Sabe-se quando tudo começou, mas jamais saberemos quando poderá terminar. O fim da vida de muitas pessoas foi presenciar o fim dos seus e da própria nação.
Camões, esperançoso, ainda acreditava que “todo o mundo é composto de mudança” e que esta se apresentaria através de “novas qualidades”. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas as mentalidades, cá estão, cada vez mais pequeninas. E as “qualidades” que o escritor mencionava é que parecem ter pouca qualidade.
Para perceber esta guerra não precisamos de ser ucranianos, precisamos apenas de ser mais humanos. Trata-se de “perceber” através de empatia, porque de compreensão é inútil. Aliás, não adianta sequer tentar perceber algo que admite pôr em risco um país. Nada justifica a perda de vida humana.
As sirenes voltaram a tocar. Já não se sentia assim nada deste calibre no coração da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo um especialista em operações militares, major-general Agostinho Costa, a ameaça nuclear poderá ser, para já, “bluff”, mas mesmo assim “faz parte da equação”. Uma coisa é certa, o povo ucraniano já venceu a batalha da comunicação. No entanto, Agostinho Costa adiantou ao jornal Publico que a vitória militar é improvável, visto que “não se ganham guerras sem superioridade aérea.”
Putin ainda nem tinha invadido a Ucrânia e já tinha feito um discurso em que, implicitamente, negava aos cidadãos a sua condição humana. A violação dos direitos humanos começou nas suas palavras e neste momento já vai em crimes de guerra.
Para Álvaro de Vasconcelos, fundador do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais de Lisboa, recorrer à “violência extrema” é sinónimo de “desumanizar o adversário” e isso é o que “fazem todos os ditadores”.
A 24 de fevereiro, o presidente ucraniano, sem mãos a medir perante os primeiros ataques da Rússia, vê-se obrigado a anunciar a aplicação da Lei Marcial, forçando assim todos os homens entre os 18 e os 60 anos a permanecer no seu território com a finalidade de o salvaguardar. Estes cidadãos assumem as suas posições e a partir daqui tudo atingiu proporções impensáveis. E que não se pense que estes homens são os heróis. São apenas vítimas da lei que os define como um escudo de proteção humana. Heróis fazem-no de forma voluntária. Estes homens são vítimas, precisam de apoio longe daquele caos. Heróis nunca poderão ter nada a perder, mas que não se pense também que, por isso, o Putin é um herói. Aliás, o sr. Putin é só um cobarde descompensado e ganancioso com poder de manipulação. A artilharia e a aviação russa desmedida têm destruído tudo aquilo que nunca terá uma reconstrução, a paz e harmonia de um país.
Estamos todos a assistir, uns com mais limitações do que outros, mas até os próprios russos são contra este cenário caótico, portanto, deixemos de lado a ideia de que são “todos farinha do mesmo saco”. Putin pode mandar prender inocentes e ativistas, pode censurar informação dentro do próprio país, mas recordemo-nos que esta é uma guerra na era das redes sociais e todos temos essas armas em nossa posse. No entanto. que tenhamos também a responsabilidade de que aqui circula todo o tipo de conteúdo e que grande parte dele foi feito para ser viral, e não verdadeiro. Há que se perceber o que se vai partilhar antes de realmente o fazer. A propósito deste tema surgem outros tantos conflitos: “aquela só publica fotos na discoteca enquanto os outros estão em guerra”. Não, não são os outros que estão em guerra, somos todos nós. Direta ou indiretamente estamos a sofrer consequências.
Que nunca fiquemos de braços cruzados, mas que não nos esqueçamos de viver as nossas vidas, enquanto o podemos fazer. Até nos bunkers na Ucrânia ainda se conseguem ver sorrisos.
E se estamos sentados no sofá, então que tenhamos o direito e a possibilidade de nos informar da forma mais correta. E se nos queremos sentir um pouco mais úteis, que ajudemos de outras formas, nomeadamente através da doação de bens essenciais. Assim, cumprimos a nossa parte. Já a “ajuda” de grandes empresas e organizações rege-se pela aplicação de sanções. Gradualmente, os russos estão a ser postos de parte, quer a nível financeiro como desportivo. O mundial de voleibol, por exemplo, já não será realizado na Rússia e o Festival da Eurovisão também já assegurou a exclusão deste país.
Do outro lado temos o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo que responde a Biden que a “única alternativa” de resposta às sanções implementadas seria “uma guerra nuclear devastadora”. Ainda assim, os canais da diplomacia mantêm-se sempre em aberto.
Bolsonaro, apontou também o dedo a Zelensky, dizendo que o seu povo tinha no comando um comediante. Irónico, saber que até para o humor há limites, mas para a guerra a conversa é outra.
Continuamos todos a assistir, mas porquê que mais nenhum país atua diretamente? Simples, o artigo 5º da NATO menciona que qualquer ataque a um dos países membros será considerado um ataque a todos os membros. No entanto, não é assim tão simples, é bem mais complexo, tendo em conta que a Ucrânia não faz parte da NATO e os países neutros já não são assim tão neutros.
Ganha-se uma guerra, perdem-se milhões de vidas. Há quem diga que isto parece não ter fim, mas eu, infelizmente, acredito que o fim chegará aquando da desmilitarização total das forças ucranianas.
Senhor Putin, sente-se na mesa das negociações, tome uma dose de noção e repense neste conflito armado.
Inês Monteiro