Memórias

Memórias

Àqueles que me ensinaram que amar é muito mais do que postar um story a dizer: “juntos para sempre”, hoje escrevo para vocês.

De facto, o mundo evoluiu e com ele novas maneiras de comunicar surgiram. As redes sociais representam amplamente este novo universo onde, se assim decidirmos, podemos guardar as nossas memórias. Apesar de para uns estas funcionarem como um meio de sustento e para outros constituírem uma forma de descontração, a verdade é que as mesmas se assemelham, muitas vezes, a um diário, mas em formato digital. 

Se pararmos para pensar, quer sejam aqueles vídeos de rotina, ou simples fotografias de um momento especial, ou até mesmo de um dia banal, tudo isto tornar-se-ão recordações no futuro. 

No entanto, acontece que algumas pessoas utilizam-nas como forma de manter um estatuto social. Gostam de simular que têm uma vida perfeita, até mesmo para fazerem inveja a alguém. Enfim… Existe sempre o “outro lado da moeda”. Mas são esses mesmos indivíduos que publicam fotos com uma descrição do género: “O meu maior tesouro!” para reiterar a ideia de que gostam imenso da outra pessoa (um familiar, um amigo, o companheiro) e depois, no dia a dia, não fazem nada para o demonstrar. 

Obviamente, não quer isto dizer que essas mensagens não sejam uma forma de evidenciar carinho e estima pelo outro, pelo contrário. Mas por si só não bastam. Sei bem disso porque, felizmente, sempre tive ao meu redor quem me desse tudo sem pedir nada em troca. Posso enumerar cada uma dessas pessoas, todavia, deixo aqui só alguns exemplos daquilo que podem fazer pelos vossos. 

Portanto, começo por aquele que perguntava sempre por mim. Se existisse um dia que não o fosse visitar já sabia que à noite iam me dizer que perguntou por mim. Quando chegava à beira dele, se não lhe desse um beijo, fingia-se de chateado por não o ter cumprimentado (mas sempre com um sorriso no rosto) e dizia “Dá-me um beijinho”.  

Porém, não me posso esquecer daquela que cozinhava massa às quatro da tarde porque era o que a “menina” queria lanchar. Essa mesma que, um dia, já com uma certa idade, pegou em mim ao colo, enquanto eu fingia que dormia, e levou-me para o quarto, para descansar.

Existe outro ser que não é minha mãe, mas é como se fosse. Não é minha madrinha, mas parece. Aturava as minhas birras em pequena, quando não queria ir para a escola primária. Por vezes, levava-me até lá, e ao ver-me chorar por não querer estar ali vinha-se embora a chorar também. Hoje em dia, não chora quando me despeço dela ao domingo, mas à sexta, dia de voltar a casa, dá-me sempre um abraço bem apertado.

Por outro lado, também há aquele com o qual tive, e às vezes tenho, algumas quezílias, que não é muito de demonstrar sentimentos, mas que tem um coração enorme. Só não faz por mim aquilo que não pode. Temos fotos icónicas, especialmente, uma em que ele está a ler um livro sem saber ler. 

Por último, mas não menos importante… Aliás, o mais importante, existem as minhas maiores referências. Aqueles que olham para mim e sabem dizer-me como estou. Posso ter chorado de manhã que eles ao final do dia apercebem-se que algo não está bem. São detentores do melhor abraço do mundo, aquele que reconforta e reconstrói a alma.

Certamente, todos eles fazem coisas simples que me marcam pela positiva. Posso não ter mencionado todos, tal como havia dito, mas são todos eles que me fazem querer regressar a casa e, simultaneamente, me encorajam “a voar”. 

Assim sendo, e porque não quero tomar mais o vosso tempo, despeço-me, com a esperança que vos tenha feito passar um bom bocado, ao partilhar as minhas memórias.

 Beatriz Colaço