Entrevista a Dan´s Revival: “Para nós, o blues é um estado de espírito”

Entrevista a Dan´s Revival: “Para nós, o blues é um estado de espírito”

Dan’s Revival estiveram, no dia 21 de outubro, no Teatro de Vila Real, para o concerto que celebrou o lançamento do segundo álbum da banda, blues for the people.

Foi com solos intensos e hipnotizantes que a banda mirandelense deliciou e conquistou o público de Vila Real. O jornal académico O Torgador, em colaboração com o Alternador, marcou presença e teve a oportunidade de falar com os irmãos, Tiago e Pedro Esteves, para saber mais sobre o blues for the people e o primeiro concerto com o disco já “saído do forno”.

O Torgador (OT): Antes de mais obrigada por estarem aqui e parabéns pelo novo álbum! Vou começar por pedir-vos que apresentem a banda.

Dan’s Revival (DR): Nós somos os Dan´s Revival, vindos de Mirandela, compostos por dois elementos. Eu sou o Tiago (vocalista e guitarrista), de 28 anos, ao meu lado está o Pedro (baterista), de 23, e tocamos desde 2014.

OT: Lançaram hoje blues for the people, o segundo álbum de Dan’s Revival. Contem-nos como é que foi o processo de gravação deste novo disco?

DR: Foi ligeiramente diferente do anterior. Este foi gravado em duas sessões, foi um bocado mais estruturado no que à parte de estúdio diz respeito. Tocámos com metrónomo, ao contrário da outra vez que foi uma performance ao vivo. Foi uma experiência diferente da anterior e o resultado final está aí.

OT: Acredito que o blues for the people tenha “vestígios” pensados e até compostos na altura da pandemia. Onde é que foram beber inspiração em tempos tão enclausurados e monótonos como esses?

DR: Precisamente aí, num tempo enclausurado e monótono, em que eras bombardeado por informações e notícias negativas e isso se calhar veio dar inspiração para alguns temas das músicas. Não foram assim muitos. Na verdade foram apenas três temas em dez que foram escritos durante a pandemia. Nós “fechámos a loja” com o documentário 735, em que usámos a “open letter”, “one in a million”,born of grief” e uma música que ficou para trás, que é a “milk and honey”. A partir daí, tínhamos novas músicas, mas começamos com a “kick between yo’ legs“, que é a música mais antiga deste disco, temos essas três da pandemia e o resto são músicas pós-pandemia, que já estávamos a aspirar tocar em palco e muitas delas experimentámos tocá-las ao vivo, duas semanas antes de gravar. Foi arriscado dessa maneira mas correu bem, pelo menos.

OT: Quatro anos depois do vosso primeiro álbum – Back on Track – que maturidade ganhou o blues for the people?

DR: Para começar, maturou também o próprio Back on Track. Quando o tocamos ao vivo já tem outra bagagem, por assim dizer, e hoje viu-se. Com a “Twenties” nem tanto porque está enclausurada: tem um início, um meio e um fim. Mas a “Shayla”, como tem muito espaço para improviso, nota-se bem a progressão, tanto com inspirações do blues, do jazz, até à parte mais progressiva do rock. O blues for the people em si é quase como um “fechar da loja”. Como era o Back on Track o fechar da loja das músicas até 2019, se calhar o blues for the people é um fechar da loja do blues… ou não. Este pode ser o último álbum de blues ou o primeiro álbum de blues.

OT: Então que novas sonoridades e influências podemos encontrar, para além do vosso blues característico? O que é que podemos encontrar de novo neste disco?

DR: Rock progressivo, rock psicadélico, anos 60, anos 70, hard rock… Estamos mais uma banda de rock. Apesar de ser um álbum de blues, não é só. É um disco de rock.

OT: Este álbum conta com a presença de um terceiro elemento, Eduardo Cunha, o responsável pelas linhas de baixo que soam na no man would work for free. Agora a pergunta é para ti, Eduardo. Fizeste hoje parte do alinhamento de palco de Dan’s Revival, como é que surgiu este convite e como é que descreves a experiência de tocar no teatro de Vila Real?

Eduardo: Foi uma experiência interessante! Quanto ao convite aceitei logo porque, na verdade, não me deram hipótese, disseram “olha, concerto dia 21…” Mas sim, pisar um palco de um teatro pela primeira vez, com amigos, acima de tudo, é sempre bom.

OT: Agora uma pergunta de gosto mais pessoal. Dentro das 10 faixas que integram o blues for the people, qual é que é a música que mais gostam, não só de tocar, mas também de ouvir?

Tiago: Na minha opinião, acho que não gosto de ouvir nenhuma, para ser sincero. Eu não ouço as cenas que faço. Ouço as vezes que tenho de ouvir na parte da construção, na mistura. Ou seja, a partir de hoje saiu o álbum, a partir de hoje eu não volto a ouvir este álbum. Só como exemplo, eu ouvi o Back on Track na íntegra, pela terceira vez, há cerca de um mês. Como ainda estamos numa fase inicial da promoção do álbum, ainda há muitas que gosto de tocar, mas se calhar daqui a seis meses ou um ano consigo escolher uma. Neste momento, estarei dividido entre “billy the cop” e “blues for the people”, talvez.

Pedro: Por exemplo, de ouvir, a que gosto mais talvez seja a “no man would work for free” porque não parece uma música de Dan’s Revival, é uma música bastante diferente e das mais recentes que temos. De tocar, é também desse lote de músicas novas do álbum: as duas partes da “no man would work for free”, “billy the cop”, “this ship will sink”… Essas músicas são deste ano, tocámo-las ao vivo seis ou sete vezes este ano, ou seja, ainda estão frescas no nosso repertório, por isso ainda não nos fartámos. A “born of grief”, por exemplo, é uma música que já anda aqui desde 2020 e já a tocámos imensas vezes, nem que seja só a ensaiar. Por isso, a partir de agora, a música que vou gostar mais de tocar ao vivo vai ser a que vamos tocar para a semana.

OT: Curiosamente, o álbum que já não é tanto de blues, chama-se blues for the people. Porquê apelidar, não só o disco como o single, de blues for the people?

DR: O nome da música não está necessariamente relacionado com a escolha desse nome para o álbum, até porque o nome da música já existia muito antes de acharmos que esse ia ser o nome do álbum. Mas achamos que era um nome sonante e interessante para um disco, e, para além disso, a foto que temos na capa encaixa com essa expressão “blues for the people”, foto essa que já está escolhida para aí desde 2019. Encontrámos esta foto em casa e dissemos que o próximo disco ia ter aquela foto na capa. Intrinsecamente as letras das nossas músicas vão sempre falar sobre relações humanas, interpessoais, de pensamentos, da sociedade em si. Para nós, o blues é um estado de espírito, blues é uma melancolia, e nós levámos essa melancolia da pandemia para o disco. O blues era o nosso estado de espírito na altura, que é, eventualmente, ainda hoje, embora menos um bocadinho mas ainda conseguimos ver isso no blues for the people.

OT: Este foi o vosso primeiro concerto com o disco já cá fora. Qual é que foi a sensação de tocá-lo no palco do Teatro de Vila Real, numa sala só para vocês, e como é que sentiram a receção da plateia?

DR: Foi ótimo, foi mais uma vez uma experiência incrível e, acima de tudo, ficámos surpreendidos pela adesão das pessoas, tínhamos uma sala bastante bem composta, e também pela receção do público porque notava-se que eram bastante efusivos a reagir às músicas.

OT: Quais são as expectativas em relação ao blues for the people e ao feedback em geral?

DR: Na verdade, isso não interessa muito para nós. Finalmente podemos compor novas músicas. Basicamente, as expectativas eram gravar o álbum e lançá-lo. Muitas bandas gravam álbuns para tocar, nós gravamos álbuns para arquivar as músicas que já temos e ter um álibi para poder fazer um novo lote. Nunca vamos gravar músicas com a expectativa de nos poderem levar a tocar nalgum sítio ou a ter reconhecimento, acho que as expectativas são sempre fazer aquele trabalho, naquele momento, para nós. Obviamente, quantas mais pessoas gostarem melhor, mas se ninguém gostar e nós, ainda assim, estivermos satisfeitos, é considerado um bom álbum para nós, até porque estamos num panorama que não é muito propício a turnés.

OT: Para terminar, já têm datas para futuros concertos que possam revelar ou é um “stay tuned”?

DR: Por agora, não temos nada a anunciar. É só ficarem atentos que, eventualmente, para a semana ou daqui a um mês estamos aí de volta… ou daqui a três anos.

OT: Obrigada, mais uma vez, pela disponibilidade e continuem a “rockar”!

DR: Iremos fazer por isso.

Felizmente, a espera foi curta e Dan’s Revival anunciaram que vão levar o blues for the people ao Cave Avenida, em Viana do Castelo, e continuar a “rockar” já no próximo dia 24 de novembro. Até lá podem continuar a abanar o capacete e ouvir o novo álbum na íntegra em formato físico ou através das plataformas de streaming e, no Youtube, com direito a visualizer.

dan´s revival @ Teatro Municipal de Vila Real

Madalena Andrade

Fotografia por José Pedro