Não gosto sempre do que escrevo. Não escrevo sempre sobre o que gosto. A maioria das vezes escrevo sobre um amor perdido, sobre almas perdidas medidas em palavras sem medida nem compasso de espera.
Porque há palavras que não esperam.
Há amores que não esperam.
E depois há outros que não tardam.
Hoje em dia, o mundo é dos poetas que escrevem em prosa, linhas cruas e compridas, carregadas de frieza e de solidão. Hoje em dia o mundo já não é da poesia. Por isso, já não sou do mundo.
Escrevo, não quando posso, não quando quero, mas quando preciso.
E eu preciso de escrever tanto quanto preciso de respirar. É no peso de cada palavra que chega o sal, tatuado nas faces de quem chora só porque sim. Eu sou esse “quem” e não consigo não ser assim.
Dou por mim, entre madrugadas frias, a pensar no porquê de, às vezes, chorar sem porquê, no porquê de pensar em tudo aquilo que me magoa e me tortura a alma só para chorar mais, para ver se choro toda esta imensidão de sentimentos sem nome, de uma só vez, para que de uma vez por todas deixe de chorar sem motivo.
E é a poesia o ombro amigo dessas noites.
Pena que nestes nossos dias, já não haja poesia nas ruas, nas pessoas e nas ideias, nos sentimentos, no amor e na vida. Dói o peito só de imaginar o jeito de como somos injustos, de como deixamos passar em vão o passar da vida, de como nos convencemos que envelhecer significa deixar de viver, de como nos convencemos de que a pressão é o único caminho para a ação.
Que se lixem os tão proclamados poemas de pRoZa com “z” (porque são diferentes e não se misturam nem com a poeSia, nem com os escritores de contos e histórias, daquelas proSas com “s”).
Maria Filipe