Vila Real, nomeadamente a nossa estimada Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, é solo fértil no que toca à produção artística. Na UTAD, os artistas são muitos e o reportório é extenso.
Todos os anos a população da universidade é renovada na caótica semana das matrículas. Durante esta, caras acabadas de sair do secundário invadem o campus como um enxame de abelhas tontas e perdidas. Não se deixem enganar pelo brilho que ainda não lhes escapou dos olhos, nem pela ingenuidade das palavras marcadas pelo sotaque da terrinha. Em pouco tempo, todas vão aprender o fado de quem cá estuda. As gerações são renovadas, mas a cantiga nunca muda.
O fado é feito aos trambolhões, alguns escrevem-no e outros o vão improvisando, como se de um concerto de jazz se tratasse. A voz é desafinada e de vez em quando falha um acorde, mas o fado lá se vai fazendo. Não é por ser desajeitado que não tem poesia, até pelo contrário, é a imperfeição que lhe dá a graça.
Cada um vai fazendo o fado ao seu estilo, nos mais variados tons. Existem os que o preferem meter em Fá, em Lá e em Ré, maior ou menor, variando com o mood da coisa. Existem também aqueles que no Largo do Pioledo metem Dó e que só vão para casa quando muda para Sol.
No fim do seu percurso, uns fadistas deixam no seu cantar agridoce a saudade de quem segue em frente, mas de quem nunca vai deixar de olhar para trás com nostalgia. Outros nunca partem, insistem numa música lenta, demorada e repetitiva, mas mesmo de voz rouca e cansada de cantar o mesmo, continuam, e ninguém os cala.
Hélder Silva