Estamos numa época em que o mundo digital está cada vez mais evoluído, é certo, mas também onde os perigos da internet são cada vez maiores. Um tempo onde as crianças já nascem ensinadas a mexer no telemóvel.
Se tivesse pegado neste tema há alguns anos, aquilo que teria escrito seria muito diferente do que vou hoje aqui escrever. Há uns tempos diria que o telemóvel e a internet foram uma invenção que veio aproximar as pessoas umas das outras e ligar o mundo inteiro. Porém, atualmente, tenho outra perceção do assunto. Diria mesmo até oposta. Hoje apercebo-me de que o telemóvel pode ter vindo a afastar mais as pessoas. Digo isto porque todos os dias consigo observar, mesmo dentro do meu núcleo familiar, que aquilo que deveria ser um convívio depois do jantar se torna numa roda onde estamos todos no telemóvel e sem ninguém falar com ninguém.
Estamos, aparentemente, cada vez mais desligados da realidade, onde do meu ponto de vista já ninguém se importa verdadeiramente com ninguém e a única coisa que verdadeiramente importa é alimentar o nosso ego e preocuparmo-nos apenas com o nosso eu. E estamos desligados dessa mesma realidade através do telemóvel, como se este fosse a coisa mais importante do mundo. A primeira coisa que a maior parte de nós faz quando acordamos é ir ao telemóvel. É tanta a dependência que já não imaginamos a nossa vida sem ele. Todo o dia necessitamos dele para alguma coisa, nem que seja só para ver as horas. O que aconteceu aos relógios de pulso?
Utilizamos tanto a expressão “aproveitar a vida”, mas e o tempo todo que perdemos no telemóvel? E tudo aquilo que podíamos fazer com a quantidade de horas que ficamos a mexer nele… Muitas vezes, deparo-me com a minha avó a dizer-me as seguintes palavras: “Ó minha filha, passas a vida agarrada a essa coisa”. É certo, de facto, mas não será também o telemóvel o nosso refúgio? Um escape da realidade. Não será também este que acaba por nos isolar das pessoas à nossa volta e nos faz mergulhar numa solidão profunda? Os mais velhos acabam por perceber a maneira como os telemóveis nos dominam, apercebem-se mais facilmente de como estamos agarrados a eles. Vejo muitas vezes os meus avós a reclamarem comigo e com os meus pais, pois em vez de estarmos todos a conversar, estamos todos agarrados àquilo que a minha avó apelida de “brinquedo”.
Mas não estaremos também a dar conta de que o telemóvel afinal não é uma maravilha como aquilo que pensávamos? Um dia destes, no meu local de trabalho, falávamos exatamente sobre isto, o facto de termos sempre connosco, na nossa mão ou no nosso bolso, um objeto que nos consegue ouvir e alterar aquilo que nos aparece na internet, através daquilo que escutamos no nosso dia a dia. É exatamente por isto mesmo que digo que já estamos conscientes de que afinal esta coisa não é assim tão espetacular como achávamos que era.
Temos consciência, já é um passo, mas será que vamos fazer alguma coisa para alterar isto? Ou vamos apenas continuar uma sociedade conformista?
Isabel Damião