FUTEBOL – GD Chaves 0x2 SL Benfica – Derrota em dia cinzento por Trás-os-Montes

FUTEBOL – GD Chaves 0x2 SL Benfica – Derrota em dia cinzento por Trás-os-Montes

Sem brilho mas com competência, o Benfica saiu de Chaves com três pontos essenciais na luta pelo título de campeão nacional. As águias venceram em Trás-os-Montes por 0-2, com João Neves decisivo, mesmo sem marcar. A uma semana do dérbi com os leões, o Benfica garante que pode chegar à liderança pela própria mão no duelo com os leões. Os golos foram marcados por Fredrik Aursnes, aos 59’, e por João Mário, de grande penalidade, aos 80’.

Do lado flaviense, Moreno efetuou várias alterações e apostou num 3-4-3 que se transformava num 5-4-1 a defender, pois os laterais baixavam para junto dos centrais e os extremos recuavam para junto do duplo-pivot formado por Kelechi Nwakali, mais recuado, e Rúben Ribeiro, com mais liberdade para galgar metros e demonstrar toda a sua criatividade e qualidade. Assim, os alas foram João Correia, pela direita, e Bruno Langa, pela esquerda, ao passo que o ataque foi composto por Rúben Lameiras, Leandro Sanca e Héctor Hernández.

Roger Schmidt repetiu a fórmula de Arouca e apostou no 3-4-3, exatamente com os mesmos intervenientes – ou seja, sem homem de área, tarefa maioritariamente entregue a Gonçalo Guedes. Mas se defensivamente a equipa esteve segura, em termos ofensivos as coisas não correram como o treinador alemão teria planeado.

Ora, na primeira parte, assistiu-se a um domínio do Benfica em termos de posse de bola, ataques, remates e ações na área adversária. Não obstante o maior ascendente, os encarnados sentiram muitas dificuldades para ultrapassar o coeso, bem organizado e compacto bloco do Desportivo de Chaves.

Depois do primeiro susto causado por Leandro Sanca, logo no segundo minuto de jogo, os flavienses retraíram-se e, desenhados num 5-4-1 no processo defensivo, colocavam nove ou dez homens atrás da linha da bola, o que obrigava o Benfica a ter de a circular pelos três corredores de forma lesta, mas os comandados de Roger Schmidt apenas a espaços conseguiam fazer isso, demonstrando muita lentidão, previsibilidade e poucas alternativas nas investidas atacantes.

Com João Neves e Fredrik Aursnes nas alas, a equipa precisava de largura pelos corredores, algo que não acontecia com fluidez – ambos abusavam do jogo interior -, tornando o domínio no terreno estéril e pouco efetivo.

Por isso, os poucos rasgos de «fogo» atacante nasceram dos pés de Ángel Di María, que na primeira parte tentou tirar proveito do vento que soprava na direção da baliza de Hugo. Para lá do argentino, só um remate de Aursnes (8′), desviado, e um cabeceamento de Morato (19′) causaram real sensação de perigo.

Ao intervalo, Schmidt prescindiu de Gonçalo Guedes, apostando em Arthur Cabral. Tal como em Arouca, a ideia de um trio ofensivo mais móvel, com Guedes no meio, não funcionou na plenitude e no regresso do descanso foi Arthur Cabral a ocupar essa vaga. A qualidade de jogo das águias não subiu exponencialmente, mas é evidente que a equipa trabalha melhor com uma referência ofensiva.

Assim, o ataque benfiquista passava a ter a tal referência e mais presença na área do opositor, mas foram os flavienses a assustar, num lance em que Sanca quase oferecia o golo a Héctor Hernández, valendo o corte de António Silva na “hora H”.

A verdade é que, aos 59 minutos, foi, mais uma vez, do génio de João Neves que o Benfica se salvou em Trás-os-Montes. O médio, encostado à direita no novo esquema de Schmidt, inventou o golo que Arthur Cabral e Fredrik Aursnes marcariam quase a “meias”. O miúdo João Neves tirou vários adversários do caminho a partir da direita e colocou a bola para finalização, onde Arthur Cabral, em queda e de forma pouco ortodoxa, empurrou a bola na direção da baliza, antes do norueguês confirmar o golo.

As mudanças, porém, também se notaram do lado da equipa de Moreno. Mas foi pouco depois da vantagem encarnada que o conjunto da casa teve mais perto do golo. Bruno Langa, ainda na ressaca do golo encarnado, disparou um autêntico “míssil” que só a trave devolveu.

Tecnicamente, não foi um jogo bonito. Houve imensos duelos, lutou-se pela bola que ia rebolando na reluzente relva. O clima deu um espetáculo maior, ora com a choradeira das nuvens, ora cuspindo raios de sol, ora soprando frescamente, enfim. Se alguém está na casa das máquinas do clima, aplaude-se a versatilidade, o que faltou às equipas.

A 20 minutos do fim, Schmidt trocou Di María por Casper Tengstedt, quem sabe unicamente interessado em dar energia ao ataque, pois também o jovem dinamarquês revela algumas limitações técnicas para acompanhar os companheiros. Pouco depois, aos 77’, o árbitro apitou para grande penalidade, depois de Langa tocar no rosto de João Neves. Moreno, o treinador que levantou o Desportivo de Chaves depois de um arranque hediondo com José Gomes, estava fora de si e foi expulso. João Mário, calmo como as plantas mais serenas, escolheu o lado que o guarda-redes não escolheu: 2-0. São 30 golos em 110 jogos pelo clube da Luz para o internacional português.

Também Petar Musa entraria, o que não deixa de ser curioso. O Benfica, de branco e pecador, acabou com os três avançados a jogar quando começou sem nenhum, se assumirmos que Gonçalo Guedes é extremo, uma posição inexistente neste sistema. E o croata marcou mesmo, em cima do minuto 90, depois de uma assistência açucarada de Arthur Cabral. Porém, o VAR vislumbrou um fora de jogo.

O regresso às vitórias para o Benfica, após o empate caseiro com o Casa Pia AC, foi sentenciado quando o senhor árbitro apitou pela última vez. O alívio foi coletivo. E as vitórias, sejam elas como forem, são sempre úteis para quem se quer encontrar e levantar. Resta saber se este é o caminho adequado, se há convicção na solução encontrada. O desenho, as posições, as características e sociedades dos jogadores não parecem fazer “click”. Mas o futebol, como sempre, tem a palavra…

Com este triunfo, os campeões nacionais passam a somar os mesmos 25 pontos do que Sporting CP – que entra em campo neste domingo na receção ao CF Estrela da Amadora – e fogem ao FC Porto. Já o emblema do Marão contabiliza o segundo desaire seguido na competição e continua a sofrer golos, mantendo a tendência negativa de consentir pelo menos dois tentos sempre que atua em casa.

HOMEM DO JOGO
João Neves

Numa partida em que o brilho foi pouco, a nota de maior destaque terá de ir para a capacidade diferenciadora do médio encarnado em todos os contextos. Parece que o jovem, de 19 anos, não sabe jogar mal e tem sido ele o elemento mais regular do Benfica neste arranque de época 2023/24. Agora transformado em ala-direito, passou por algumas dificuldades na etapa inicial, mas surgiu transfigurado na segunda metade e esteve umbilicalmente ligado aos dois lances que definiram o “score” do encontro.

Texto: Raúl Saraiva
Imagem: LUSA