A Abstenção leva sempre a melhor

A Abstenção leva sempre a melhor

A abstenção não fez campanha, não apresentou um manifesto eleitoral, nem distribuiu brindes, mas na hora da decisão venceu com esmagadora maioria.

A primeira impressão que dá é que se refere a algum ato eleitoral nacional, como já nos temos habituado presenciar, mas a verdade é que ano após ano é a realidade vivida nas eleições para os órgãos sociais da Associação Académica da UTAD (AAUTAD).

Num universo de mais de oito mil estudantes, tivemos apenas pouco mais de mil votos, ou seja, quase sete mil estudantes nem se deslocaram às urnas para exercer o seu dever cívico, pese embora a ligeira descida na abstenção face ao ato eleitoral anterior, que em termos percentuais pouco passa de meio ponto percentual. Mas não podemos comparar os últimos dois atos eleitorais sem ressalvar o aumento do número de estudantes com capacidade eleitoral ativa entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano, dado que em setembro o número de vagas subiu e existem inclusive mais dois cursos recém-criados.

Para esta situação existem vários fatores que conjugados permitem explicar o resultado que já vem sendo hábito na academia. Vamos ao primeiro fator, a apresentação de lista única a sufrágio. Primeiramente, poderia pensar-se que é difícil reunir uma equipa capaz de se apresentar a eleições, não estivéssemos a falar de um universo de mais de oito mil alunos e sabendo que entre candidatos aos órgãos sociais e colaboradores, uma lista para a AAUTAD contará com cerca de uma centena de elementos.

Ora, o que vamos assistindo é uma passagem de testemunho de uma equipa que se foi estendendo pelo tempo quase como o casal que teve filhos, netos, bisnetos e onde a dada altura quem gere “a empresa” é a oitava ou nona geração dos pioneiros na mudança (leia-se última vez em que houve a mudança de cadeiras fruto do resultado das urnas), o que a certo ponto acaba por criar nos eleitores um sentimento de desmotivação por “ser mais do mesmo“, embora a equipa seja constantemente reformulada, os protagonistas sejam outros e que visão estratégica ganhe novos contornos.

O segundo fator, prende-se com a altura em que decorre o ato eleitoral, tem sido nas últimas semanas de aulas do primeiro semestre. Percebe-se a necessidade de encontrar um tempo certo cumprindo os regulamentos e diretivas eleitorais, mas o calendário escolar tem vindo a ganhar novos contornos e, atualmente, a última semana do semestre já só existe para aulas de reposição e pouco mais, fazendo com que boa parte do eleitorado não se encontre na Universidade nem em Vila Real. A juntar a tudo isto, pesa o facto de vários cursos terem estágios curriculares dentro do período de aulas, não frequentando as instalações da universidade durante esse período e, mesmo que tivessem vontade de se deslocar até às urnas, os horários laborais não são compatíveis com os horários de funcionamento das mesas de voto.

Há casos de universidades que colocam à disposição do eleitorado um dia de voto antecipado para salvaguardar qualquer eventualidade, onde se inserem as acima mencionadas. Urge, portanto, a necessidade de se repensar o sistema eleitoral atualmente implementado na academia transmontana e perceber junto dos eleitores se não fará sentido ter um dia de voto antecipado com horário alargado ao pós-laboral e uma mesa de voto descentralizada que poderia estar na sede da AAUTAD para os estudantes que se vão deslocar à universidade apenas para cumprir o seu dever cívico.

O terceiro fator tem que ver com o desconhecimento por parte dos estudantes quanto ao que se está a votar. Isto pode parecer ridículo e falso, dado que há campanha em todas as escolas, a mesma prolonga se para os cafés e bares e circula nas redes sociais e nos meios de comunicação afetos à academia (O Torgador e Universidade FM). No entanto, tendo eu já feito parte, noutra ocasião, das mesas de voto nas eleições para os órgãos sociais da AAUTAD, deparei-me com algum desconhecimento por parte dos eleitores quanto aos órgãos que estavam a sufrágio e o propósito do ato eleitoral. Nesse sentido, o Torgador preparou um conjunto de artigos e uma publicação informativa com vista a esclarecer possíveis dúvidas sobre as eleições para os órgãos sociais da AAUTAD, sabendo de antemão que mesmo assim não resolve de todo o desconhecimento, mas pelo menos permite que haja informação disponível e fácil de consultar.

Há ainda um quarto fator que passa quase despercebido, mas que deve também constar na equação, os cadernos eleitorais. Pois é, os cadernos eleitorais são feitos mediante as listas disponibilizadas pelos órgãos superiores da universidade, mantendo a presença de estudantes que, pelas mais variadas situações, já não se encontram na UTAD. Ora, isto faz com que o universo eleitoral seja mais elevado do que a realidade demonstra, permitindo que haja nomes nos cadernos eleitorais que não serão riscados, mesmo que num cenário hipotético, todos os estudantes se deslocassem às urnas.

Os novos órgãos sociais da AAUTAD que vão agora tomar posse têm a oportunidade de mostrar que vêm para fazer diferente e estão empenhados na procura de soluções para melhorar a participação dos estudantes na atividade que a associação académica desenvolve ao longo do ano, promovendo o diálogo, o debate e o esclarecimento.

Carlos Cardoso, coordenador da secção de política e economia d´O Torgador