Dobrei o único trapo da casa.
Veio-me à memória aquele violão
Que a ti me ofereceste pelo Natal
Com uma câmara analógica das antigas.
Não sei por onde andei, nesta vida que pouco recordei.
Falhei com aquele bocado de caminho,
Toquei para todo o mundo, mas ninguém me ouviu.
Preferem os discos de São Francisco.
Ouvi espanhol, francês e até mandarim.
A minha língua deixou de estar por aqui.
Saiu e não disse nada a ninguém.
Acabou a música e voltou a trautear.
Camisa larga com folhos despidos.
Um salero nunca fez mal ao povo.
Que gritaria, minha mãe…
Entras numa profunda depressão.
Falaste tantas línguas que agora mal sabes dizer o teu nome.
Alteaste o teu ego ferido, tão ferido…
Afinal, São Francisco tinha razão,
És uma desgovernada com essa joia de tal forma adornada.
Despes o teu bonito sorriso.
Sabe lá Deus que angústia te acompanha.
Sabe lá Deus que sofrimento te invade.
Despes o teu poema e uma voz antiga de sal.
Pegas num punhado de areia,
Como aquela que te cegou.
Cega. Doida. Autêntica desequilibrada.
Estás louca que nem sabes onde pões o teu amor!
Diz lá onde dormiste hoje!
Na cama de São Francisco.
Se alguém me chamar diz que não estou.
Não te aturo! Nem quero estar contigo!
Fecha as janelas, olha que vento faz.
Liga a luz porque já mal se vê.
Desliga a televisão e ouve a rebelião do teu coração,
Nesse oceano com tanta confusão.
Que triste está o santo que caiu do altar.
O padre já ora pela tua irmã
E diz que está conturbada com a morte.
Eu cá me sinto bem, agora tu…
O poema de São Francisco.
A menina de São Francisco,
Que vê cega e sente sem coração.
Alberto Couto