isto era algo que deixava Carlos Carvalhal naturalmente receoso, principalmente na hora de estrear um novo formato da Liga Europa.
Além disso, o técnico, de 58 anos, não contava com João Moutinho, Rodrigo Zalazar e Paulo Oliveira, que estão lesionados, pelo que apostou em João Ferreira ao lado de Sikou Niakaté no eixo defensivo. Víctor Gómez, André Horta, Amine El Ouazzani e Rafik Guitane também entraram no onze, sendo que o último fez a estreia pelo SC Braga depois de ter deixado o GD Estoril Praia no verão. Do outro lado, num Maccabi Tel Aviv que vinha de oito vitórias consecutivas, Žarko Lazetić tinha Elad Madmon e Dor Turgeman na frente de ataque.
De facto, os campeões israelitas entraram melhor no jogo, com mais agressividade perante um Braga apático, que demorava a reagir e tinha dificuldades em acertar o mais simples dos passes. E a verdade é que os forasteiros começaram mesmo o jogo a marcar, mas o lance foi imediatamente anulado por fora de jogo, ao segundo minuto do encontro.
Eram mesmo os israelitas que mandavam no jogo e carregavam sobre a baliza de Matheus que, aos 28 minutos, numa saída intempestiva, derrubou um adversário e concedeu grande penalidade, convertida por Osher Davida. Bruma ainda tentou agitar as águas, mas a pontaria estava desafinada – Ricardo Horta que o diga – e não houve alterações até ao descanso, pelo que a turma de Carvalhal recolheu aos balneários sob assobios, perante uma exibição demasiado apática e inesperada de tão má que estava a ser.
Naturalmente descontente com o rendimento da equipa até ao descanso, Carlos Carvalhal fez três substituições ao intervalo, lançando Jean-Baptiste Gorby, Roberto Fernández e Ismaël Gharbi para tirar El Ouazzani, Guitane e Vitor Carvalho. Ainda assim, o SC Braga voltou a entrar no jogo com uma atitude algo passiva, sem grande intensidade ou capacidade para chegar à área contrária, e o Maccabi Tel Aviv ia gerindo a vantagem com aparente conforto.
A lógica, porém, mudou ligeiramente com o avançar do relógio. Bruma teve uma perdida inacreditável à passagem dos primeiros 10 minutos da segunda parte, ao atirar por cima numa recarga quando tinha a baliza praticamente deserta pela frente já depois de Roberto Fernández cabecear ao poste, Gharbi também acertou no ferro logo depois e os minhotos conseguiram recuperar alguma superioridade, empurrando os israelitas para o próprio meio-campo e construindo quase sempre a partir da linha intermédia.
Aliás, de notar que a melhoria evidente dos arsenalistas teve relação com a troca no miolo, mas também com a entrada de Ismael Gharbi, uma das apostas de Carvalhal para a segunda metade. Desconcertante, enérgico e altamente objetivo, o espanhol não esteve com “rodriguinhos” e procurou sempre fazer uso da grande capacidade no um para um para gerar vantagens para o coletivo.
Žarko Lazetić mexeu a 25 minutos do fim, trocando Elad Madmon por Henry Addo, e Carlos Carvalhal tirou um limitado fisicamente João Ferreira para colocar Bright Arrey-Mbi e ainda lançou Roger Fernandes. O jogo entrou numa fase mais incaracterística, sem que o Braga tivesse o jogo controlado e com o Maccabi Tel Aviv a tentar procurar algum caos que permitisse soltar contra-ataques e transições rápidas. No entanto, o tempo ia passando sem que os minhotos conseguissem chegar ao empate.
A impaciência crescia nas bancadas da Pedreira perante a crescente avalanche ofensiva que, ainda assim, não produzia chances claras e quando Ricardo Horta tentou tirar um coelho da cartola, apareceu Mishpati a agarrá-lo. Na outra área, o recém-entrado Layous trocou as voltas a Victor Gómez, ofereceu o golo a Peretz que, com tudo para fazer o golo, acertou na trave.
Contudo, as mexidas bracarenses lá surtiram efeito quando Roger Fernandes levantou para a área, Roberto Fernández ganhou de cabeça e Bruma desviou para o fundo das redes batendo, finalmente, Mishpati, aos 88 minutos. Os israelitas responderam com um disparo à trave, na resposta Victor Gómez também atirou por cima da barra, mas o árbitro foi ao monitor descortinar uma grande penalidade a favor dos bracarenses.
Assim sendo, Bruma foi chamado à conversão e juntou mais um à conta pessoal depois de se ter estreado a marcar esta época na última jornada, provocando uma derrocada na Pedreira. Ao cair do pano, os israelitas perderam a cabeça e viram dois dos seus jogadores serem expulsos por acumulação de amarelos (Kanichowsky e Asante), terminando o jogo com nove.
Com muito sofrimento à mistura, o Braga conseguiu mesmo vencer o Maccabi Tel Aviv na Pedreira e entrou da melhor maneira na Liga Europa. Na próxima jornada, os minhotos visitam na Grécia o Olympiacos, a equipa que Carlos Carvalhal deixou em fevereiro e que conquistou a última Liga Conferência.
Homem do jogo
O extremo internacional português foi sempre o mais inconformado do lado bracarense, tendo mesmo sido o mais rematador de todo o encontro, com seis remates, dois deles à baliza… que deram em golo. Quando já se notava desgaste físico e mental em toda a equipa lusa, Bruma foi buscar forças onde já poucos acreditavam que havia para bisar e dar a vitória aos guerreiros.
Texto: Raúl Saraiva
Imagem: UEFA