Vamos começar pelo início: Evil Dead é fantástico. Sendo fã convicto da saga, vi tudo que tem para oferecer: Evil Dead 1, Evil Dead 2, Army of Darkness, a série Ash vs Evil Dead e ignorei por completo o Evil Dead (2013). Admito que a minha expectativa para este novo filme não era muita mas a crítica positiva persuadiu-me; tanto que me dei ao trabalho de o ir ver ao cinema (esta crítica vem com algum atraso).
Comecemos novamente pelo início: a saga tem um vilão muito bem estabelecido que, para todos os efeitos, é o ar. É uma corrente de ar que causa mossa e apodera-se das pessoas, é tipo um vento demoníaco. Se isto parece ridículo ou engraçado, também é o propósito, não fosse o encanto de Evil Dead ser horror-comédia.
O início do filme sugere que o vilão se mantém o mesmo e, efetivamente, é o que acontece. Mas a maneira como o demonstra mostra também as pretensões do filme em assumir-se como a próxima geração desta saga; de facto, de 1981 a 2023 já vai algum tempo. Mantém igualmente os elementos de comédia que marcam a saga – embora a menor nível e não tão bem conseguidos – e aumenta o gore galore.
O que não mantém, no entanto, é onde mais falha. O filme consegue criar algum suspense e tem momentos inteligentes, mas a dinâmica básica de problemas familiares, a tentativa de expandir o lore e a mediana caracterização das personagens danificam o filme; a ausência de uma figura central ao estilo de Ash Williams (Bruce Campbell) – protagonista de toda a saga até ao remake de 2013 – dificulta uma conexão emocional. As atuações, na sua generalidade, são aceitáveis e o prólogo adequa-se mas não faz falta. Além disso, há momentos do filme em que o som aparece abafado sem motivo aparente. As referências à saga e a outros filmes de horror são bem vindas, mas apenas serão apreciadas por quem as reconhece.
Se pareço demasiado negativo, calma: é um bom filme de horror. É um filme que acentua o potencial do realizador-guionista Lee Cronin neste género e é genuinamente um filme inteligente e bem-realizado. Tem momentos arrepiantes, pauta-se bem e as personagens tomam decisões plausíveis com base em como se apresentam e as circunstâncias. Além disso, tecnicamente é um filme impressionante – à exceção do problema de áudio referido –, com uma cinematografia bem realizada e coloração e iluminação excelentes.
O problema é que, a meu ver, não é um bom Evil Dead; é apenas um bom filme de horror. E esta conexão acaba por prejudicar o filme, visto que teria gostado mais dele se não estivesse relacionado com a saga.
Há planos para um futuro: sequelas diretas a este filme, não fosse o Cronin escolhido a dedo pelo criador de Evil Dead, Sam Raimi (Spider-Man, Doctor Strange in the Multiverse of Madness). Mas, a seguir este caminho, mais valia abandonar a saga e criar uma própria.
De 0 a 5, 3; de 0 a 10, 7.
Joaquim Duarte