Um velho amigo conhece-te melhor que ninguém. Quem és, quem foste e quem serás. Ele sabe.
Podes enganar toda a gente, mas não o enganas a ele, aos seus olhos és transparente. Embora por vezes ele possa acenar a cabeça num gesto afirmativo, ele sabe e tu sabes que ele não caiu.
Ocasionalmente, visita-me e nunca ao contrário. Puxa uma cadeira, senta-se, olha-me nos olhos e eu olho nos dele. Eles não possuem cor. São como espelhos, e neles vejo o meu reflexo, não distorcido, mas sim como ele realmente é.
Do que falamos? Do mesmo. Velhas aventuras e velhos fantasmas. É um Presente que sabe a Passado. Juntos reviramos túmulos e passeamos os mortos.
Ar soturno e melancólico, corpo magro, postura curvada e cara marcada pelo cansaço dos anos. Oh velho amigo, aqui estamos nós outra vez.
Hélder Silva