Os líderes partidários do PCP e do Chega estiveram no passado dia 9 de fevereiro, num frente a frente na CNN, onde se realçou evidentemente as suas diferenças. Entre a corrupção, salários, pensões, querem dar mais aos que não têm, mas de formas diferentes e com motivos distintos.
A máquina do tempo político viajou até 1974 e 2013 ao mesmo tempo. Entre interrupções, os temas que Paulo Raimundo e André Ventura atravessaram foram sempre em discórdia e num clima tenso.
A corrupção é um tema bandeira do Chega, que começou por dizer que o “PCP nunca acompanhou uma medida do Chega”. André Ventura realçou que também não o fizeram em medidas de combate à corrupção que propuseram.
Para além disso, o líder do partido de extrema-direita disse que tanto as empresas privadas como as públicas têm corrupção.
“Eu não aceito que tenhamos em Portugal uma série de processos que se arrastam e que, independentemente de estarem a ser julgados, continuam a viver em palácios”, elucidou.
Paulo Raimundo disse que se orgulhava de não acompanhar uma medida do Chega.
“Nunca acompanhamos nenhuma medida do Chega, orgulho-me disso porque não vamos contribuir para alimentar a demagogia, hipocrisia, de manhã são umas, à tarde são outras. Ninguém disse que o problema estava apenas nas empresas privadas”, esclareceu.
Mas André Ventura nunca deixou Raimundo ter a última palavra, “ao contrário do que fez o PCP, o Chega não se importou de viabilizar medidas do PCP, eu penso no país, o grande foco da corrupção está na administração local, atira sempre a corrupção para o que envolve privados”, justificou.
Na discussão sobre as pensões, ambos as querem aumentar, mas Paulo Raimundo tentou apontar tiques contraditórios a André Ventura tendo em conta o que propõe agora e o que apoiou antes.
“Nós estimamos um aumento de despesa em seis anos 7%. No aumento progressivo das pensões, é decisivo num país em que a pobreza está na classe mais velha e reformada”, disse Ventura.
“Durante os tempos da Troika, do corte das pensões, corte dos salários, corte do subsídio de natal, o deputado André Ventura estava a aplaudir aquelas opções”, relembrou Raimundo, do PCP.
“Quando houve o 25 de abril, houve expropriações, assassinatos, quer que tenha o debate assim?”, respondeu o líder do Chega, à crítica de Paulo Raimundo em relação ao tempo da Troika, contextualizando, na sua perspectiva, o papel do PCP no PREC.
Relativamente aos salários, André Ventura quer um aumento, mas também quer assegurar a sustentabilidade das empresas. Paulo Raimundo respondeu que não era contra as empresas, “há muita coisa que parece e não é”.
“Parece democrático e não é”, retorquiu Ventura.
Entre sair do euro, ou não, Paulo Raimundo está “entalado”, segundo André Ventura, que o interpelou, mas o líder do PCP não respondeu.
Na habitação, André Ventura disse que o rendimento não é o único problema, sendo que o Estado pode ser uma garantia a aquisição de casa. “A estimativa dependeria do mercado”, esclareceu o líder do Chega, que não tinha números concretos sobre o investimento de dinheiro publico que essa medida levaria. Já o PCP disse que em quatro anos é possível construir 50 mil casas do Estado, e também recorrendo à reabilitação.
Por sua vez, quando o tema foi a imigração André Ventura realçou que “hoje os mais desenvolvidos países da Europa fazem controlo da imigração, se está a aumentar os partidos devem dar resposta. Entendemos que o país necessita de imigração nalguns setores, mas o erro é não haver controlo e termos um regime de vistos da CPLP que permite entrada no território sem qualquer controlo”.
“A emigração é um problema no país. Milhares de pessoas empurradas pelo PSD e CDS e é isso que se passa com os que vêm bater à nossa porta e têm de ter direitos, são trabalhadores e têm de ter uma vida digna”, retorquiu Paulo Raimundo.
No fim, a CDU terminou com 10 minutos e o Chega com 12 minutos e meio de tempo falado.
Texto: Carolina Lopes
Imagem: DR