Psicologia et Al: Praxe, uma visão da psicologia e a opinião do Venerável Ancião

Psicologia et Al: Praxe, uma visão da psicologia e a opinião do Venerável Ancião

A praxe pode ser descrita como um conjunto de tradições académicas facultativas dos estudantes que frequentam o Ensino Superior em Portugal. Organizada numa hierarquia, os caloiros são submetidos a rituais de iniciação pelos alunos mais velhos, de modo a manter vivos os valores e tradições que também lhes foram passados enquanto caloiros. A ideia de que cada pessoa dentro do seu estatuto hierárquico é igual cria uma noção de solidariedade que, nos dias de hoje, vai além da ideia comum da dureza da ordem/execução que nos surge sempre que pensamos na praxe, sendo visível em recolhas de alimentos/roupa e trabalhos comunitários.

Ainda que os relatos destas ditas tradições surgem desde o início do século XVIII, foi só a meados do século XIX que ganhou o seu devido nome e, a partir do século XX, renasceu com um significado e práticas diferentes para cada academia.

A Opinião do Venerável Ancião

Às pessoas que não apoiam a praxe, que momentos, palavras ou situações gostavas que pudessem ter visto, que talvez as fizessem refletir?

Primeiramente acho importante esclarecer que não apoiar algo não significa necessariamente estar contra algo, e essa noção está muito ténue na sociedade. Não posso negar que a experiência varia completamente entre as academias, e dentro das mesmas, entre escolas e/ou cursos. Tal como não posso negar que muitas pessoas tiveram experiências negativas nas suas vivências da praxe. Assim há que ter em consideração que o que cada um vê e experiência, molda de facto a opinião relativamente ao que é a praxe e como esta contribui para a vida de cada um. Como tal, não creio que seja pertinente dirigir palavras que mudem a opinião de quem vivenciou situações abusivas e desproporcionadas na praxe.

Posso apenas tentar explicar que cada praxe é única e que a da nossa academia preza cada vez mais por ser uma forma de integrar os alunos e nunca de os excluir ou discriminar. Para quem não vivenciou a praxe digo para terem uma mente aberta à mesma, pois ela é feita por cada aluno que a integra e existem muito boas pessoas na nossa academia.

É dito que quando algo tem vantagens e desvantagens, a solução não é destruí-la, mas sim promover as virtudes, solucionando o que não está tão bem. Assim sendo, podes oferecer alguns pensamentos, partindo da tua experiência, sobre como é que a praxe pode colmatar as falhas das quais é acusada?

Como referi anteriormente, a praxe para mim é uma possibilidade de incluir na academia os novos alunos, proporcionando-lhes uma rede de pessoas que transpõe barreiras da área de estudos e até da cultura. Contudo, há que saber admitir que qualquer contexto, seja ele profissional, académico ou qualquer outro, no qual exista uma hierarquia, irá sempre existir uma propensão ao abuso de poder. Isso é visto quer a nível político, militar, corporativo e também na praxe. A minha missão desde que cheguei a este cargo sempre foi apelar ao bom senso, lutar contra os abusos de poder e cultivar a empatia na nossa academia. Explicar sempre à parte em falha não só o porquê da sua atitude estar incorreta, ou menos correta, mas também fazer ver o ponto de vista do lesado e sentir um pouco do que ele sentiu. Acredito vivamente que reprimir os erros de qualquer pessoa deve ser sempre mais focado em fazer essa pessoa/s ver o ponto de vista de quem sofreu por consequência das suas ações, e não aplicar uma punição que em nada contribui para o desenvolvimento pessoal.

Sou um recém-chegado à universidade, a tremer à entrada dos portões da UTAD, já ouvi muitos rumores sobre a praxe e, para ser honesto, tenho um pouco de receio. O que me dirias, fazendo um balanço de toda a tua experiência e sendo o mais sincero possível, se te perguntasse: “Devo ir à praxe”?

O que eu diria seria “Não tenhas medo”, não tenhas medo de experimentar, não tenhas medo de dizer que não e não tenhas medo de ser quem és. Como sempre disse no corrente ano letivo, penso que as pessoas não devem ter medo de experiências novas, devem sim recebê-las de braços e mente aberta, aproveitando a oportunidade de crescimento pessoal. Não ter medo de dizer que não! A maior parte dos abusos vêm de uma ideia antiquada que dizer “não” na praxe poderá trazer consequências na vida pessoal. Isso não deverá nunca, em momento algum ser um facto. Qualquer membro da praxe, não obstante da sua posição na hierarquia é livre de se recusar a fazer algo que vá contra os seus princípios, independentemente da tipologia dos mesmos.

Por último e aproveitando para fazer uma ponte, não ter medo de ser quem és, porque a praxe serve para integrar um conjunto enorme de indivíduos diferentes e únicos numa comunidade estudantil. Se a tua maneira de ser não contempla os princípios que vivencias na praxe não há problema algum, pois ninguém tem o direito de te julgar por tal. Cada um é único e gosta de experiências diferentes, e a praxe como tal pode agradar pessoas diferentes de maneiras diferentes, bem como pode desagradar a cada um por motivos diferentes. Como tal creio que cada um deva experienciar a praxe e fazer um juízo dessa mesma experiência antes de se deixar levar pela opinião alheia.

Qual é o futuro que consegues ver para a praxe? É-nos dito que estamos a piorar nas pontuações de inteligência emocional – achas que esta tradição pode constituir um ponto fulcral na integração à universidade, assim como no nosso desenvolvimento pessoal?

Esta é sem dúvida uma pergunta que, embora me tenha sido feita muitas vezes, continuo a não saber responder. Não o sei responder porque simplesmente acredito que pensar no futuro seja desvalorizar o presente. Sei que estou a fazer o que posso para melhorar o ambiente vivido na praxe e como tal sou feliz com isso. Claro que por vezes me senti impotente sobre algumas situações, mas faço um balanço positivo do presente ano. O futuro está nas mãos de quem vem depois, e isso estará sempre fora do meu alcance. A minha missão é deixar bons alicerces que permitam, efetivamente, tornar a praxe numa experiência agradável para todos.

Este é o espaço do Núcleo de Estudantes de Psicologia, que resulta de uma parceria com o teu jornal académico – O Torgador. Se também gostavas de protagonizar o teu espaço no jornal académico sobre temas relevantes para a academia, contacta-nos através de direcao@otorgador.pt.