Giro D’Itália | Super Roglic! Dos fantasmas do passado às vitórias no Monte Lussari

Giro D’Itália | Super Roglic! Dos fantasmas do passado às vitórias no Monte Lussari

Primoz Roglic (Jumbo-Visma) venceu, hoje, pela primeira vez o Giro, depois de 3 vitórias na Vuelta. João Almeida (UAE) fechou no pódio tornando-se o primeiro português a fazê-lo depois de Joaquim Agostinho.

A história da vitória de Roglic (Jumbo-Visma) neste Giro começa bem antes destas três semanas. Depois de triunfos na Vuelta e na Liège-Bastogne-Liège, Roglic (Jumbo-Visma) chegou ao Tour de 2020 em crescendo e assumiu-se como principal candidato à vitória. À entrada para a última etapa Roglic (Jumbo-Visma) tinha 57 segundos para gerir, mas na cronoescalada final viu o compatriota Pogacar (UAE) trucidar o seu tempo e acabar aquela prova com 59 segundos de vantagem sobre si. Esse momento parecia ter estagiado na sua cabeça por pouco tempo já que uns meses depois voltou a triunfar numa competição por si bem conhecida, a Vuelta, mas esporadicamente o fantasma da Planche des Belles Filles parecia voltar para assombrar os feitos do medalhista olímpico no contrarrelógio. Em 2021 e 2022 foi forçado a abandonar o Tour, das duas vezes por causa de quedas, sem ter assim oportunidade de lutar pela amarela. Nesse mesmo ano de 2022 volta a ser forçado a desistir de uma competição, desta vez da Vuelta, ficando arredado da luta pela vitória numa prova que tinha conquistado nos três anos anteriores. Já este ano, Roglic (Jumbo-Visma) parecia ter ultrapassado de vez o fatídico momento que lhe tirou o Tour. Em 2023 venceu o Tirreno Adriático e a Volta à Catalunha, únicas duas provas que disputou, vendo ainda Remco Evenepoel (Soudal) desistir do Giro, tendo sido apontado como principal candidato após o abandono do campeão do mundo. Na cronoescalada da etapa 20, Roglic (Jumbo-Visma) tinha de recuperar 26 segundos, vendo-se assim na pele de Pogacar (UAE). Depois de um início estrondoso, o esloveno passou no primeiro ponto intermédio com melhor tempo do que João Almeida (UAE) e Geraint Thomas (INEOS), vendo cada vez mais perto a maglia rosa, mas já dentro dos 5 quilómetros finais, Roglic (Jumbo-Visma) pedala em falso e imediatamente se apercebe que a sua corrente saltou. A associação era inevitável. Toda a gente viu o TT de há 3 anos a acontecer à frente dos seus olhos mais uma vez. Mas do alto do Monte Lussari desceu uma cara conhecida, a de Roglic (Jumbo-Visma). Foi neste mesmo ponto que o esloveno celebrou uma das suas primeiras vitórias – ainda como praticante de esqui – quando a sua seleção venceu na categoria de júniores. Um dos seus ex-colegas estava lá, ontem, premonitoriamente, no sítio onde Roglic (Jumbo-Visma) mais ia precisar de um empurrão. Mais do que um empurrão literal – que também o deu – a lembrança de vitórias, a recordação de tempos onde fora feliz e, alavancado nas conquistas de antanho, Roglic (Jumbo-Visma) – tal como Pogacar (UAE) há 3 anos – trucidou o tempo de Thomas (INEOS) e venceu o Giro por 14 segundos no final. Esta prova fica assim em 4º no ranking que mostra as edições onde houve menor diferença entre 1º e 2º.

Mas as bonitas histórias que este Giro tem para contar só acabaram hoje, na última etapa, conquistada por Mark Cavendish (Astana). O veterano sprinter volta às vitórias neste que é o seu ano de despedida. Depois de sobreviver a toda a alta montanha – nas 20 etapas precedentes – ter chegado inclusive a cruzar a meta estatelado no chão, levou a melhor, hoje, em Roma, na etapa de consagração.

Para Portugal este foi também um Giro histórico. João Almeida (UAE) voltou a brilhar, desta vez ganhando uma etapa (a 16ª), assegurando hoje um lugar no pódio. O ciclista de A dos Francos é o primeiro português a fazê-lo no Giro. Joaquim Agostinho fez 3 pódios em Grandes Voltas na carreira, dois terceiros lugares no Tour e um segundo posto na Vuelta. Depois de, em 2020, Ruben Guerreiro (EF – Education) ter levado a camisola azul (a da pontos na montanha), João Almeida vence este ano a camisola branca, que celebra o líder da juventude (ciclistas até 24 anos).

A Classificação final foi a seguinte: Roglic (Jumbo-Visma), Thomas (INEOS) e João Almeida (UAE) formam o pódio, num top-10 onde a INEOS consegue colocar 3 homens (Thomas, Arensman e de Plus). Destaque ainda para Andreas Leknessund (DMS), que chegou a vestir a rosa, e para Pinot (Groupama), que levou também a camisola da montanha.

Destaques Finais

Derek Gee (Israel)

Na sua estreia em grandes voltas andou fugido, deu nas vistas e fez 2º em quatro etapas. Já o apelidaram de “Derek Geero”.

Ben Healy (EF – Education)

Venceu uma etapa onde arrancou sozinho a mais de 50 quilómetros da meta. Mostrou-se forte nas provas de um dia deste ano e transformou a etapa que ganhou numa clássica.

Thibaut Pinot (Groupama)

Antes de se retirar veio ao Giro com ambições de top-10. Além disso ainda foi capaz de levar a camisola azul

Andreas Leknessund (DSM)

Vestiu a rosa na primeira semana e agarrou-se a ela com tudo. Fechou a prova em 8º, bem acima das espectativas

UAE

A equipa de João Almeida trabalhou pela primeira vez para o português. Nunca esteve sozinho e foi inclusive rebocado por Jay Vine

Jumbo-Visma

Com 5 (!!) baixas de última hora foi preciso chamar muita juventude. Com um super Kuss e muito trabalho em torno de Roglic a Jumbo voltou a sorrir.

Texto: Tiago Santos

Imagem: Giro D’Itália/Tiago Santos