Ser um “bom filho”

Ser um “bom filho”

O que é ser um bom filho? É nunca questionar a autoridade dos pais, mesmo que nos pareça errado? É ter sempre excelentes notas mesmo em disciplinas que não nos interessam? É nunca chegar a casa depois da hora combinada? É não faltar às aulas? É triunfar na vida e fazer muito dinheiro? É não dar preocupações? É não dar trabalho nenhum? O que é ser um bom filho afinal?

Muitos pais ao longo da infância vão incutindo às crianças uma pressão exagerada para quem só está a aprender as vogais, ou somas de unidade, ou até para quem está no futebol do clube da freguesia, muitos ficam de tal maneira obcecados com o sucesso dos filhos que não percebem que muitas vezes é esta pressão o motivo do insucesso. Tomada esta atitude na infância, enquanto adolescentes isto toma outras proporções, “Tiraste 18, mas a escala não vai até 20?” ou “Tiraste 20? Não fizeste mais que a tua obrigação”, depois vem a universidade “ Vê lá se vais para um curso com saída e que dê dinheiro”, “Ai é isso a universidade, andar nas discotecas?” depois vem a fase adulta “Tens 28 anos e ainda moras cá em casa, faz-te à vida “, “ Eu com a tua idade já tinha três filhos e uma casa” e assim vai esta bola de neve até aos fins dos dias e os filhos vão suando a vida toda para tirar 20 a todas as disciplinas porque é a obrigação deles, escolher um curso que dê muito dinheiro porque têm sair de casa antes dos 28 e ter 3 filhos e uma casa, isto porque só assim é que se é bom filho e porque têm pais que não entendem que o tempo passa e que a realidade em que eles cresceram já não se pode aplicar à atualidade porque o mundo está diferente.

Eu considero esta a pior versão da pressão de ser um filho perfeito, a pressão em que os pais se tornam um peso na vida dos filhos, mas depois existe o outro lado que é quando os próprios filhos impõem a pressão sobre si mesmos, porque vivem no medo de desiludir os pais.

É aquele filho que muitas vezes tem um irmão mais velho ou um primo e que já viu estes a errarem e os pais a reagirem mal, então tudo o que viu não pode de qualquer maneira repetir-se, isto passa por coisas como, a irmã mais velha foi apanhada a fumar aos 16 anos e os pais preocupados chamam-na à atenção, o filho mais novo nunca se vai aproximar de um cigarro, ou um primo que para a família tinha um futuro promissor, ia ser advogado ou médico, mas depois nem para a universidade quis ir, isto vai fazer com que o primo mais novo vá para a universidade e vai ter de ser juiz ou professor, porque não pode desgostar a família daquela maneira. Os próprios pais nunca impuseram nada ao filho, estão só genuinamente preocupados, mas o filho criou na cabeça dele tantas comparações e vive com tanto medo do fracasso que ele mesmo se colocou naquela ratoeira.

Há diversas formas de encarar esta questão, mas acho que o grande problema é que vivemos numa sociedade em que normalizamos que um filho tem de ser prático e não chatear muito, quando na realidade os filhos são feitos para darem trabalho, e qualquer pai antes de ter um filho tem de ter essa consciência, são feitos para darem preocupações, mas acima de tudo são feitos para serem felizes e fazerem os pais felizes com nada mais do que compreensão, gratidão e amor.

Vivemos numa pressão enorme de querer agradar os nossos pais, porque eles são os nossos grandes exemplos, os nossos primeiros ídolos, mas isso não significa que não possamos errar, nem significa que se errarmos eles nos vão amar menos por isso.

Ser bom filho é pedir ajuda quando se precisa, é ser sincero, é não esquecer tudo o que eles fazem por nós, é estar presente. Mas muitas vezes para se ser bom filho é preciso ter-se bons pais e nem sempre é com essa realidade que se lida.

Paula Pacheco