“Não temos nada além do amor / Não temos antes, princípio nem fim / A alma grita e geme dentro de nós: Louco, é assim o amor / Colhe-me, colhe-me, colhe-me!” e, na mesma linha do poeta Rumi, refletimos, então, a questão: e viver sem amar, é possível?
A ideia de amor é algo abstrato. O que eu entendo como “amor” pode ser totalmente distinto da ideia que o leitor tem sobre este sentimento. Parece ser consensual que amores há muitos e que há ainda mais formas de amar — tantas são as relações profundas que vamos estabelecendo ao longo da vida, seja o amor pelas figuras de referência familiar, seja o que sentimos pelos amigos mais próximos ou por outros que façam parte da nossa rede social de suporte.
Com apenas quatro letras se escreve a palavra amor e, apesar de ser uma palavra pequena, é uma das maiores que o mundo tem. Porque é que acham que é quase sempre tudo sobre o amor? Os filmes, os livros, a arte, as canções (estas sim, são sempre sobre o amor), as maiores tristezas, as maiores alegrias, a vida… Quem nunca “viveu para alguém “? E a morte? Morre-se de amor, morre-se por amor e mata-se por amor. “O amor é um mundo em si mesmo”, tal como exprime o grande poeta persa, Rumi.
A realidade é que não é possível uma sociedade sem amor uma vez que este ocupa uma posição central na vida das pessoas e é a parte integrante dos projetos reflexivos de existência dos homens e das mulheres. Desde que nascemos, dependemos da relação com o outro, sendo que o nosso cérebro se desenvolve no contexto da interação com outros cérebros, tal como o nosso coração precisa de interagir com outros corações que se insiram na mesma onda de energia. É inevitável não amar! Acho que o amor está mesmo nas nossas raízes mais profundas e talvez seja por isso que a vida se torna mais bonita em maior parte das ocasiões.
Apesar de muitas vezes acharmos que estamos melhor sozinhos, acabamos sempre por entender que uma das maiores e mais importantes razões para alguém decidir entregar-se a outro alguém é a capacidade que esta partilha tem de nos fazer
crescer e evoluir enquanto seres individuais, doa o que doer. Essa é uma das dificuldades que o amor nos presenteia, a mesma que nos incentiva a desistir (ou melhor, a fugir) das relações. Apesar disso, assim é a vida, assim é o amor e assim é tudo aquilo que é único e singular neste complexo universo. Porque nunca ninguém disse que seria fácil, apenas que valeria a pena.
Inês Silva