A arte do parecer em vez do ser

A arte do parecer em vez do ser

O mundo é movido por aparências. Conseguimos ver isso em todos os lados, seja por celebridades que modificam os seus atributos naturais, rendendo-se à imagem que vende mais e desistindo de tudo aquilo que lhes era distinto para se ficarem a parecer como todos os outros. Seja por políticos que propõem tantas, mas tantas coisas para melhorar as condições de um país e, ainda assim, preferem concretizar, não os interesses do país como um todo, mas os de uma pequena minoria de pessoas.

Aparentemente, todos querem as mesmas coisas, mas ninguém toma medidas concretas, só pensos rápidos e soluções que em nada vão alterar o decorrer atual do mundo. Todas as organizações ambientais querem acabar com a questão ambiental, no entanto, nenhuma delas fala concretamente de como a indústria da carne é a que mais destrói a nossa tão prezada camada de ozono e, possivelmente, a principal causa do aquecimento global. Em vez disso, falam de como temos de tomar banhos mais curtos para poupar água, sendo que são as grandes empresas que desperdiçam água todos os anos. Falam ainda em como temos de utilizar menos plástico, visto que quase todos os produtos de bens essenciais, por exemplo, são embrulhados em plástico – algo que é impossível controlarmos, porque não somos nós que os produzimos – e os que não são, acabam por ser mais caros por conta disso. É, porém, preferível dizer às pessoas que a culpa é delas da situação atual do planeta e elas é que têm de fazer a mudança, que cada ação por mais pequena que seja, conta, do que admitir que o grande problema é o sistema em que vivemos e que as coisas só vão mudar quando se for à raiz da questão.

De modo a explorar mais a fundo esta questão, algo que num destes dias me chocou imenso foi ver que a Shein – empresa de fast-fashion online que acho impossível desconhecerem, mas contextualizarei mais à frente aos mais desatualizados – tinha uma secção no seu site chamada: “sustainability & social impact” e, ao ler, até me ri quando vi que a missão da empresa era “proteger o ambiente”. Também têm, estupidamente, uma secção chamada: “human rights policy” em que dizem ter o objetivo de “rejeitar trabalhos forçados, assédio, discriminação e condições de trabalho precárias”. Para quem está completamente a leste em relação a como funciona a Shein por detrás das roupinhas e do discurso bonito, é de salientar que esta empresa, para além de ser uma das maiores lojas de fast-fashion do momento, é conhecida por pagar (ou não pagar) miseravelmente os seus trabalhadores, pelo que são pagos não pelas horas de trabalho, mas pelo número de peças que produzem. Para além disso, a Shein é incrivelmente poluente, já que apenas 6% das roupas estão disponíveis por mais de 90 dias, o que significa que as restantes acabam por ser descartadas, sendo enviadas para aterros. Tendo em conta que os materiais mais utilizados para a produção destes artigos são poliéster e elastano, que levam cerca de 400 anos a decompor-se na natureza, podemos ver que o estrago é muito preocupante. Ora, eu acho que este caso exemplifica perfeitamente o que quero criticar aqui. A política deles é baseada em falinhas mansas. Coisas que dizem querer mudar, mas que não vão porque qual é o sentido de querer mudar o que tem funcionado tão bem até agora? Aliás, porque é que uma empresa tão gigante como a Shein já não fez as coisas que diz querer fazer, sendo que têm possibilidades financeiras para tal?

Para finalizar, o mundo não vai mudar com soluções que parecem bonitas à primeira vista, mas que, se pensarmos bem, não vão alterar muito a forma como as coisas são feitas. Ao invés, vão continuar as condutas antigamente praticadas, mas, agora, mascaradas com o discurso bonito que todos gostamos de ouvir. Empresas e organizações que beneficiam do sistema capitalista em que vivemos – que subsiste, por sua vez, do descontentamento e miséria da população – nunca se vão preocupar genuinamente com os anseios e preocupações da mesma, gostam apenas de aparentar que sim. E a sociedade assim cai nas falsas promessas, a pensar que há algo de bom ali e que as poucas pessoas que mandam no mundo têm os seus interesses em vista.

Joana Garcês