Alunos da UTAD participaram na manifestação do Dia Nacional do Estudante

Alunos da UTAD participaram na manifestação do Dia Nacional do Estudante

No passado dia 24 de março, Dia Nacional do Estudante, um grupo de mais de 150 estudantes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) participou na manifestação que decorreu na cidade de Lisboa, por ocasião dos 60 anos da Crise Académica de 1962.


A manifestação teve início na Praça do Comércio (Terreiro do Paço), junto ao rio Tejo e percorreu algumas ruas da cidade lisboeta terminando na escadaria da Assembleia da República.


Esta iniciativa juntou seis associações académicas, nas quais se inseriu a Associação Académica da UTAD (AAUTAD), reunidas no movimento denominado Académicas e várias associações de estudantes e núcleos académicos que, apesar da chuva que se fez sentir na parte final do percurso, não abandonaram a manifestação.


“Bolsas sim, propinas não, este governo não tem educação”, “educação é um direito, sem ela nada feito”, “propinas e Bolonha, é tudo uma vergonha”, foram algumas das frases de protesto ouvidas ao longo do percurso.


“Era algo que avistamos alcançar neste dia tão marcante para a história do Dia Nacional do Estudante e o aniversário do mesmo”


Em declarações ao Jornal Académico O Torgador, a presidente da AAUTAD, Maria Ferreira, recordou que os problemas são comuns a todos os estudantes que ficam à espera de que “as promessas sejam cumpridas”, lamentando que o ensino superior seja “uma aresta por aparar” para o governo.


A presidente da academia transmontana contou que o facto de a comunidade estudantil ser “unida” e partilhar o “mesmo sentimento”, levou a que se reunissem forças para “vigorar a necessidade de mudança”. Além disso, a dirigente académica destacou que “o impacto” causado “era algo que avistamos alcançar neste dia tão marcante para a história do Dia Nacional do Estudante e o aniversário do mesmo”, colocaram por isso mãos à obra e deslocaram-se para junto do rio Tejo “onde nos queríamos fazer ver e ouvir com mais relevo”.


Maria Ferreira sentiu-se orgulhosa “pelos estudantes”, confessando que ao olhar ao seu redor sentiu que “a nossa bússola apontava para a mesma direção. Fossem as nossas instituições distintas, cursos diferentes, de academia para academia, o objetivo era o mesmo. O mais importante para todos era o apoio para o ensino, para os estudantes universitários”.


Em relação às reivindicações, a presidente da AAUTAD lamentou que muitos estudantes não consigam “procurar na universidade uma porta aberta para um futuro melhor” por serem deslocados do seu “lar” e por manter mais do que uma habitação ser “algo impossível”. A escassez de apoios e a falta de capacidade das residências universitárias são outros dos problemas apontados pela dirigente, que apontou, ainda, a demora na atribuição e distribuição das bolsas como um dos fatores para o abandono escolar.


“A falta de professores e profissionais competentes para as mudanças do atual ensino é um problema que desmotiva o aluno, falta o acompanhamento, desviando o encontro da resposta que pretende alcançar profissionalmente”, acrescentou Maria Ferreira.


A presidente da academia transmontana salientou que “este foi apenas o primeiro grande passo”, garantindo que não vão “baixar os braços”, continuando a trabalhar “para que os estudantes das academias envolvidas no projeto académico tenham cada vez mais voz”.
Gonçalo Andrade, estudante da UTAD, referiu que estar presente nesta manifestação “foi um ato de bravura, de luta e de resistência de todos os estudantes, perante as classes dominantes” que têm governado o país nos últimos anos.


Gonçalo destaca que, através deste protesto, se afirmaram os “anseios, preocupações e dificuldades” dos estudantes e foi exigido “que se cumpra o Portugal de abril” e a Constituição da República Portuguesa, onde são consagrados os valores “do Ensino Público, Democrático, Gratuito e de Qualidade”.


O jovem reforça ainda que a Crise Académica protagonizada em 1962 onde os estudantes se “levantaram das amarras de um regime fascista” para manifestar “os seus direitos” abriu portas à Revolução de Abril.


Portugal está há mais tempo em democracia do que esteve em ditadura


No dia em que o período em democracia ultrapassou em um dia o período da ditadura protagonizada pelo Estado Novo, o estudante salienta que apesar de termos uma “democracia mais velha que a ditadura”, ela tem de ser a mais jovem porque a “juventude vem com a renovação diária do que resultou do 25 de abril de 1974”.


Uma marcha que não deixou indiferente quem com ela se cruzava, acabou por ter um momento musical protagonizado pelos estudantes da UTAD que realizaram uma serenata a uma idosa que se encontrava à janela, interpretando a clássica “Menina estás à Janela”.


Na escadaria da Assembleia da República houve lugar para alguns discursos de representantes das associações de estudantes e académicas.


A manifestação terminou com um minuto de silêncio em homenagem a Cesário Silva, presidente da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), falecido no passado dia 12 de março, num acidente de viação e a atuação do Grupo de Fados e Guitarradas da Secção de Fado da AAC, ao interpretar “Capa Negra, Rosa Negra”, música intervencionista.

Carlos Cardoso

Imagem: Rui Pinto